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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

30
Nov05

A POSTA ADITIVA

shark
fora do cardume.JPGFoto: sharkinho
Talvez pudesse ter sido de outra forma, claro. Seria diferente, não necessariamente para melhor. Nunca sabemos se uma opção alternativa traria resultados mais convenientes, apenas especulamos. E por isso mesmo é estúpido interrogarmos a validade das decisões à posteriori.
Tomaram-se, estão tomadas. Bute e venham de lá as consequências da responsabilidade que se assumiu para podermos decidir, mal ou bem, outra vez. Talvez melhor, pois contamos já com a avaliação do que presumimos ter sido um erro e orientamos as coisas em função de não o repetir.

O problema está no impacto das alterações necessárias. Mesmo quando visam fazer melhor o que estava aparentemente mal feito, provocam a natural reacção (alérgica) à mudança de que a maioria padece. É diferente, é desconhecido. Logo, é mau.

Isto a propósito de quase tudo. É este raciocínio que não adia as decisões determinantes mas atrapalha carradas de decisões que não interessam nem ao Menino Jesus. Valha-nos esse benefício. Porque de resto só complicamos o que é fácil à partida, avançar sem medos e com alguma ponderação. Pensar com o coração e submeter o resultado à apreciação da carola, para evitar o trapézio sem rede. Viver depois com o resultado das nossas opções e somar mais um grão à nossa infinda fuga à ignorância original.
O saber de experiência feito, calo no cu do macaco, gato escaldado e essas merdas. Maturidade e tarimba que a vida nos proporciona a cada esquina da nossa imperfeição combatida às cegas, sob os falsos pressupostos de uma educação cheia de equívocos e de castrações.

Mas antes de adquirirmos essa sageza, governamos a vida sob perspectivas menos avisadas.
Tudo isto para partilhar convosco uma conclusão.

Se fosse hoje fazia da mesma maneira.
29
Nov05

A POSTA NO DEVIDO LUGAR

shark
conversa desfocada.JPG
É possível afastar de nós as pessoas por estimá-las (ou amá-las) demais. Soa paradoxal, mas não é. O excesso de dedicação confunde-se num instante com um impulso para a obsessão e tendemos a "abafar" o outro, guiados pelo medo da perda (instinto de posse), o inevitável egoísmo (chamemos-lhe ciúme) mais a onda paternalista tradicional. O outro sente-se manietado, sufocado e tratado como um imbecil sem vontade própria.
Eu sou uma dessas pessoas que insistem em forçar a barra dos que o rodeiam com uma estranha manifestação de excesso de zelo. E isto também se reflecte num elevar da fasquia que torna insuportável o nível de exigência que imponho a quem está próximo. Vale-me apenas o esforço de compensação que a minha entrega traduz, na amizade como no amor, embora nem sempre se revele um trunfo capaz enquanto moeda de troca.

Há quem lhe chame "personalidade forte", mas eu não lhe reconheço essa força nas fraquezas que suscita. Nos resultados finais. Porque afasto os outros como me afasto de mim. Forte é uma personalidade equilibrada, com espaço de manobra, flexível. Que sustente uma atitude em conformidade com o que os outros precisam em dado instante, disponível e generosa, sem pressões ou exigências estapafúrdias. À medida das necessidades que todos precisamos suprir.
Essa é a pessoa que eu gostava de ser, à altura. E isto não implica que me considere menos digno seja do que for em relação aos que me rodeiam, é o reconhecimento de uma debilidade na minha estrutura. Uma fraqueza que gostaria de eliminar, por na prática contrariar a ânsia que exibo por ser um gajo do agrado geral. E do meu.
O tal tipo porreiro que sempre me quis afirmar.

Deixa mazelas, a constatação de que somos diferentes daquilo que temos por "padrão" da nossa conduta, da nossa essência e do impacto da nossa presença na vida dos outros. Diferentes para pior, quando constatamos que afinal o inferno das nossas boas intenções mede-se pela distância a que os tais outros (que nos servem de "barómetro") se colocam para se salvaguardarem de nós. Pela prudência e pela saturação. Não existe volta a dar, é mesmo assim.
Defeitos e virtudes na balança. E o peso (o equilíbrio) determina-se pelo tipo de relações que fomentamos, pelo cariz das reacções que suscitamos, pela bitola que nos avalia do lado de fora da nossa vontade e da nossa convicção.
Os factos que nos entram pelos olhos e pela alma, quando a visão é aguçada e a lucidez não perdoa.

