Alguém sugeriu o título desta posta na caixa de comentários da casa do tubarão. Pelo título percebe-se do que se trata e é um assunto que não me lembro de ter abordado de forma directa neste blogue. Confesso que não tinha encontrado até à data uma abordagem à altura e continuo sem a certeza de que o conseguirei. Mas ando desertinho para retomar o tema sexo no charco e achei que seria interessante enfrentar este desafio. Sem rede.
Ou seja, acabei por desistir de planos e de conjecturas e estou a escrever "em directo" aquilo que me ocorre acerca de um dos maiores tabus do sexo heterossexual: o sexo anal. Distingo a heterossexualidade em específico apenas porque nunca tive acesso a outras perspectivas que não desdenharia abordar. E não gosto de falar acerca de matérias que não domino, sobretudo quando está subjacente uma opinião acerca do que falo. Favorável, no caso em apreço.
Vamos lá então...
É inegável que o assunto causa desconforto, mesmo entre casais com anos acumulados de intimidade na cama. Por isso o apelidei de tabu mais acima, pela visível renitência da maioria das pessoas em enfrentarem as suas vontades e/ou fantasias, enfim, mais arrojadas. O sexo anal parece-me entrar neste grupo das "vergonhas" que muitos(as) ambicionam mas ninguém quer debater. Se estou errado é porque me tenho dado com gente tímida aos magotes e não há nada a fazer.
Não é fácil encontrar uma forma de colocar um desses apetites clássicos (o homem que nunca fantasiou com um cu que avance com a primeira palavra) à pessoa que temos connosco na cama, sobretudo se as condições não são as ideais em termos de intimidade, de à-vontade ou da privacidade indispensável para uma "extravagância" carregada de mitos e de cargas pejorativas.
O mito da dor é o primeiro. Pinta-se a coisa como se um pénis se transformasse de repente num gargalo de garrafa e um ânus não passasse de uma argola rígida de metal. Um absurdo, claro está, até porque se as dores de uma penetração inaugural fossem assim tão insuportáveis o número de virgens não parava de crescer. E nem consta que sejam experiências directamente comparáveis. Mas é um pretexto como outro qualquer para nos perturbar a mona e nos afastar do prazer e da realização pessoal. Não faltam dessas merdas que nos castram.
Até num hipermercado é fácil de obter um gel lubrificante para eliminar o efeito da fricção. E a elasticidade do ânus, posta à prova a partir do interior em determinadas superproduções intestinais, tem milénios, quilómetros de experiências bem sucedidas. E aquela história do Reinaldo e da Laura Diogo não passou de uma lenda urbana para papalvos atesoados e doentios...
Mas existem outros aspectos que condicionam as pessoas nessa delicada opção que um corpo nos dá. O nojo (sempre presente de alguma forma quando o sexo protagoniza) é outra das barreiras psicológicas de alguns, bem como o tradicional medo das consequências (há adultos que temem que o ânus não regresse ao tamanho original depois de alargado dessa forma). E mais uma carrada de falsos argumentos que diabolizam o que deveria ser uma alternativa a considerar sem reservas. Claro que falo sob a confortável perspectiva de quem vê o assunto do lado mais simples e menos assustador da coisa, mas é esse que me compete e do outro lado da história que fale quem puder e souber.
O sexo anal é uma maravilha, afirmo-o como homem que não abdica do instinto natural para possuír, para dominar a fêmea que me deseja, que me quer dentro de si. Na minha ideia, representa um passo fundamental na evolução de uma cumplicidade a dois. Porque requer muita confiança. Um bruto pode provocar enorme sofrimento dessa forma e é natural que se escolham homens capazes de mudanças de ritmo em função da pessoa e da circunstância. Neste contexto, se uma mulher me aceita como parceiro no sexo anal eu entendo o gesto como uma evidência do seu empenho e da sua sensualidade explosiva, aliados a uma confirmação clara dos sentimentos de confiança e de proximidade que lhe inspiro. É a minha forma de o sentir e não pretendo fazer escola, insisto.
A simples concretização desse passo elimina a hipótese de a vontade degenerar em desejo obsessivo, como parece acontecer a alguns. Constou-me até a negação de tal privilégio como explicação para o fim de matrimónios, embora eu admita que possa ser um exagero. Mas nem são necessários pretextos, na minha óptica. Sexo propriamente dito implica a exploração dos corpos no máximo do seu potencial para o prazer, sem fronteiras. É assim que explico a minha versão acerca deste falso melindre, desta tolice fantasma que nos inibe até de conversar sobre "essas coisas".
E claro que fica salvaguardada a divergência de sensibilidades e de opiniões. Não tenho o monopólio do conhecimento nesta área específica, como reconheço acima, e posso falar apenas da minha experiência pessoal (como sempre fiz).
É essa que me concede o direito de fazer a apologia de tudo quanto na vida me impressionou.
E em algumas questões sou um gajo muito impressionável...