Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

28
Fev06

SOB AS ESTRELAS

shark
Vejo-te a toda a hora, em qualquer lugar. Em cada momento um sinal para me lembrar da falta que me fazes aqui. Em cada instante a saudade, a ternura que me inspira cada imagem recordada dos dias felizes a dois.

Sou feliz por te possuir, também, nas minhas recordações. Lembro-me do sorriso que me ofereces de manhã, ao acordar, e dos beijos que me vestes na pele impregnada com o teu cheiro que não consigo (nem quero) deixar de sentir.

Lembro-me ainda das conversas serenas sob as estrelas, no balcão da sala de espectáculos que o mundo nos ofereceu.

Nunca esquecerei cada um dos dias em que me fizeste sentir o mais amado dos homens.
27
Fev06

(MÁS)CARAS

shark
17_01_mascaras.jpgaqui

Interrogo-me aonde quererá chegar toda esta gente.
Quantos silêncios existem atrás de cada rosto?
Do lado de fora sorriem, movem os lábios. Andam como um grande rebanho abandonado no cimo da colina, que já náo sabe o que fazer (...)
Todos são peças dentro desse conjunto a que chamam "massa": a família, a povoação, a colectividade.

É preciso assumir demasiadas máscaras para se integrar no conjunto e, quando alguma coisa falha, dá-se o caos.

Karla Suarez, in Os Rostos do Silêncio


Lembraste-me, com as tuas últimas postas, este excerto, que fixei particularmente, de um livro cru e objectivo, a partir da visão de uma mulher analítica. Desassombrada, sem paninhos quentes no que toca a retirar conclusões sobre a vida.
Por vezes, na grande maioria das vezes, é assim que sinto as pessoas e o mundo.
Praticamos variações de nós próprios, consoante o rebanho ou matilha em que nos integramos para prosseguir determinado objectivo.
O rosto profissional umas vezes, noutras o rosto de vizinho, de amigo, de pai ou mãe, de passageiro do banco ao lado, ou então o rosto de líder, de subordinado, de amante, de amado.
É o preço da sociedade, que nos torna actores.
Os melhores vivem várias vidas numa só e, às vezes, até se safam.
Os outros, que gostariam de não ter que afivelar, tantas vezes com cola de fraco poder, tanta máscara distinta e que optam por não o fazer, são olhados de lado, peças fora da engrenagem, alvos de suspeição e temor. São originais de ser humano, esses. Reversos do verso aceitável. Côncavos do convexo impresso no molde. Felizes, simplesmente.

Mar
27
Fev06

A POSTA CARNAVALÓGICA

shark
faz de conta.JPGFoto: sharkinho
A tolerância e a compreensão constituem requisitos fundamentais para consolidar qualquer tipo de relação. Não é novidade para ninguém. Contudo, multiplicam-se os exemplos de ligações que terminam por via da incapacidade da maioria das pessoas de flexibilizarem os seus critérios em função das circunstâncias, do contexto em que as reacções dos outros se manifestam.

Fazemos tábua rasa dos problemas alheios, quando temos que avaliar as atitudes menos correctas com que nos confrontam. Ignoramos os estados de fraqueza, a vulnerabilidade que possa estar associada ao gesto que nos cai mal, reagimos sem contemplações.
E tal ímpeto pode constituir uma tremenda injustiça para com pessoas cuja conjuntura pode justificar a conduta que nos desagradou, pelo desprezo que evidenciamos relativamente aos factores de que, quantas vezes, até temos conhecimento.

É nesses momentos que deveriam falar mais alto a amizade e/ou o amor. Porque é fácil estar na boa com alguém que nunca desatina, que mantém uma compostura a todo o tempo exemplar. O que vale uma relação, qualquer relação, mede-se precisamente nos instantes em que testamos a paciência dos outros ou estes nos colocam à prova nessa matéria. É aí que temos a oportunidade de nos distinguirmos da multidão, quer pela forma como nos tratam quer pelo modo como nós mesmos enfrentamos um problema que possa surgir.
Nenhuma relação vale um chavo se nos momentos difíceis não faz qualquer diferença se o “outro” está a enfrentar as sequelas de uma revelação foleira, de uma preocupação justificada ou apenas de um momento mau da sua vida pessoal ou profissional ou ambas.

