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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

08
Jun05

PAGO A PRONTO

shark
agrafador13.gif
Queria que a verdade prevalecesse. Integra, total. Não gosto de meias verdades e encaro como repugnantes as mentiras por omissão ou as mentiras piedosas que se utilizam para escamotear as realidades que queremos ver escondidas no fundo do baú. Como em qualquer mentira, afinal.
Não entendo porque fugimos como coelhos assustados para uma toca qualquer, sempre que não conseguimos enfrentar as consequências do que fomos na interpretação do que somos e do que afirmamos ser. Não entendo porque hipotecamos a confiança dos outros por medo das nossas revelações. E nem quero entender.

Queria apenas que a verdade servisse em todas as ocasiões e não apenas nas que nos servem qualquer propósito, legítimo. Queria que as mentiras e as omissões não minassem a confiança total que gosto de depositar nas pessoas, não me obrigassem a todo o instante a analisar incongruências e a pedir para elas uma justificação. Que chega trapalhona, envergonhada, camuflada num lapso de memória que alivia o desconforto de quem prefere fugir.

Queria que a coragem andasse de mãos dadas com todo o tipo de emoções. A verdade surgiria como uma consequência natural, pois a mentira e a sua amiga omissão servem apenas como tábuas de salvação efémeras para o que a vida se encarrega de descobrir, depois. Por acaso, ou talvez não...

Queria que os outros não receassem arriscar, que apostassem na minha lealdade, na minha capacidade para ser o fiel depositário de todos os seus medos, de todas as verdades temidas que só não corroem quando expurgadas, quando contadas a quem as mereça e saiba ouvir. As mentiras, como as omissões, posicionam-se num espaço negro da nossa consciência e envenenam-nos as reacções. Ficam demasiado próximas da traição.

Queria que as coisas acontecessem com espontaneidade, coerentes, frontais. Que as peças do puzzle não fossem apenas pedaços mal encaixados pelo esforço inútil do meu raciocínio ou da minha imaginação. Queria a confiança dos outros para lhes poder provar a minha, sólida e incondicional.

Tenho para mim como certa uma vida feita de utopias, de ilusões, de histórias mal contadas que me induzem à desconfiança e ao temor.
Nunca saberei perdoar a quem algum dia me enganou, nos pequenos detalhes como nas coisas relevantes. Não sei perdoar a cobardia nem recuperar a confiança que me escamoteiam.
Não sei entregar-me às prestações.
07
Jun05

A POSTA LEONINA

shark
leoa1.JPG
Ontem publiquei a foto de um bicho que me repugna. Hoje entendi publicar um contraponto, com um bicho que me fascina.
Não sendo adepto do Sporting, é suspeita a minha afeição a esta criatura. Mas não, benfiquista e campeão, posso explicar tudo certinho.
A leoa inspira-me um curioso paralelo com a minha espécie preferida. Vários, aliás.
E vão perceber porquê.

A força lê-se no olhar e no porte de uma leoa. A força com que cuida das crias e de um paspalhão qualquer, todo altivo, que nem se preocupa em garantir o sustento da família. Só come, dorme e embrulha-se em zaragatas com outros galos que lhe disputem o poleiro. E ela, determinada, zela por todo o clã (mas ele é que fica com a fama...). A leoa é competente e empenhada em tudo o que faz.

A sua inteligência revela-se a cada momento em que necessita de tomar decisões. A inteligência, a criatividade e a persistência, que aplica combinadas para superar em astúcia a velocidade superior das suas presas e inimigos naturais. Consegue camuflar-se na perfeição, mistura-se com a terra, o vento e o sol, despercebida, até ao momento ideal para atacar. E só ataca para, de alguma forma, se defender.

Ninguém é mais forte do que uma leoa quando esta se sente ameaçada ou pressente algum perigo para as coisas a que atribui maior importância. O amor é uma das suas principais energias, amor instintivo, poderoso, que se revela na ternura que deixa escapar no pouco tempo que lhe resta em cada dia.

