A DAS CRIANÇASFoto: sharkinhoOnde reinam o deslumbramento e a animação. Um espectáculo de cor e de luz, com tudo construído a pensar nos mais pequenos. Tudo pensado para os encantar, transportando-os para dentro do mundo que os desenhos animados lhes concebe na imaginação.
Os sorrisos rasgados de felicidade de alguns reflectem a intensidade da emoção do choro desconsolado de outros, mimo à flor da pele porque acabaram de rolar como doidos nas chávenas do país das maravilhas ou porque os pais lhes negam os cinquenta minutos de espera pela repetição da viagem nos barcos do Peter Pan.
E mais o surgimento, de surpresa, do Mickey, do Pateta, da Minnie ou de qualquer outro dos bonecos que arrastam atrás de si pequenas multidões de pequenos caçadores de autógrafos e respectivos progenitores.
Dá gosto ouvir nas ruas o som estridente da felicidade das crianças.
E A DOS ADULTOSFoto: sharkinhoNem vale a pena negar que dá pica circular na pirisga a bordo do comboio dos mineiros ou viajar no espaço dentro de um simulador muito bem conseguido de uma nave do Star Wars. Os mais crescidos também curtem na Eurodisney.
Porém, existem pormenores que nós grandes não conseguimos ignorar. Como as bicas a quatrocentos paus. Ou os hamburgueres a um conto e tal. Ou toda a parafernália instalada em cada esquina para converter os putos em consumistas desenfreados que nos depenam até o cartão de crédito chorar...
E um gajo, mesmo com orelhas de Mickey enfiadas na carola, sente-as como orelhas de burro quando olha para um quarto que custa quarenta contos por noite e nem lhe oferece um mini-bar, um ar condicionado ou um simples bidé. Nem um champô, o que nos apanha de surpresa e obriga a lavar o cabelo com sabonete.
Os contos de fadas por muitos contos de réis. Em euros, para um tipo nem sentir o golpe da facada na conta bancária. Quando fazemos as contas por alto, estadia mais refeições, já arderam cento e cinquenta contos por pessoa por duas noites ou três. Mais os gelados, as águas tão más que deixam saudades da Carvalhelhos (a Vittel é de fugir), os balões, os chupas, os bonés, as guloseimas, a bonecada. Quase trinta contos (150 euros, ah pois...) por um jantar para quatro pessoas, sem sobremesa, só pelo prazer de receber o Mickey na mesa para lhe tirar uma fotografia.
É uma máquina de extorsão poderosa, esta estrutura dividida por temas. Frontierland, a punheta americana dos seus tempos do John Wayne. Discoveryland, a era espacial e a ciência no centro da diversão. Fantasyland, os príncipes e as princesas nos seus castelos de sonho. Adventureland, o reino da maluqueira versão Indiana Jones. E ainda a Main Street USA, a entrada triunfal na América do final do séc XIX.
Fora do recinto principal, ainda o Village, onde pontificam os McDonalds, os Planet Hollywoods e outras indústrias do género. Mais os estúdios da Disney e a escola de futebol do Manchester United, identificada com a fotografia do nosso Cristiano ilhéu.
Tudo montado para nos transformar em milionários por uns dias, até regressarmos e darmos conta dos estragos que a brincadeira provocou.
É o lado menos cor de rosa, onde pontificam o Capitão Gancho, a Morgana ou qualquer outra bruxa má que nos transformam em sapos quando olhamos para o extrato de conta.
Serve-nos de consolo o consolo do costume. Não há dinheiro que pague as dezenas de sorrisos que cada dia naquela balbúrdia careira estampam nos rostos da pequenada...