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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

02
Abr06

A POSTA NO FUNGÁGÁ DA BICHARADA

shark
no brain.jpg(fotos de bovinos/as indisponíveis por ruptura de stock)

Os bovinos, como a testa indica, são animais que adoram marrar. Mesmo quando tal ímpeto se revela desastroso, como popularizou a frase que inclui o comboio de Chelas. Podem manter-se em sossego no pasto e ninguém dá nada por eles. Mas a qualquer momento soltam bramidos de redondel (como se um par de bandarilhas lhes tivesse sido cravado no dorso) e ala que aí vai bife a galope pela planície, mesmo sem pretexto que o justifique.

Por isso mesmo, ninguém pode fiar-se no seu ar de ruminante pachola e qualquer campino em início de carreira sabe de antemão que deve evitar a cor vermelha que tanto lhes assarapanta os cornos.

Apesar do horror que tal espectáculo inspira aos amantes dos animais, os bois adoram touradas. Isto porque é na arena que muitas vezes conhecem a chocalheira da sua vida, a fêmea que nunca ousariam sonhar e lhes aterra na vista como um euroboizões caído do céu. Sentem-se uns príncipes, cada vez que a sua memória fotográfica lhes reporta a imagem da bezerra que algures os beijou e assim os transformou (na sua mioleira desengonçada) em bichos dignos da melhor faena. E assim se esforçam por impressionar as tetas da sua eleição, arriscando umas picadelas na picanha, ao enfiarem o focinho a eito nas pegas que, de caras, não são as suas.

Acabam pegados de cernelha, coitados, agitando as hastes (de que muito se orgulham, pois a BSE banalizou as loucuras das cornúpetas) como baratas tontas. São, afinal, vítimas de uma impulsividade ancestral que caracteriza a espécie e os arrasta invariavelmente para corridas de merda em praças de segunda categoria.
Nem assim despertam para o final programado num rodízio qualquer. Acreditam-se paladinos e revolvem os intestinos em busca da marrada mais fina, à antiga portuguesa, confundem-se com os cavaleiros que os lidam e roçam os cascos no pó armados em matadores.

O perigo para estes animais de porte tão majestoso é embicarem para o capote sem lhe poderem depois sacudir a água que metem pelo caminho e lhes ensopa o pelo por tabela.

É que o signo de um touro é acabar no prato de alguém. E quanto mais bravo se volteia, mais depressa lhe trincham uma costoleta. Ou um naco do acém…

(Nota do autor: se depararem com alguém a ruminar de forma prolongada este texto em busca de algo mais que não uma conversa acerca de quadrúpedes propriamente ditos, digam a esse alguém que pare de olhar para o palácio, sff)

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