A leoa é uma companheira leal e fiel ao macho da espécie com quem acasala. Aguenta com paciência as suas manias de pavão, as suas arrelias de machão e a falta de contrapartidas que, regra geral, são a marca dos seus dias a dois.
No entanto sabe dispensar o convívio de um leão, sempre que se impõe uma atitude mais feroz. Nessa altura evidencia as garras, as das patas e a outra. A garra que a leoa demonstra quando a ocasião exige ou simplesmente proporciona. Indomável, a bem dizer.

Por tudo isto admiro, respeito e sinto-me irremediavelmente atraído por bichos assim. Por tudo isto é da leoa a imagem mais bonita que a savana me ofereceu. A que partilho convosco acima.
Até parece que a ouço rugir...
05
Jun05

ANALISA-MOS TODOS

shark

(Perdão, analisamos todos)
Isto dos blogues ainda tem muito por descobrir. Existem fenómenos inexplicáveis que as pessoas fazem acontecer ao ritmo alucinante que isto nos impõe. Muitos fenómenos sem explicação aparente e que podem suscitar alguma curiosidade por parte de quem os observa, fazendo ou não parte desta comunidade que, no fundo, deixa transparecer muito (tudo?) da merda de mundo que estamos a construir lá fora.
Isto porque tendemos a tornar-nos pessoas muito pequeninas, mesquinhas, pobres de espírito. E isso nem a blogosfera consegue filtrar. Os estúpidos podem ter um sucesso do caraças enquanto malta cheia de talentos permanece discreta no meio da floresta de umb(i)logs, sem a projecção(?) que meia dúzia de parvalhões armados ao pingarelho obtêm nos contadores desta merda ou daquela. E às vezes perdemos a noção do ridículo e começamos a tentar perceber o porquê destas coisas acontecerem.

Já passei por uma fase assim, na minha adolescência blogueira. Perdia o sono, incapaz de compreender porque uma posta que eu, o juiz em causa própria, achava tão boa e ninguém lhe ligava pevas. E depois saía-me uma caca, julgava eu, e toda a gente visitava e comentava e dava mostras de gostar. Fazia-me confusão, mas depois concluia: "quem sou eu para determinar o certo e o errado nas opiniões das outras pessoas, no cariz da sua intervenção?". E foi assim que deixei de me preocupar em demasia com as verdades(?) expressas neste ou naquele instrumento de medição e, acima de tudo, com as que dizem respeito aos blogues dos outros.

Mas nem todos pensamos assim nesta comunidade virtual. Existem os xicos-espertos que insistem em escalpelizar esta merda ao pintelho para se arvorarem de entendidos na coisa. Verdadeiros cientistas amadores. Opinam com a certeza no cagar de quem nos lê e nos interpreta como se de cobaias se tratem. Percebem tudo, teorizam e experimentam, extraem conclusões à brava a partir dos seus testes tão rigorosos como a prova de sabor planta. Deviam entreter-se a provar o sabor do Xau Silvestre, para saberem o que é bom e não esbanjarem o seu tempo de antena na blogosfera armados em doutores.
É que não existem dados adquiridos, nem estudos conclusivos, que permitam a qualquer papagaio palrar acerca de algo de que sabe tanto como eu sei de lagares de azeite. Sabemos o mesmo, népia, e temos que reduzir-nos à insignificância que a nossa "quota de mercado" nos contadores traduz (se nos faltarem outras referências). Palpites todos dão e são livres de os dar. Certezas e conclusões? Não me flixem...

Somos livres de publicar o que nos der na bolha. E isso também se aplica aos iluminados que nos dissecam. Mas somos igualmente livres de os mandar à merda ou, em alternativa e para manter o ambiente cordial, dizer-lhes que não concordamos com a sua douta perspectiva acerca da maioria das coisas. E deixarmos de lhes dar conversa depois, para não insistirem em levar-se demasiado a sério nestas andanças. E nas outras, já agora.
04
Jun05