É na capacidade de termos em conta esses factores, de reprimirmos a “punição” pelos desmandos de quem constitui o nosso núcleo duro de relacionamentos que nos provamos merecedores da estima de alguém. Por fazermos prova da nossa por essa pessoa.
Isto é óbvio e nem deveria ser necessário repetir.
Porém, todos os dias se concretiza mais um divórcio, mais uma ruptura, mais uma separação algures no nosso universo particular. Às vezes toca-nos essa fatia amarga do bolo social, onde na maioria dos casos só existem migalhas de consideração para cada um debicar como pode.
Só mantemos ligações duradouras se nos mostrarmos dispostos a pactuar com todo o tipo de enxovalhos. E desses enxovalhos faz parte a tomada de consciência da nossa real valia para quem nos é próximo.

Relações de merda, afinal, construídas por detrás de fachadas que podem ruir à primeira contrariedade, que sucumbem pela falta de sustentação. Os alicerces frágeis, assentes em terreno desequilibrado, afundam-se na areia movediça do faz de conta. Faz de conta que gostamos imenso, se tudo correr pelo melhor.
Mas quebra-se o encanto, mal alguém ousa violar o pressuposto da relação sem ondas, fácil, boçal. Mesmo que lhe assista alguma razão para fundamentar uma reacção estapafúrdia.

É assim que se vive nos nossos dias. Paredes presas por arames, sustentadas pela camada de verniz que, por qualquer merdinha, estala e faz desabar o desgosto sobre as carolas de quem investe demasiada esperança na boa vontade alheia.
Somos uma maçada uns para os outros, incapazes de ocultarmos as fragilidades que nos inferiorizam e nos remetem para o lote dos dispensáveis ou supérfluos na agenda do cidadão comum.

Nesse contexto, o Carnaval é uma época perfeita para a sociedade que construímos.
Podemos acrescentar outras máscaras às muitas que o convívio com os outros nos obriga a carregar.

Podemos parodiar a nossa verdadeira condição de aprendizes de camaleão que o quotidiano modela à bruta.
26
Fev06

SEGUNDA ESCOLHA

shark
ao caminho.jpg
Aquele indivíduo metia dó. Via-se encurralado no caminho emocional das outras pessoas e sempre se descobria como uma segunda escolha, uma alternativa aos ideais românticos de quem o abraçava. Uma panaceia.
Aos poucos definhava nessa certeza que a vida lhe dava, de surpresa, nas mais variadas formas. E eu assistia à sua morte em vida, impotente, percebia a dimensão do seu desgosto e a progressiva perda da sua fé, mais em si do que nas outras pessoas.

Ele era um homem que passava a vida a perdoar, deixava-se enganar de propósito para merecer a caridade do amor de alguém. Alimentava ilusões que depois se desfaziam como flores secas e murchas na palma da sua mão. E ainda arranjava maneira de ficar mal visto com essa constatação. Nem lhe perdoavam as conclusões óbvias perante factos impossíveis de desmentir. Preferiam ferir a sua sensibilidade, insultando-lhe a inteligência.

E ele tinha consciência do seu papel de actor secundário na vida das protagonistas de cada filme em que contracenava como palhaço pobre, pobre coitado que apenas colmatava as lacunas como uma simples peça de substituição. Perdia a razão, ou tiravam-lha, sempre que se deixava convencer pelas evidências. Não lhe perdoavam um beliscão na realidade alternativa de cinema mudo que lhe cabia interpretar. Apenas lhe restava sonhar, enquanto aguardava que outros lhe assumissem a função. Metia dó.

Tentei deitar-lhe a mão, enchi-o de esperança. Mas de nada valeu. No seu horizonte adensava o breu e acumulavam-se os episódios que o humilhavam, as conclusões que lhe rejeitavam com base em desculpas sem nexo, esfarrapadas. Eram tantas as evidências que ele nem podia alimentar um sonho em condições, mesmo uma pequena ilusão, de se ver titular na equipa ganhadora em vez de mero suplente num jogo para empatar a solidão.
Nem conseguiam enganá-lo, ocultar-lhe os sinais.

Um dia ele desapareceu. Da minha vida como das de outras pessoas, nem sei se morreu. Por dentro, aposto que assim foi. Ouvi-lhe a amargura em tom de despedida, quando me confessou, cabisbaixo, a sua desistência dos caminhos do amor. O fim de uma carreira menor, por sua iniciativa, antes que ficassem preenchidos os lugares que ocupava de forma indevida. Sabia-se incapaz de competir com o estatuto e o comportamento ideal que outros, os eleitos, assumiam com a naturalidade dos verdadeiros ganhadores.

