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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

22
Fev06

THIS SIDE UP

shark
espelhador.JPGFoto: sharkinho
Se não passas de uma ilusão, a imagem da perfeição foi replicada e encontra-se espelhada no reflexo de ti ao alcance do meu olhar. Nesse engano que assumirei, de amar uma miragem, agarro a vantagem que me é concedida. A consciência adormecida, a ignorância bendita que me embala num sonho de que não quero despertar. Na desdita dos iluminados está o descuido no pormenor que faz toda a diferença, a escassa maleabilidade necessária para distinguir um mero golpe de vista de uma observação atenta.

Defeitos invertidos, virtudes aos olhos de quem usa o coração para filtrar as impurezas. Porque todas as certezas são produto da imaginação. Não passam de opiniões, de visões subjectivas a partir de um ângulo enviesado pela nossa percepção.
É difícil de perceber, assim à primeira vista. Pois é.
Mas também as palavras podem estar inquinadas com a mesma deturpação. Como imagens distorcidas pelo efeito da ondulação num lago sereno. Invertidas também, para salvaguardar a fantasia da vingança feroz da realidade como a vemos nesta vida apressada. Gente condenada a passar ao lado daquilo que interessa.

E a única pressa com justificação é a de abraçar essa ilusão que tu sejas e que tudo aquilo que desejas seja eu, mesmo de pernas para o ar. Como uma tartaruga, indefeso perante a tua perspectiva, vulnerável à tua decepção. Prisioneiro dos mesmos anseios, marinheiro de água doce no meio de uma borrasca de interrogações, preocupações sem sentido algum. Porque a vida faz-se mesmo assim, arriscada. É uma viagem sem rumo, ponto de partida aleatório e final da corrida sem hora marcada.

Navegamos à bolina e podemos abdicar do sentido de orientação.
Descobrir em cada porto de abrigo um oásis, em cada amor sentido uma marca tangível no mapa das nossas emoções passadas, presentes e futuras, sem medo de nos perdermos pelo caminho que nem sabemos para onde nos levará.

Por isso te absorvo com sofreguidão, realidade ou ilusão, feita no céu, perfeita como gosto de te ver.

E eu vejo-te assim.
Estás cartografada em mim.

Upside down.
21
Fev06

PUZZLE

shark
puzzle1.jpgaqui

um post em que peças soltas, encaixadas aleatoriamente, compõem uma imagem final.

Desato-me. Abro pontas e desfaço nós e desenho laços. Levanto-me. Ergo os braços e agradeço a luz. Passo o rosto por água, prendo o cabelo, pinto risos no olhar. Desejo-te. Visto saudades e estico as mãos à procura da ponta dos teus dedos. Abraço-me, no regaço que te guarda. Toco cordas de alegria. Alimento vozes de magia, palavras de encanto. Gosto-te. Escrevo rascunhos em pedaços de papel que deito fora. Leio-te. Corro as cortinas, estico os lençóis. Adormeço devagar. Sobreponho, peça a peça, os momentos que fizémos a dois. Subo a escada. Bato-te à porta. Desato-te. Desfaço o enguiço. Abro, um a um, os botões da penumbra que te cobre. Solto o cabelo. Sorrio. E beijo-te.

Mar
20
Fev06

MAPA DE MIM

shark
cegueira.JPG
Percorro um caminho feito de estranhas coincidências e de surpreendentes revelações. Como se esse caminho fosse sendo construído por antecipação, não necessariamente por entidades divinas ou superiores (mas também, se calhar), para definir o traçado que me compete seguir.
E eu limito-me a agir, marioneta, ao sabor do terreno que me dão a pisar. Retalhos de informação, o asfalto, que o cilindro de intenções alheias calca para conduzir os meus passos e definir os meus traços, a minha conduta e a minha disposição.

Mando pouco, afinal, no rumo que defini. Ou julgava. Porque afinal apenas andava como um cego perdido no meio de um deserto qualquer. E continuo sem ver. Tacteio com os pés o caminho que alguém se predispõe a construir, só para mim. Sorriso palerma, como uma foca agradece a recompensa pelos seus malabarismos circenses, finjo que sei pensar e nunca atinjo o verdadeiro alcance das pistas que me dão. Ou que descubro sem querer.
Tropeço nas pedras soltas deixadas ao abandono nas margens do leito seco de um rio que passou, negligências, espalho-me ao comprido e levanto-me outra vez.

O acaso mal explicado e o mistério adensado que não consigo vislumbrar na escuridão da cegueira.