A POSTA NOS OLHOS

shark
santograal.JPG
Como identificarei a relíquia sagrada caso se cruze comigo ao longo da jornada? - perguntou o cavaleiro da távola.
O rei, que lançava os homens ao encontro do seu destino (como um deus), olhou para o céu em busca de inspiração.
De quantos se gabavam de olharem a peça nem um a conseguia descrever. Olhavam sem ver. E a relíquia desaparecia outra vez, esquecida. Perdida pelos homens sem alma nem fé.
O rei cogitou. E pensou como seria diferente o céu para aqueles que apenas lhe observassem uma ínfima porção. Insignificante e pequeno pontinho de luz. Nunca o reconheceriam, visto de uma forma redutora. Para os menos empenhados, o céu não existiria afinal. Como a relíquia sagrada que o cavaleiro se propunha descobrir.
Sempre que te cruzares com algo de diferente, ainda que não o pareça à primeira vista, concentra a tua atenção nas questões de pormenor. Aprende a ler os sinais que a relíquia nos dá, identifica-os. Só então entenderás.E se ainda assim te restarem dúvidas, observa-te também. No reflexo de ti que a relíquia produzir encontras a resposta a todas as perguntas que algum dia quiseste fazer. A relíquia tem origem divina, foi moldada no céu.Mas isso não me ajuda grande coisa, senhor. - titubeou o cavaleiro. E prosseguiu. - Eu nunca vi coisa parecida sequer...
Lembra-te onde foi moldada. - insistiu o rei. - Olha-a com atenção e com empenho, com paixão e com fé.
Saberás que a encontraste pela cor com que te devolver esse olhar
.
04
Jun05

É FAZER A CONTA

shark
todoroto.JPG
Aqui há dias escrevi uma posta chamada A Posta Quantas Dei (tá mais abaixo um nadinha). Esse texto visava transmitir ao mundo a minha incapacidade para entender o raciocínio matemático dos que sabem sempre quantas deram ou são capazes de dar. A sério ou só na paródia, pois muitos homens passam a vida a sonhar e depois brincam com estas coisas.
Mas estas coisas são sérias e um gajo tem que procurar instrução para colmatar as suas lacunas. Gritei ao mundo a minha ignorância: não sei quantas dou, dei ou darei seguidas. Sou um asno nas estatísticas sexuais, virei-me mais para a cartografia.

Vai daí, que tenho um blogue, dei o dito berro e toda a gente leu e algures alguém prestou atenção. Foi como mandar uma mensagem na garrafa e ela chegar ao destinatário certo em menos de 24 horas, morando ele quase em pleno Círculo Polar Ártico (como a maioria já sabe, o gajo é tripeiro).
Mas certo porquê, considerando o calibre do que a caixa de comentários registou nesse dia? Porque a posta pedia resposta e foi ele quem melhor a deu, do ponto de vista mais lógico e pragmático da questão. Como se pode constatar pelo comentário/resposta que reproduzo a seguir.

E qual era a pergunta?
Como sabemos quantas demos seguidas (sem tirar)?

A seguir, a intervenção do ilustre Professor Doutor Von Ruinash, que seria pecado confinar a uma caixa de comentários.
Porque o mundo precisa de saber estas coisas...

Aí vai:
Em primeiro lugar é preciso contabilizar o coeficiente activo (CA) e o coeficiente passivo (CP):
CA = PVA + PAA + SOA
CP = PVP + PAP + SOP
Em que:
PVA - Penetrações Vaginais Activas
PAA - Penetrações Anais Activas
SOA - Sexo Oral Activas
PVP - Penetrações Vaginais Passivas
PAP - Penetrações Anais Passivas
SOP - Sexo Oral Passivas
E que nos permitirá calcular o Quociente Sexual:
QS (Homens) = CA / CP
QS (Mulheres) = CP /CA
Depois há que ter em conta a constante da orientação sexual.
COS (Hetero) = 0,5
COS (Homo) = 1
COS (Bi) = 1000
Finalmente, podemos calcular o coeficiente orgiático:
CO = (COS * QS * NP) / D
Em que NP corresponde ao número de participantes na orgia e D as dimensões do local em que a mesma se efectua (em metros cúbicos).
É uma fórmula muito simples, eficaz e que dá sempre muito jeito. Para quem não quiser calcular o CO por etapas deixo a fórmula inteira que permite o cálculo directo:
CO(Homens)=(COS*((PVA+PAA+SOA)/(PVP+PAP+SOP))* NP)/D
CO(Mulheres)=(COS*((PVP+PAP+SOP)/(PVA+PAA+SOA))* NP)/D
03
Jun05

A POSTA SEM TEMPO

shark
bd.gifHoje, a Casa de Alterne conheceu o seu fim.

