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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

04
Out05

RASTOS DE MIM

shark
pegadas.JPGFoto: sharkinho
Posso morrer amanhã. Não faço ideia. E por isso preciso deixar ditas as coisas que nunca poderiam ficar por dizer.
Porque o tempo avisa-nos da sua correria, mas nós fazemo-nos esquecidos e deixamos sempre para o dia seguinte as tarefas que achamos possíveis de realizar na boa. Amanhã ou depois.
Mas não é assim que a coisa funciona.

Recuso a noção da vida como um dado adquirido, como uma companheira leal e dedicada que temos por certa ao nosso lado e nada fazemos por conservar. Está ali e pronto.
Não. Eu prefiro acreditar no tal piano de cauda que pode mesmo aterrar-me na mona e mandar-me desta pra melhor. Ou pior, feito num harmónio que mal consiga tocar as notas baixas da sobrevivência precária. Prefiro encarar de frente a minha condição de mortal construído com materiais muito flexíveis mas de resistência duvidosa, menos rijos do que a maior parte do que me rodeia.
Parece pessimista? Não é.

Até poderei estar a blogar na plena posse das minhas faculdades daqui a vinte anos. O que direi nessa altura poderá ser dito tarde demais para produzir o efeito que hoje alcançaria. Rejeito a possibilidade de me arrepender então. Antes opto por arriscar falar demais, por deixar no que escrevo, no que digo e no que faço a marca da minha passagem por este mundo e a da passagem dos outros nos cruzamentos da minha. Poucos(as) seguem ainda no mesmo trajecto que eu, lado a lado, por uma data de razões que este blogue algures explicou ou explicará. E é a essa minúscula multidão que devo o penhor da minha gratidão, as palavras que agradecem o bem que o seu amor me faz e o quanto se revelam determinantes aos meus olhos.

A minha felicidade é avessa à solidão e esta é o meu maior terror. Só me protege o amor e é esse que me esforço por louvar, aqui e noutros suportes (como a vida que se faz lá fora). Sou grato a quem me ama e a quem me oferece o pretexto, a própria pessoa, especial, para também eu conhecer de perto o arrebatamento da paixão. A minha alegria é feita das emoções que me fazem sentir vivo como deve ser.
Feliz porque tenho com quem me partilhar, com quem chorar, com quem rir às gargalhadas em noites bem passadas e com quem fazer o melhor amor que o mundo conheceu. Esse sou eu. Um gajo capaz de morrer amanhã, cujas pegadas não sejam sopradas pelo vento, confiadas ao esquecimento por não haver quem sinta saudades quando me ausentar de vez. Por não haver quem me queira recordar. Essa é a morte verdadeira para mim.

A vida é o espaço que me foi destinado para dar conta de mim nas pessoas que o destino encaminhou para um rumo paralelo ao meu. As pessoas que me interessam, interessadas pelo que tenha de bom para lhes dar. As pessoas que me querem amar, generosas, para elas as prosas que consigo debitar. Mais a certeza do meu melhor, reservado a quem o saiba merecer, dentro dos critérios que estabeleci e aceito sem reservas negociar. Cedências. E outras exigências consentidas pelo amor.
Uma equilibrada permuta em que ninguém saia a perder.
Eu sonho conseguir o equilíbrio em mim na gestão razoável de um coração inesgotável enquanto receptáculo do amor, o de pai também. Também sonho ultrapassar um dia a mais exigente fasquia e perceber, no fim, que amei alguém até esse suspiro final da minha paixão. Tenho a razão e pretendo prová-la em vida, para deixar a quem me suceda um mapa bem traçado do que vale a pena cultivar. O tesouro da amizade e do amor, dos prazeres que a vida nos dá, de bandeja, coisas divinais. E ao alcance do mais comum dos mortais.

Luto pela conquista do amor e ainda com mais ardor quando está em causa a sua preservação. Um amor verdadeiro não se pode substituir, apenas se disfarçam as mazelas resultantes da sua inexplicável extinção. Tapam-se os buracos na alma com remendos de euforia para colmatar as lacunas de emoção. Eu recuso aceitar males menores. Quero amar a sério até ao fim, é esse o estandarte que carregarei enquanto respirar e que me identificará na última morada, depois.
Agora está na hora de me embebedar de paixão, de mergulhar no espaço que a vida me dá e sentir nas veias o sangue a pulsar. Acelerado pela chama que me orgulha atiçar.