O que me cega é a luz do amor.
20
Fev06

UM DIA COM O ZECA - 23/02/2006

shark
zeca5.jpg
O Troll Urbano está na origem de mais uma manifestação desta esquerdalha que não consegue deixar cair os seus figurões. Por mais que a malta os tente achantrar, insistem nestas tretas.
E um gajo, por simpatia e delicadeza, acaba por alinhar. Nem se pode dizer que a gente aqui no charco acredite nessas coisas...

Agora a sério: no dia 23, vamos seguir este belo exemplo e homenagear o ZECA e tudo aquilo que ele representa.
O Charquinho adere e até se trata de uma estreia (nunca demos música propriamente dita).
Vamos nessa?
18
Fev06

ASPIRINA X

shark
tem bicho.gif
Como referi duas postas atrás, estou engripado. E os sintomas estão assanhados o bastante para um médico me receitar um antibiótico.
Questionar o critério de um médico é algo que só concebo quando é evidente o engano (sempre possível) nas suas opções terapêuticas. Nem deve ser o caso, mas parece-me que prefiro confiar na capacidade das minhas defesas naturais para combater o bicho que me entope as guelras. E explico porquê.

Tenho o péssimo hábito de ler aqueles papéis com letrinhas muito pequenas que os laboratórios farmacêuticos fazem, por gentileza, acompanhar os seus produtos. Chama-se posologia, ao que sei, e contém a informação que se julga necessária para todos sabermos que raio de mistela estamos a enfiar pela goela. E sempre que leio este manancial de informação desencadeio em mim uma reacção alérgica. Tomem nota, por favor, do que o laboratório que fabrica o antibiótico que me foi receitado inclui num parágrafo a que dá o título “possíveis efeitos indesejáveis”.
A itálico destaquei as “panaceias” para dourar a pílula e a onda “ok, este faz mal. Mas os outros não são melhores”.

(…) Foram observadas, embora com uma escassa incidência, manifestações digestivas, perda de apetite (anorexia), náuseas, vómitos/diarreia (chegando a causar de forma excepcional desidratação), fezes soltas, incómodos abdominais (dores/cólicas), obstipação, flatulência, colite pseudomembranosa e, raramente, descoloração da língua.
Em alguns doentes, com doses elevadas e durante períodos de tempo muito prolongados, observaram-se alterações da audição que na sua maioria desapareceram quando se interrompeu o tratamento.
Em alguns doentes observou-se, de forma excepcional, alteração no paladar.
Em alguns doentes observaram-se casos de alterações das funções hepática (raramente graves) e renal.
Observaram-se casos de tontura/vertigem e convulsões (tal como sucede com outros antibióticos deste grupo), assim como dor de cabeça, sonolência, formigueiro, hiperactividade, reacções de agressividade, nervosismo, agitação e ansiedade.
Em ensaios clínicos foram observados, por vezes, episódios de neutropenia ligeira transitória (diminuição do número de glóbulos brancos), embora não se tenha estabelecido a sua relação causal com a Azitromicina, e de trombocitopenia (diminuição do número de plaquetas).
À semelhança de outros antibióticos, foram comunicadas reacções do tipo alérgico, em raras ocasiões de carácter grave, em doentes tratados com Azitromicina.
Foram comunicados casos de alterações cardíacas (tal como sucede com outros macrólidos), embora não se tenha estabelecido uma relação de causalidade com a Azitromicina.
Excepcionalmente apresentaram-se reacções cutâneas graves.
Foram comunicados casos de astenia (cansaço) mas não se estabeleceu a sua relação causal com a Azitromicina, assim como de infecções por fungos, dores nas articulações e vaginites.

Eu estou constipado, porra! E este mal já conheço de ginjeira.

Sinceramente, doutor: Prefiro morrer da doença.
17
Fev06

SINAIS DO CÉU

shark
he saw delight.JPGFoto: sharkinho
Aqueles de entre vós que já sentiram na pele ou observaram alguém a lidar com uma cólica renal não precisam de mais palavras para perceberem como tem sido este meu dia desde as cinco da matina.
De resto, já ontem à tarde me vi obrigado a "meter baixa" por causa da primeira (e assanhada) gripalhada de 2006.
As forças combinadas destas maleitas, pelo cruzamento dos efeitos, deixam um gajo completamente feito num harmónio.
A puta da vida está a dar-me conta do astral. E um gajo precisa de desabafar estas coisas, pois o desabafo liberta e eu não tenho tendência para me deixar aprisionar pelas circunstâncias.

