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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

11
Fev06

(I)MORTAIS VIRTUAIS

shark
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Confesso que nem sei por onde pegar, embora já esteja a escrever esta posta.
Descobri hoje a morte (anunciada numa caixa de comentários) de uma senhora blogueira, a Joana, do Semiramis.
E não sei por onde pegar. Se pela realidade (aparente) do óbito da alegada mãe de duas crianças e uma das mais respeitadas colegas desta nossa comunidade. Se pelo fim do Semiramis, inerente ao desaparecimento virtual e/ou físico da sua autora. Se pelo surrealismo da caixa de comentários da que terá sido a sua última entrada no blogue.
Talvez pegue pela morte propriamente dita, no contexto desta nossa vida virtual.
Parece-me que a Joana, viva ou morta, não gostaria de estar na origem de falatório póstumo.

A única forma de quem nos conhece na blogosfera saber que morremos é existir um contacto pessoal, real, entre quem bloga. E mesmo assim, só quando um blogueiro dá conhecimento desta actividade a alguém próximo é possível sabermos se um blogue interrompido sem anúncio já serve de epitáfio a um defunto qualquer.
É macabra, esta conclusão. Mas o teor dos comentários de despedida no Semiramis ilustram bem o quanto é realista a minha conclusão acima.

A morte virtual é frequente neste meio. De repente, desaparece um nick e ninguém mais sabe do seu paradeiro. Ocorre-nos logo que a pessoa por detrás do nick apenas se fartou desta cena ou decidiu investir numa nova identidade para poder recomeçar a partir do zero. Algo que já me ocorreu, quando me liquidaram o anonimato, e que está ao alcance de qualquer um(a) de nós.
Contudo, morrem pessoas todos os dias. E algumas blogam. Ou blogavam, mas nós, os restantes, não o sabemos. Limitamo-nos a deixar cair as visitas após um período razoável sem sinal de vida no blogue.

Mas a morte analógica é um bico de obra nesta nossa comunidade. Não só porque não temos tempo de fazer uma posta de despedida em condições, para esclarecimento da malta, para evitar a especulação que, às tantas, resulta na mais pura imbecilidade ou mesmo na indecência, mas porque um blogue individual é como um apartamento que ocupamos sozinhos. Se não nos damos com os vizinhos, só dão pela nossa falta quando a putrefacção do cadáver por actualizar se torna insuportável.
O problema é que num blogue não existe quem possa arrombar a porta para verificar a explicação para a ausência e conceder-nos um enterro virtual em condições.

Não estou, e leiam com atenção, a parodiar o tema. Muito menos com base numa verdade que, embora meio ambígua nesta altura, pode vir a confirmar-se indesmentível. A nossa existência analógica conhece sempre um fim, pois nem que seja no Ministério das Finanças, alguém dá pela nossa falta. Aqui não. Deixamos de blogar e todos presumem que deixámos de blogar. Não lembra a ninguém que uma embolia pulmonar ou outro imprevisto qualquer possa ter-nos privado de apresentar os cumprimentos de despedida que tantas vezes acabam por prenunciar apenas o nosso regresso, algum tempo depois.

Neste sentido, o isolamento pode tornar-nos imortais na blogosfera. Mesmo depois da missa do sétimo dia ainda haverá quem nos comente, quem nos insulte, quem nos desafie para a conversa. E se tivermos um blogue gratuito, podemos ficar presentes nas nossas palavras e na nossa existência virtual (teoricamente) para sempre…

O Semiramis foi um dos fenómenos mais notáveis da blogosfera portuguesa. Um dos indicadores mais claros está aqui. Os outros estão lá para quem os saiba apreciar.
Era a Joana quem o fazia e deixou de o fazer. O blogue morreu? Talvez sim, talvez não, depende de uma série de factores.
O mesmo, pelo que me é dado constatar nesta montra colectiva que nos expõe o talento e boa parte daquilo que nos faz gente, aplica-se à sua autora, uma inteligência fora do vulgar e um estilo de escrita quase irrepreensível.

Mas no mínimo aplica-se à grata memória que aquele nick (aquela pessoa) nos deixou, no seu registo digital.
A confirmarem-se (ou não) os piores rumores…

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