A blogosfera, como o resto da vida, obrigou-me a reequacionar uma porradona de ideias (pressupostos) que tinha por dados adquiridos na versão cristalizada do homem que sou (que acreditava ser) e dos outros (como os idealizava). No que me respeita e no que concerne ao meu papel na vida de terceiros.
Talvez consiga um dia ser uma pessoa melhor, mais consonante com o perfil que vestiria (na minha ambição) o conjunto de características que me compõem, com base neste ponto de partida tão bom como outro qualquer. Nas conquistas e nas perdas, nas expectativas e nas desilusões (os outros também erram). Na contabilidade fria e racional do mérito que me assistiu e do demérito que os factos não permitem desmentir. Na análise distanciada dos meus (d)efeitos nas intervenções que produzi e nas suas consequências à vista desarmada.
Nas contrapartidas que não consigo descortinar para a minha forma de encarar as coisas e de agir em consonância com o que me julgo, com o que me sentem e com aquilo que na verdade sou.

Sou um gajo decente mas com muita merda por expurgar.
Sou, no final das contas, um homem vulgar.
28
Nov05

CONTAGEM DECRESCENTE - 6

shark
Há coisas que não me fazem falta. Enxovalhos, por exemplo. Desconsiderações, desgostos, desilusões, essas merdas todas que dão cabo do humor a uma pessoa. Não fazem falta.
Por isso, nunca deixo de tomar as atitudes necessárias para me poupar a esse tipo de contratempos. A vida é curta e um gajo não pode desperdiçar tempo com situações frustrantes e com confirmações desgastantes que só servem para nos dar cabo do astral.
A decisão é fácil e a atitude está tomada.
Renovo os votos de uma excelente semana.
27
Nov05

MESMO AO PÉ

shark
de mim.JPGFoto: sharkinho
Sentado numa rocha diante do mar e do céu de inverno encontro tudo quanto preciso para estar próximo de mim.
É esse o meu ideal de solidão temporária, de momento e de cenário perfeitos para a introspecção.
Nas forças combinadas desses espaços onde a liberdade se anuncia poderosa está a energia que me alimenta. Na parede de rocha que me serve de chão está a solidez que ambiciono, a sensação de terra firme onde assento as certezas e saboreio as emoções.
Estou eu.

Sou eu, ali. Recortado num horizonte feroz, vestido de preto, mal distinto do cinzento em que me quero fundir. Bebendo das ondas que conquistam a terra, aos poucos, em pancadas de fúria que soam como trovões, a determinação e a confiança. Sorvendo das nuvens que conquistam o céu, aos flocos, em mantos de chuva que abafam o sol, a inspiração e a segurança.
Mais a rebeldia inerente e a teimosia latente destas forças da natureza que me falam de mim. Que me ensinam o que falta saber porque me falam ao coração como à cabeça, a amizade e o amor, conjugados numa mensagem de coragem (na vontade) e de comunhão (na pertença). De partilha sem perda da essência que nos faz e nos aproxima, sem perguntas nem explicações. O calor da minha luz no torpor de um dia frio.
Apenas eu. Mais o mar e o céu. E as sensações de arrepio.

Sentado num dia de inverno na orla escarpada da Boca do Inferno.
26
Nov05

MAIS DO MESMO

shark
mais uma.JPG
Aos poucos, a vida liberta-me dos engulhos e devolve-me aquilo de que me privou noutros períodos menos bons.
Como se tudo no universo se conjugasse para devolver o equilíbrio a todas as coisas, como se existisse de facto uma força superior que nos organiza a existência com moedas de troca que funcionam quase como uma lei das compensações.

