10
Fev06
PRIMEIRA LUZ
shark
Queria recebê-la como uma gueixa, ele a japonesa delicada, dedicada em exclusivo ao prazer de outra pessoa, ela a amante cuja falta sentia, o desejo que crescia na pressão sobre os botões das calças a partir do interior.
Servi-la como um escravo sexual, um gigolo deliciado pelo requinte do seu ritual de preparação de um momento de paixão servido numa bandeja de prata. O cuidado no pormenor, pequenos nadas que sabia lhe agradavam, mulher, atenta ao empenho do seu serviçal do amor.
Acendeu as velas quando a campainha soou.
E ela entrou, sorridente, olhar brilhante e expressão encantadora, acariciada pela luz da chama que a iluminava com dedos de cetim. Que eram os dele, afinal, passeando na marginal dos seus pontos G. E a boca a seguir, quando abriu caminho pela gola alta da camisola de lã.
Comprimida contra a parede junto à porta, entregava o corpo às sensações. E ele empurrava os seus contornos adiante, exibia potente a vontade alimentada pela espera, uma saudade descontrolada como a de um ex-presidiário transformado numa fera pelo apetite voraz.
Sabia-se capaz de a levar à loucura.
Desapertou-lhe as calças quando o primeiro gemido ecoou.
E ela tombou sobre o tampo da mesa, ladeada pelos castiçais, pernas nuas abertas de par em par como janelas para outro mundo, numa galáxia dos confins do universo que ele lhe oferecia. Veludo em brasa, aquela língua que a transportava em berço de ouro forrado com algodão. As mãos que ajudavam, como damas de honor, espalhavam sobre as suas pernas o toque suave das pétalas de flor.
A loucura chegou.
Enquanto ainda vibrava de excitação, sentiu-o erguer-se. Ele olhou-a. E o seu olhar transpirava confiança quando, com gestos lentos e cuidados, lhe juntou as pernas, beijou-lhe os joelhos e a rodou.
Deitada de lado, pernas unidas, recebeu-o em si com evidente satisfação que não tentaria ocultar. Apetecia-lhe gritar, a cada investida que o acrescentava mais um pouco, pedaço a pedaço, naquele espaço incandescente que o acolhia como uma esponja molhada e macia, como um abraço apertado dos que se dão por amor. O que ele lhe fazia, calmamente, mãos cravadas numa anca e nas nádegas como tenazes feitas de caxemira. Suaves como seda, firmes como betão.
Boca esmagada contra um braço para abafar o grito que soltaria pelo ar como um bando de aves canoras, manifestações sonoras de uma alegria difícil de conter, música bailada no céu.
Só então ele parou.
Ajoelhou-a numa cadeira, virada de costas para si. Beijou-lhe a nuca e sussurrou-lhe palavras ininteligíveis, desvarios de homem imparável na jornada que só daria por acabada quando a possuiu com ardor. A pose de conquistador, possante. O ritmo alucinante de uma concretização ansiada, de uma medalha dourada para o campeão do amor.
Queria ser o maior, o único à altura daquela deslumbrante criatura que sentia como sua quando finalmente mordeu os lábios para cerrar a boca, para conter o ruído da explosão que acontecia enquanto ela sorria, realizada, pela pista deixada do prazer que retribuiu. Sentiu-lhe o calor que jorrava no interior do corpo e da alma, em simultâneo. Ao mesmo tempo que as réplicas do terramoto anterior a sacudiam em espasmos de tentação.
Ele deitado no seu regaço e ela dobrada num abraço, imagem privada que ninguém poderia ver.
Porque a segunda vela apagada, esgotado o pavio, deixaria a sala às escuras.
À espera da primeira luz de um novo amanhecer.