Agora está na hora de amar.

sucessao.JPG
02
Out05

COSTELA ALENTEJANA

shark
hexagonal.JPGFoto: sharkinho
Desde que me conheço sou um apaixonado pelo Alentejo. Sempre afirmei, aliás, que se pudesse ter escolhido um ponto do país de onde ser originário seria algures na planície alentejana.
Estou-me positivamente cagando se estou de alguma forma influenciado pelo facto de amar uma mulher daquela terra. Não é apenas disso que se trata e espero que as palavras que escreverei o confirmem, hoje e no futuro. E mesmo que seja disso que se trata não vejo nada de errado o sigo o meu caminho com a mesma passada.

guardiana.JPGFoto: sharkinho
O Alentejo é o único local do nosso do país e do planeta (dos que já pisei) onde me sinto em ligação directa à terra, onde entendo o que me une ao universo que me rodeia, aquilo que sou. Só senti algo de similar na savana dos países africanos banhados pelo Índico que tive a felicidade de conhecer.
De resto o horizonte é parecido, na interminável alcatifa amarela pintalgada de verde aqui e além, mais o branco ocasional do casario caiado com brio e vaidade, e no tapete dourado com árvores isoladas a colorir de esperança a imensidão que nos oferece a paisagem de Masai Mara (Quénia).
São terras que exercem sobre o nós o poder que as cidades abafaram sob camadas de asfalto ou de betão que nos afastam da essência e nos mergulham na desorientação.
Parte da infelicidade latente dos citadinos reside aí.

sem fim.JPGFoto: sharkinho
E as pessoas, sim. Os alentejanos são únicos e especiais. Mexe comigo a profundidade do seu sentir, expresso nas canções que me turvam de lágrimas o olhar e embargam a voz. Seduz-me a forma simples como encaram o destino em tudo o que tem de mau e apreciam o que de melhor lhes dá. Encanta-me o seu orgulho pela terra que os viu nascer. Enche-me de alegria o seu talento natural para acolher, o jeito espontâneo para serem excelentes anfitriões. Sempre me senti bem vindo na parcela do território nacional com que mais me identifico, do estado de alma (o Alentejo é Fado) à gastronomia (como o simples se pode requintar...) passando, sem dúvida, pela intensidade das emoções que aquelas gentes transmitem a todo o instante quando falam das coisas da vida, tudo exponenciado pela sua natureza sentimental. Pela forma bonita como cultivam o amor que nos dão.

passaro do sul.JPGFoto: sharkinho
Sinto-me ligado ao Alentejo como se estivessem nessa terra as minhas raizes mais profundas, como algo embutido em mim à nascença. E agora mais do que nunca, claro está, e outra coisa não seria de prever. Assumo-o sem complexos ou hesitações.
Ademais, no meu Sul existe agora um mar de razões para sublimar esta atracção.

no lado de ca.JPGFoto: sharkinho
01
Out05

A POSTA A MEIAS (Live from Queijos City)

shark
a dois.JPG

Em pleno Alentejo (where else?), enchemos o peito de cor e de luz. A vida corre serena por estas bandas, mas acontece com a intensidade do sentir desta terra que me seduz.
A terra e as pessoas. O amor espalhado pela planície sem fim, nos olhares que se perdem no horizonte por detrás do rosto de quem queremos absorver a cada instante.
Sabe bem ser feliz.
A dois.

Sharkinho
Serpenteámos com a estrada em direcção ao céu. Azul, muito azul, infinito azul. Mais a cal branca de uma ermida perdida no alto do monte, com uma imagem de Nossa Senhora a abençoar o local e as suas gentes. Pedem-se graças, materializadas em velas e flores.
E em redor a terra queimada, castanhos em diversas tonalidades, numa imagem asfixiante de sede e de pó.
Belo e agreste, imenso e selvagem, intenso e sereno, o Alentejo entranha-se nos poros e enche-nos a alma de paz.
E nós, duas gaivotas em terra firme, demo-nos as mãos, voámos sobre a planície e trouxemos connosco aromas de sal e de mar.

Mar
ermida ao sul.JPG

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