A vingança não é uma atitude bonita. Pois não. E eu nem costumo exercer com frequência esse direito à retaliação que todos, ou quase, sentimos pelo menos uma vez ao longo da vida.
Contudo, o facto de eu preferir olhar-me no espelho e ver um homem de bem não implica que me predisponha a cruzar os braços perante algumas situações que me revoltam ou repugnam. E isto aplica-se também às injustiças que vejo cometer relativamente a outras pessoas, com especial preponderância quanto às pessoas que estimo.
A injustiça é sem dúvida a razão das minhas mais tristes reacções para com terceiros.
Por norma, quem é capaz de lesar os interesses dos outros sem justificação não possui a maior parte das características de uma pessoa em condições. A coragem, por exemplo, costuma estar ausente das personalidades menos recomendáveis. Cobardes, apontam as baterias a quem pressentem mais vulnerável e menos capaz de agir em legítima defesa. E fazem-na pela calada, para limitarem ainda mais a hipótese de se verem confrontados com o troco merecido para as suas baixezas.
Odeio gente assim e sou capaz do pior, acumulei alguns exemplos pouco abonatórios da minha bonomia ao longo da vida, para lhes fazer sentir na pele o desconforto ou mesmo o medo que suscitam aos outros.
Não me orgulho desta minha prerrogativa, nem a louvo enquanto regra de conduta. Mas não consigo reprimir-me quando as más acções dos sacanas afectam alguém, sendo a minha resposta proporcional aos danos causados e à vulnerabilidade das pessoas afectadas. É feio, bem sei, mas reajo por instinto e só depois me arrependo.
Assumo esta mácula perante vós por não querer criar uma imagem de santo que não corresponda à verdade dos (meus) factos tal como a tenho revelado neste blogue.
O pretexto para esta posta é idiota. Há meses que um vizinho anónimo despejava no patamar de entrada do edifício, por cuja limpeza assumi a responsabilidade dado tratar-se de um acesso ao meu escritório, todo o lixo que encontrava na sua caixa de correio.
É uma treta sem jeito nenhum, mas irritava-me pela repetição e pela impunidade.
Hoje, finalmente, alguém apanhou o suíno em flagrante quando ele deitava para o chão de forma displicente a propaganda e outros detritos que lhe atafulhavam a caixa.
Ainda por cima trata-se do moralista de serviço (todos os edifícios têm um), daqueles gajos que pegam por tudo e por nada para chatearem a cachimónia da vizinhança.
Agradeço ao destino não me ter cruzado com ele na hora desta revelação, para não transformar uma coisa de nada num problema mais sério.
E eis a minha confissão. Tudo quanto ele despejou na escada, mais todo o lixo que consegui reunir na altura encafuei na caixa do correio do bacano. Enquanto o fazia repeti várias vezes em voz alta que era eu o autor da proeza (sabia que ele estava em casa na altura), para que não lhe restassem dúvidas da porta a que poderá bater se quiser pedir satisfações. Que peça, eu dou-lhas...
Um disparate pegado, pois é, e nem faz sentido servir de mote a uma posta. Mas nós pessoas somos feitos destes pormenores e nem todos correspondem às nossas melhores intenções.
Por outro lado, já vos dei a saber de mim o bastante para que não me tomem por arruaceiro, não sendo de forma alguma um anjinho como gostaria. E assim aproveito para fazer passar a mensagem de que por muito porreiro que eu seja quando me tratam com respeito e cortesia, não me inibo de reagir em conformidade (e nem sempre na proporção) quando me pisam os calos ou a quem me seja próximo.
Mea culpa. Tenho mais de tubarão do que de peixinho dourado. Mas só tem a temer quem faça de conta que não percebeu o recado que aqui deixo, disfarçado por entre o meu desabafo pseudo-ambientalista...