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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

19
Ago05

A POSTA NO CINZEL

shark
fusao.JPG
Vejo-te deitada de bruços, na cama ou no chão. Esculpida pela vida que te fez mulher, curvilínea, tentadora como um circuito de velocidade onde o meu coração já acelera. E o corpo não espera mais por ti, abraço de lava que beija a rocha para a derreter até ao momento de completar a fusão. Assim me vejo abraçar-te, esmagada sob o peso do homem que sou, incapaz de te mexeres que não apenas o bastante para me receberes. Dentro de ti para sempre, naquelas horas de loucura em que da tua boca ouço apenas a palavra mais, ou da tua mente, telepatia, não sei. Mais de mim. Para te provocar o gemido que me atiça, o grito abafado que me sopra pelas eiras como fogo ao vento num ocaso de Verão.

Vejo-me espalhado pelo teu corpo deitado, numa esteira ou num sofá. Mergulhado no suor a dois, mordisco-te uma orelha e passeio na tua nuca os lábios molhados, cabelos colados, as mãos que soltam agora as tuas para poderem percorrer-te, escultura. Então, vejo-me escorregar para um dos teus flancos até as minhas costas assentarem e as minhas mãos te agarrarem, pelas axilas, arrasto-te sem pressas para cima de mim. Para poder observar-te a expressão e nela ler o desejo de que preciso para alimentar ainda mais a minha fome de te ter. E leio no teu olhar, em letras garrafais, a palavra mais esperada.
E também eu preciso mais. De ti que escorres agora no outro lado da tua pessoa, um amante em ebulição, gotas do teu amor. Lágrimas de prazer, chuviscos de transpiração. E depois gritas outra vez e tombas sobre mim, ancas cada vez mais serenas no movimento de vaivém.

Vejo-nos paixão.
18
Ago05

A POSTA NO IPIRANGA

shark
fly like an eagle.gif
Aos poucos, a corda foi-se enrolando em torno do seu corpo incauto. E da sua mente, que esvoaçava livre entre sonhos e fantasias até ao aperto final num nó. Deu por si manietado, atrofiado, com dificuldade de respirar. E de pensar, cansado de embater com violência contra as paredes da gaiola que o confinava à escuridão.

Parou de resistir sem rumo e sem pequenas vitórias a que se pudesse agarrar para justificar a insistência. Inspirou o mais forte que conseguiu, tentando aliviar a pressão. Depois expirou. E repetiu vezes sem conta o exercício respiratório que o acalmou e afrouxou a liana que lhe limitava qualquer movimento que pudesse executar. A mente, contudo, reagia com lentidão ao choque da mudança, demasiado brusca para facilitar uma readaptação. A mente tardava em colaborar na sua nova e surpreendente missão.

Acenou-lhe, à mente, com o espectro do fim. O que a esperava caso não sacudisse a letargia, caso não combatesse a apatia, se porventura insistisse no torpor que cedo ou tarde os sufocaria. À mente e ao corpo que o constituiam, em risco partilhado naquela inédita situação.
O aceno resultou.
Aos poucos, a mente deu início ao processo imparável de aceleração. Só o seu melhor desempenho poderia valer de algo em condições tão dramáticas. A mente concentrou-se na liberdade de que se sentia privada e depressa a revolta alastrou. O grito abafado agigantou-se junto à porta de saída que lhe tentavam amordaçar. Os olhos abriram-se de par em par e viram por entre as frestas a verdade que a venda improvisada lhes tentava ocultar. Audição mais apurada, já os sons imperceptíveis ganhavam contornos de palavras e de ideias que podiam ajudar na luta pela libertação.

Os músculos começaram a empedernir, cada vez mais tensos. O corpo tremia em convulsão, uma força irresistível mesmo à beira da tampa ilusória na cratera incandescente do vulcão. Ouvia os estalidos secos dos fios de corda que cediam, um a um, à energia poderosa que a mente lhe transmitia. Super poderes alimentados pela imaginação, tão reais como a sede de libertação. Células unidas em torno de um objectivo comum. A força multiplicou.

Enfurecido contra a corda que o oprimia e quase o estrangulou, aguardou com frieza o momento da explosão. Deixou-se estar, toque a reunir calado no interior, a mente entretida a sacudir os restos de medo, de dúvida e de hesitação. Desprevenido o carcereiro, quando da boca do prisioneiro soaram mil sirenes e dos seus pés rufaram os tambores, tropas que marchavam, regimentos de esperança em dias melhores.

A corda desfez-se como um vulgar fio de costura. Demasiado esticada, partiu. Livres de novo, corpo e mente num só, determinados em escapar do cativeiro com o menor preço a pagar. A liberdade devia ser de borla, adquirida no acto de nascer, colada à nossa pele como uma tatuagem que nos acompanha até ao fim. A liberdade noutra forma, eternidade na terra ou no céu. O inferno estava ali, na masmorra que o rodeava e na sua fúria devastadora para dela se libertar. No urro que soltou quando lhe acabou a paciência e a mente o avisou de que estava preparada, acordada para lutar. No olhar tresloucado que lançou a quem se pudesse opôr à caminhada que iniciou. Passo a passo, sempre alerta, até recolher do carcereiro a chave dos grilhões imaginários que a corda simbolizava. Para a lançar pela janela, para o fundo do rio onde ninguém algum dia pudesse reencontrá-la. Para nunca mais alguém repetir a façanha.

