20
Mar06
CHINA GIRL
shark

(Ainda) Não conheço blogue algum que seja um tratado da literatura contemporânea. Nem é isso que se exige a um blogue, feito por pessoas sujeitas a um dia-a-dia normal e que nem sempre estimula a criatividade e/ou a inspiração.
A malta não anda pela blogosfera em busca da reencarnação virtual do Pessoa ou da Florbela Espanca. Gostamos de postas bem esgalhadas, em português escorreito e tal, mas o que procuramos é um não sei o quê, um momento, que faz sentir que valeu a pena gastar o tempo a ler o que alguém concebeu para, literalmente, nos oferecer.
Um blogue bem escrito pode ser uma seca, tal como um blogue escrito com os pés pode primar por um sentido de humor e uma abordagem de tal modo criativa que um gajo não deixa de por lá passar. Falo na perspectiva do visitante, claro, que o somos todos ou esta merda toda fechava as portas.
Daí, vagueio como os outros pelos linques que vou coleccionando por este ou aquele motivo e na maioria das vezes a montanha pariu um rato e levo a banhada (como pode acontecer a quem aqui aterra).
Contudo, e felizmente existe um contudo, esta massa anónima de escribas (comunicadores/as) compulsivos/as possui o condão de se transcender em rasgos que considero geniais. Pelo ritmo, pela ideia, pela pica que transparece por entre as palavras que até se comem umas às outras para ver qual brilha mais num conjunto feliz.
Essa pica de que vos falo é, no meu entender, o motor das maiores realizações que tenho encontrado nesta comunidade (maioritariamente) de amadores como eu.
Qualquer que seja o tema, qualquer que seja a abordagem. Quando um blogueiro ou uma blogueira ataca o teclado com aquele killer instinct do agora é que é, levam com um naco de prosa nas beiças que até manda ventarola temos posta das boas.
No caso em apreço, que move este meu gesto de puro reconhecimento, trata-se de uma blogueira. China Blue, do Sociedade Anónima. Kit do Enconanço Perene, o texto. É uma filha da mãe de uma posta das que eu idolatro, das que me agarram a esta cena como uma lapa.
Não faço a coisa por menos, saturado que ando de uma falta de originalidade e de pica que também neste charco se faz sentir. É que a parte fixe desta cena reside precisamente no entusiasmo com que a malta se senta à frente do monitor pelo gozo da escrita, pelo prazer da comunicação com palavras que exprimem ideias ou retratam a nossa perspectiva acerca de uma treta qualquer.
E nem me armo aos cucos a dissecar as reais intenções, a motivação ou essas porras que cada um sabe de si e quem lê, por regra, não percebe um boi.
Falo apenas do prazer e do talento de quem escreveu, oferecido de bandeja a quem quiser ler. Neste contexto, estou-me a cagar para as teorias implícitas ou explícitas que cada um pode sempre extrair do que os outros (as outras) debitam na sua prosa.
E recomendo, sem hesitar, a leitura sem preconceitos (nem outras merdas que só atrapalham), just for the fun, de uma posta como há muito não encontrava.