05
Mar06
A POSTA QUE FIZESTE MAL
shark

Perdi o meu telemóvel. Foi a primeira vez que tal me aconteceu. E pensei, passarinho, que se alguém o encontrasse aguardaria que o proprietário tentasse ligar para combinar a devolução do equipamento. Contudo, nem dez minutos após o desaparecimento do meu Nokia da bolsa de cinto que o deixou escapar por um erro de concepção (uma ranhura absurda, maior do que o telefone), já o(a) feliz contemplado(a) havia retirado o cartão para proceder à apropriação do achado que roubado não foi.
Lá se foi a agenda (que não conservo em lado algum), lá se foram mensagens que guardava há meses por as entender especiais, lá se foi o meu principal instrumento de contacto com o exterior. Não porque perdi a merda de um telemóvel usado e cheio de macacoas, mas porque quem o encontrou preferiu a baixeza de carácter à opção melhor.
Não há limites para a degradação que a ganância provoca nas pessoas mal formadas, de mau fundo, inferiores.
Cegam a quaisquer valores que não os de um extracto de conta, de um registo de propriedade ou de uma caderneta predial. Ou a merda de um telemóvel perdido por alguém, uma fortuna
Nem me tenho por moralista e a minha vida desregrada fala por mim nesse particular. No entanto, não consigo pactuar com as manifestações mesquinhas da mediocridade global. Parece que é normal agir de forma errada, ignorar os escassos princípios que nos distinguem dos restantes animais, os tais que condenamos à extinção por se colocarem no caminho da economia mundial.
Confesso que não considero normal, nem correcto, exercer a vingança. Porém, abdiquei há muito da perfeição como objectivo. E sei que na vizinhança ninguém possui um telemóvel com as marcas do meu, que já enviei contra uma parede num acesso de fúria.
Essas cicatrizes particulares, e ficarei atento a todos os equipamentos similares, acabarão por denunciar quem se apropriou de algo que não é seu.
Podem ter como certo que no dia a seguir, essa vergonha com duas pernas já se arrependeu.