Ganhos e perdas, equilibrados na balança. Na vida que dança ao ritmo das alíneas escondidas na pauta que firma o tom do contrato, talvez assinado por um Deus. A obra do acaso que nos desvenda o passo seguinte do plano concebido para cada um. Predestinação. Ou outra coisa qualquer que nos empurra para o momento da decisão que transforma as que virão a seguir.
Causa efeito Nas consequências que conseguimos explicar, nas coincidências que nos fazem interrogar quem manda afinal no caminho que percorremos. E quando morremos?
Quem aponta no calendário o dia em que soltamos a última das inspirações que nos estavam destinadas, peito cheio para as despedidas possíveis num suspiro final?

De uma irrelevância total, a quem devo agradecer as benesses concedidas ou praguejar as tristezas sofridas. Existe um deus em cada um de nós, mais o demónio que nem sempre conseguimos exorcizar. Acertam-se as contas no fim, com toda a certeza. E a vida é uma beleza quando a sabemos apreciar.
Não vale muito a pena pensar. Pelo menos, demais...
Ninguém anota as lágrimas que chorámos e as gargalhadas que deixámos por soltar. Somos nós a avaliar. Mais ninguém se interessará, na terra como no céu, pelos pecados que cometemos ou pelas orações que esquecemos na hora de deitar. Demasiada importância a questões de pormenor. Interessa-nos o amor.
E as histórias que temos para nos contar. As memórias que nos revelam como um espelho o que a nossa existência rendeu.

Um homem como eu não aceita as contas de sumir. A aritmética para rir, ao longo de uma aprendizagem que é feita de adições. O produto das emoções, dividido pelo tempo concedido pelo Criador (havendo um). A média do interesse que a vida nos despertou, a nossa presença no tempo de quem nos amou. Coisas que interessam ao objectivo primordial: que tenha valido a pena pela entrega total de que a vida se fez.

A uma amizade regressada e a um amor que se redescobriu, brindo com um beijo nos lábios do copo que deixo vazio.
E agarro a botelha pelo gargalo. Outra vez.
25
Nov05

FEIOS E PORCOS E MAUS

shark
caveman.jpg
Este não é, nem pode ser, um tema agradável. Convivi com o fenómeno até aos treze anos de idade, altura em que consegui impor pela força o fim de algo a que quis poupar uma irmã mais nova por quem me preocupava nessa altura.
A violência doméstica é um pesadelo sem sentido, é uma exibição grotesca de selvajaria com palco no que deveria ser um santuário para qualquer pessoa: a sua própria casa.

Na esmagadora maioria dos casos são mulheres as vítimas. Isto explica-se pelas abjectas questões ditas culturais (a educação que "os" perdoa), pela escassez de opções de quem sofre às mãos de um algoz "da casa" e, santa paciência, pela lei da selva onde o mais forte impõe esta regra medonha à bruta. Uma cobardia, sob qualquer prisma. E uma indignidade também, mesmo que de violência psicológica se trate.
A dor de quem se vê refém de um filme assim não se mede pelo teor das sevícias praticadas. Violência é violência e o resto são tretas.

Já falei neste espaço acerca do martírio que hoje está na ordem do dia. Aumentam os casos reportados às autoridades e mesmo que isso reflicta apenas o facto de mais gente avançar com a imprescindível denúncia, é uma estatística que nos envergonha em pleno século XXI.
Não há atenuantes para a violência doméstica. A própria expressão engloba o quão nojenta se revela esta manifestação de instintos pré-históricos por parte de alguns neandertais cujo lugar adequado é uma cela. Ou, perdoem-me a franqueza, uma cama de hospital (tá bem, pode ser no Miguel Bombarda...).

Insisto nesta tecla porque nunca é demais apontar o dedo às vergonhas e chamá-las pelos nomes, para que nenhum bandalho se consiga sentir mais macho por dominar a murro a sua companheira (e/ou o resto da família). É assim a realidade nua e crua e não existem paninhos quentes que a pintem de um tom menos hostil.
Este ano já morreram mais de trinta mulheres às mãos dos seus carrascos cruéis. Mais de trinta. As que morreram, pois as queixas são às centenas e os silêncios representam milhares.

É um problema, é uma vergonha. E tem que acabar, de uma vez por todas.

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