Foi a mente que o alertou para essa ameaça futura, escura, que sempre penderia sobre quem ignorasse a urgência de preservar a liberdade sob todas as suas formas. Até roçar a anarquia, cada um sabe de si. Demasiado atento era agora uma expressão vazia de sentido. Na demasia. No troco que a vida lhe daria, caso tardasse em pagar o preço que a liberdade lhe exigia.

Apenas um pouco mais de atenção. Praticamente de borla, concluiu.
15
Ago05

AS DUAS FACES DA FANTASIA

shark
A DAS CRIANÇAS
disneypequenos.JPGFoto: sharkinho
Onde reinam o deslumbramento e a animação. Um espectáculo de cor e de luz, com tudo construído a pensar nos mais pequenos. Tudo pensado para os encantar, transportando-os para dentro do mundo que os desenhos animados lhes concebe na imaginação.
Os sorrisos rasgados de felicidade de alguns reflectem a intensidade da emoção do choro desconsolado de outros, mimo à flor da pele porque acabaram de rolar como doidos nas chávenas do país das maravilhas ou porque os pais lhes negam os cinquenta minutos de espera pela repetição da viagem nos barcos do Peter Pan.
E mais o surgimento, de surpresa, do Mickey, do Pateta, da Minnie ou de qualquer outro dos bonecos que arrastam atrás de si pequenas multidões de pequenos caçadores de autógrafos e respectivos progenitores.
Dá gosto ouvir nas ruas o som estridente da felicidade das crianças.


E A DOS ADULTOS
disneygrandes.JPGFoto: sharkinho

Nem vale a pena negar que dá pica circular na pirisga a bordo do comboio dos mineiros ou viajar no espaço dentro de um simulador muito bem conseguido de uma nave do Star Wars. Os mais crescidos também curtem na Eurodisney.
Porém, existem pormenores que nós grandes não conseguimos ignorar. Como as bicas a quatrocentos paus. Ou os hamburgueres a um conto e tal. Ou toda a parafernália instalada em cada esquina para converter os putos em consumistas desenfreados que nos depenam até o cartão de crédito chorar...
E um gajo, mesmo com orelhas de Mickey enfiadas na carola, sente-as como orelhas de burro quando olha para um quarto que custa quarenta contos por noite e nem lhe oferece um mini-bar, um ar condicionado ou um simples bidé. Nem um champô, o que nos apanha de surpresa e obriga a lavar o cabelo com sabonete.
Os contos de fadas por muitos contos de réis. Em euros, para um tipo nem sentir o golpe da facada na conta bancária. Quando fazemos as contas por alto, estadia mais refeições, já arderam cento e cinquenta contos por pessoa por duas noites ou três. Mais os gelados, as águas tão más que deixam saudades da Carvalhelhos (a Vittel é de fugir), os balões, os chupas, os bonés, as guloseimas, a bonecada. Quase trinta contos (150 euros, ah pois...) por um jantar para quatro pessoas, sem sobremesa, só pelo prazer de receber o Mickey na mesa para lhe tirar uma fotografia.
É uma máquina de extorsão poderosa, esta estrutura dividida por temas. Frontierland, a punheta americana dos seus tempos do John Wayne. Discoveryland, a era espacial e a ciência no centro da diversão. Fantasyland, os príncipes e as princesas nos seus castelos de sonho. Adventureland, o reino da maluqueira versão Indiana Jones. E ainda a Main Street USA, a entrada triunfal na América do final do séc XIX.
Fora do recinto principal, ainda o Village, onde pontificam os McDonalds, os Planet Hollywoods e outras indústrias do género. Mais os estúdios da Disney e a escola de futebol do Manchester United, identificada com a fotografia do nosso Cristiano ilhéu.
Tudo montado para nos transformar em milionários por uns dias, até regressarmos e darmos conta dos estragos que a brincadeira provocou.
É o lado menos cor de rosa, onde pontificam o Capitão Gancho, a Morgana ou qualquer outra bruxa má que nos transformam em sapos quando olhamos para o extrato de conta.
Serve-nos de consolo o consolo do costume. Não há dinheiro que pague as dezenas de sorrisos que cada dia naquela balbúrdia careira estampam nos rostos da pequenada...
15
Ago05

ASSIM DE REPENTE...

shark
...Isto:

marpb.JPG

...parece-vos o quê?


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Não estranho terem vislumbrado o mar a espreguiçar-se no areal, com a espuma das ondas em primeiro plano:

ceucores.JPG
Assim de repente, o céu retribui nas nuvens o espelho que os oceanos lhe oferecem.
09
Ago05

PALAVRAS DE FÉRIAS

shark
boleia.JPGFoto: sharkinho
E como o pessoal anda sem pachorra para lençóis, inauguro hoje o meu repositório do que for registando ao longo deste período dedicado ao lazer (assim vou fazendo o gosto ao dedo blogueiro...).
E sempre vamos mantendo o contacto por esta via, não é?
08
Ago05

JÁ LÁ ESTOU!

shark
prefiro pepsi.JPG
Nas benditas férias, quero eu dizer. Até já me baldei a uma reunião marcada e dei sopa a um cliente de última hora. Mesmo no espírito da coisa...
E amanhã rumo para sul. E depois rumo para Leste e só paro na cidade-luz. E depois regresso à Pátria e logo se vê.
Entretanto, o ritmo tépido da blogosfera não puxa muito por postas "pesadas" como as que deixei para trás e que vos podem entreter caso eu me balde à postura (de postas).
Fiquem, pois, com um instantâneo das minhas férias. (Não estranhem a bebida farsola. Nas férias farto-me de conduzir...)

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