Ele acabou a perder, vexado.
E carregou para outro lado as mágoas que a vida lhe deu a provar.
26
Fev06

TENHO UMA PENA PARA TE REVELAR

shark
Ontem estive a observar a outra face de alguém. Um alter ego, escondido numa gaveta aberta, camuflado com uma identidade alternativa em modo reverse para afastar os olhos indiscretos das verdades que não podia contar.
Mas precisava. E por isso arriscou deixar aberta a gaveta, na convicção de que ninguém poderia algum dia somar dois mais dois a partir das improváveis coincidências ali expostas.

Nessa outra face, menos politicamente correcta, essa pessoa desabafava o que lhe ia na alma e fornecia explicações para fenómenos que me deixavam surpreso, sem respostas. Como numa imagem invertida de si, um recomeço logo a seguir a um fim. Essa pessoa afastou-se de mim, devo esclarecer, e eu não entendia porquê. Entendi-o agora, nas palavras que me escondeu por detrás de uma porta entreaberta à minha mercê, ao alcance do olhar indiscreto que agora me envergonha.

Exigi demasiado dessa pessoa, reconheço agora. A vida lá fora é um poço de tentações que gera desequilíbrios entre o que queremos e o que conseguimos ser. A vida é uma permanente armadilha para o nosso coração. E a cabeça é que paga, atormentada pelas dualidades que nos minam a consciência.

Arrependo-me de ter, com o exagero da minha pressão, afastado de mim essa pessoa.
E de destruir, pela natureza das revelações que me confrontaram e pela curiosidade mórbida que me amarrou às palavras ocultas, a confiança que nos poderia reaproximar.

É uma pena que a sinceridade seja proibida na amizade.
E até no amor.
25
Fev06

LIGAÇÕES PERIGOSAS

shark
dualidade.JPGFoto: sharkinho
Às vezes as palavras não me parecem as amigas que eu preciso acreditar. Tenho medo da sua má influência, não em mim mas nas outras pessoas. A mim as palavras não fazem mal algum, já aprendemos a conviver com esta relação de dependência, já aceitámos a nossa incapacidade de existir nas respectivas ausências.
As palavras, as minhas, não existem de facto sem alguém que as dê à luz. Sou pai como sou mãe destas reproduções grosseiras daquilo que me faz. Mas também sou o amante que lhes ensina a arte da paixão, que com elas partilha as emoções mais profundas, as fraquezas mais secretas e tudo o que possuo de bom e de mau para exibir.

As palavras crescem em mim e depois apresentam-se a quem as encontra pelo caminho e nem sempre exprimem a minha essência e outras vezes vão longe demais na exposição do que sou. Atraiçoam-me, como górgonas, petrificando a minha imagem ao sabor das diferentes interpretações que induzem.
E por isso receio por vezes as palavras e fujo-lhes a sete pés, viro-lhes as costas, tapo os ouvidos ao seu canto de sereia com que me arrastam para o falatório e me denunciam enquanto homem vulgar.

O meu amor pelas palavras, contudo, também me obriga a acarinhá-las. Rendo-lhes homenagem em cada tentativa de as utilizar de forma adequada, de conseguir conferir-lhes um sentido e uma missão. De as embelezar pela combinação entre si. O amor requer coragem, requer sacrifício, exige entrega e abnegação. Exige a predisposição para arriscar as perdas e as derrotas, os actos falhados e as desilusões, o perigo das revelações que nos humilham.
Mas o amor, mesmo o das palavras, também dá em troca. Nos momentos de felicidade, nas ocasiões especiais em que tudo se conjuga para se aproximar da perfeição. Os textos bem conseguidos, os beijos sentidos, a sensação de euforia que nos invade quando vivemos a ilusão feliz.

Aquilo que se diz e aquilo que se faz, nem sempre em sintonia. Sentimentos confusos e palavras sem nexo que os expõem. Perturbações comuns que se guardam nos jardins secretos do silêncio das palavras que não queremos à solta, por se virarem contra nós nas cabeças de quem as decifra. Ameaças verbais para a nossa intimidade, para a nossa reputação que desejamos imaculada e se vê arruinada pelo efeito que as palavras são exímias a produzir.

Eu amo as palavras.
Mas temo o desequilíbrio imanente na nossa relação (cada vez mais) conflituosa.

Pág. 1/4

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Pesquisar

Arquivo

    1. 2022
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2021
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2020
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2019
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2018
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2017
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2016
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2015
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2014
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2013
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2012
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2011
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2010
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2009
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2008
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2007
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2006
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2005
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2004
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D

Já lá estão?

Berço de Ouro

BERÇO DE OURO