Por outro lado, em cada momento aziago abre-se uma porta para a beleza, para a força, para o privilégio dos dias melhores. Como a foto acima, que hoje tirei no meu terraço depois de regressar das urgências do CUF Descobertas, bem o demonstra.
Um sinal do (no) céu, como se o sol quisesse mostrar-me como se faz para contrariar as nuvens que insistem em nos toldar a perspectiva, em nos taparem a vista para as maravilhas que a realidade pode oferecer.

A dor não me cegou. E esta posta é o testemunho que vos dou, a minha mensagem de esperança e de força para lutarem contra as condições adversas que, cedo ou tarde, acabam por desaparecer do horizonte.

A natureza percebe muito destas coisas... :)

Bom fim-de-semana para todos vós!
15
Fev06

ANOTAÇÕES

shark
notebooks.gif

Conservo, de forma mais ou menos organizada, quase todas as agendas e cadernos de notas que fui usando ao longo destes últimos anos, no exercício de funções profissionais.
É claro que isto - no meio da desorganização geral como forma normal de funcionamento - significa encontrar de vez em quando e por acaso, nos sítios mais inesperados, os referidos objectos de assentamento de notas e compromissos e assuntos muito, pouco ou nada urgentes e também aqueles classificados na categoria de "o tempo há-de resolver". Ou ainda os ininteligíveis, do tipo "55, hoje, ouvir** ////". Assim mesmo.
Aconteceu há poucos dias, no decurso de uma limpeza mais metódica a algumas divisões da casa, reaver um conjunto de volumes de capa encadernada a exalar ainda um suave aroma a couro, outros de cartão semi-roído nas pontas e com folhas desirmanadas a desprender-se das argolas e ainda alguns quase intactos, com apenas uma ou duas anotações nas primeiras folhas, brancos e inocentes, à espera de registar um rol de obrigações inadiáveis que nunca chegaram a acontecer.

Gosto de ter estes registos dos meus dias passados.
Gosto de saber que, no dia 4 de março de 2001, por exemplo, tive que ir a uma consulta - dentista - violeta, com a menina dos meus olhos. Gosto de imaginar - porque não me lembro dos detalhes, porque normalmente não relembramos estes minutos e horas de vida de actividade "normal" - que a apanhei à saída do jardim de infância, cabelos a voar e dentes de leite, e partilhámos juntas a experiência registada. E depois fomos comer um gelado.
Ou que, outro exemplo, no dia 25 de Setembro de 1999, participei em mesa - abertura - sessão, de uma das milhentas comemorações de todo o tipo de efemérides nas quais tive que estar presente, por via das responsabilidades profissionais.
Gosto de relembrar ocasiões, tantos anos depois, dias felizes, outros nem tanto, através destas notas registadas por mim em folhas e folhas de diferentes cores, tamanhos e texturas, de perceber, à distância, a verdadeira dimensão do que, naquele momento, parecia ser o assunto mais importante ou inultrapassável do mundo. Dívidas e obrigações e urgências e lazeres, preservados em gradientes diversos de tintas azul ou preta ou verde ou lilás.

Guardar estes cadernos, faz-nos perceber o quão relativas são as nossas maiores preocupações do momento. As horas que gastámos e desgastámos a tentar encontrar soluções para um problema que, visto à luz de 4 ou 5 anos que já lhe passaram por cima, se afigura até, vagamente ridículo. Como a impreterível data marcada para tratar do IRS, a obrigatória presença na importante reunião de negociação de um protocolo, a inadiável deslocação a um fogo devoluto a precisar de obras e que, entretanto, ostenta hoje um telhado novo e reluzente. Faz-nos questionar as prioridades que vamos definindo, muitas vezes empurrados por uma conjuntura que não nos deixa outra saída.
Conservar estas memórias escritas, ajuda-nos a reencontrar r a pessoa que fomos e a avaliar o que mudámos entretanto. São como que fotografias de rotinas que tivémos, como os círculos marcados no interior do tronco de uma árvore, que representam eras distintas de uma vida. São pedaços de quotidiano que reavemos quando abrimos ao acaso uma agenda ou bloco de notas antigo.

São momentos de nós. Pedacinhos de um caminho.

E o que é giro é perceber que, depois, há aquelas memórias, registadas no disco rígido das emoções, que não necessitam de qualquer apontamento escrito.
Estão sempre ali. Simplesmente.

Mar

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