24
Out05
A POSTA DE PAI
shark
Hoje é um dia muito especial para mim. Há precisamente seis anos aconteceu o mais importante momento de toda a existência que conheci. Foi às cinco da madrugada, mas por um lapso de uma médica tonta só tomei conhecimento dessa alegria duas horas depois. Chorei copiosamente e sem controlo como nunca antes me acontecera, emocionado.
Ela entrou na minha vida à pressa, sem pachorra para esperar pelo contacto com o mundo cá fora como o seu temperamento justifica. Tem sede de viver, sôfrega de emoções.
É uma lutadora, talhada à medida do tempo que a acolherá.
De mim herdou o desenho dos lábios e um feitio levado da breca, mais o culto da palavra que faz questão de salientar. Adora aprender o significado do que se diz e nunca utiliza um vocábulo a despropósito. Uma mania que também eu exibi em pequeno e, de alguma forma, me acompanhou ao longo do caminho. Coisas que os genes sabem explicar. Mas eu explico-o pelo amor de pai, pela sensação estranha de não existirem diferenças que nos distingam, de naquela pessoa existir tanto de meu que tocar na sua pele é como tocar na minha. Mas muito mais agradável.
E adoro a sua voz, a cor do cabelo, o sorriso desdentado, a expressão profunda do seu olhar. Perco-me a observá-la, enquanto cresce tão de repente que mal tenho tempo de processar as transformações que nela o denunciam. Ainda na minha ideia a sua figura minúscula de prematura com menos de dois quilos à nascença mal se consolidou (que saudades dos banhos que lhe dava como se tivesse nos braços uma boneca de cristal) e já dou comigo a olhá-la enquanto faz os trabalhos de casa, compenetrada, numa etapa bem avançada do seu processo de formação.
Esforço-me para fugir à versão lamechas que traduziria o sentimento que me invade neste instante, para conter as palavras que expressem a magia deste amor descomunal que me domina. Se calhar não consigo e por isso fico por aqui, deliciado com a imagem de um rosto que hoje ocupa quase a totalidade da minha carola.
E partilho convosco, aqui em baixo, a interpretação que a minha herdeira faz do seu pai tubarão. Babado como nenhum.
Ela entrou na minha vida à pressa, sem pachorra para esperar pelo contacto com o mundo cá fora como o seu temperamento justifica. Tem sede de viver, sôfrega de emoções.
É uma lutadora, talhada à medida do tempo que a acolherá.
De mim herdou o desenho dos lábios e um feitio levado da breca, mais o culto da palavra que faz questão de salientar. Adora aprender o significado do que se diz e nunca utiliza um vocábulo a despropósito. Uma mania que também eu exibi em pequeno e, de alguma forma, me acompanhou ao longo do caminho. Coisas que os genes sabem explicar. Mas eu explico-o pelo amor de pai, pela sensação estranha de não existirem diferenças que nos distingam, de naquela pessoa existir tanto de meu que tocar na sua pele é como tocar na minha. Mas muito mais agradável.
E adoro a sua voz, a cor do cabelo, o sorriso desdentado, a expressão profunda do seu olhar. Perco-me a observá-la, enquanto cresce tão de repente que mal tenho tempo de processar as transformações que nela o denunciam. Ainda na minha ideia a sua figura minúscula de prematura com menos de dois quilos à nascença mal se consolidou (que saudades dos banhos que lhe dava como se tivesse nos braços uma boneca de cristal) e já dou comigo a olhá-la enquanto faz os trabalhos de casa, compenetrada, numa etapa bem avançada do seu processo de formação.
Esforço-me para fugir à versão lamechas que traduziria o sentimento que me invade neste instante, para conter as palavras que expressem a magia deste amor descomunal que me domina. Se calhar não consigo e por isso fico por aqui, deliciado com a imagem de um rosto que hoje ocupa quase a totalidade da minha carola.
E partilho convosco, aqui em baixo, a interpretação que a minha herdeira faz do seu pai tubarão. Babado como nenhum.