O tempo tem sido o melhor dos meus conselheiros. Não porque as pessoas que estimo, respeito e admiro e trato como amigas não me mereçam a devida atenção quando me aconselham. Mas porque existem muitas questões que só a passagem do tempo nos permite enquadrar na perspectiva mais correcta. E é essa que deve, por princípio, nortear cada uma das nossas decisões.
O tempo carrega em si uma forma de sabedoria que apenas ele tem o dom de nos conceder. E apenas se estamos atentos, se sabemos identificar com clareza os sinais que o tempo nos expõe.

Eu acredito no tempo como um mestre que deixa rasto da sua passagem. Ensina quem se predispõe a aprender. Ignora os casmurros na mesma moeda. O tempo é assim, indiferente as todas as pequenas coisas que o medem. Como nós, atrevidos, convencidos de que o tempo é mensurável e por isso susceptível de controlar. Mas não. Ele passa pelas pequenas coisas que o medem, as pessoas, e nem vacila no seu caminho para um infinito que não sabemos compreender.

Infinitas são as lições que o tempo nos ensinou, transmitidas de geração em geração. O fogo que nos queima quando o tocamos. A água que nos afoga quando mergulhamos por tempo demais. Demasiado tempo sem respirar. O amor que o tempo se esforça por explicar, fundamental. E a maioria de nós não estuda a matéria, reprova no exame e a raposa tem pele de animal infeliz. É assim que nos desperdiçamos em detalhes que nada servem o objectivo a atingir e que o tempo, que cultivamos nas memórias do que já não pertence à nossa dimensão, insiste em nos provar a toda a hora. No azar dos outros, oportunidades por concretizar, e na miserável constatação de que esbanjamos o tempo mais a preciosidade das suas lições.

Eu acredito no tempo como um viveiro de termos de comparação. Bastam-me alguns minutos num cemitério para me ocorrer a mais fácil das conclusões. Um dia o tempo acaba, nesta realidade que me é dada a conhecer. O meu tempo e o das pessoas que o destino colocou em rota de intersecção com a minha. Todas as pessoas. As que amo acima de qualquer multidão que me distraia. Falta-me tempo para as negligenciar, pois é certo e sabido que um dia deixará de sobrar e não será possível deixar algo para amanhã ou depois. É assim e ainda bem. Devia bastar para nos deixarmos de merdas e mergulharmos na vida com a pressa de quem não sabe de quanto tempo feliz pode dispor.
É isso que o tempo ensina, experiência de vida, mas ninguém parece atribuir importância a essa lição. Até ao dia.

O tempo diz-me que devo ser grato pelo tempo que o acaso me concedeu. E a minha gratidão só é demonstrada quando a felicidade é a suprema prioridade e motivação, a cada instante.
Agradeço ao tempo as bofetadas que me dá, para me acordar no meio dos arrependimentos desnecessários e dos desperdícios sem justificação possível.
Agradeço ao tempo o facto de ter tempo para aprender. E de o poder gastar a ser feliz e a contribuir para a felicidade dos que me rodeiam.
Parece muito simples visto desta forma. E é. Estupidamente simples.

Nem mesmo a esperança pode arvorar-se de intemporal.
03
Jun05

A POSTA QUANTAS DEI

shark
givemefive.JPGEu dava cinco sem tirar. Nem pôr. Agora empederniu-se-me a língua...
Já falei com diversas pessoas acerca do assunto e não consegui encontrar uma posição consensual. Mas hoje não vou falar de posições, por muito que reconheça ser um tema inevitável para uma próxima posta. Hoje vou ver se aprendo como se fazem as contas na importante questão do "quantas dei seguidas" e da não menos importante matéria do "quantas ainda consigo dar, mesmo intercaladas".
Todos conhecemos as lendas urbanas dos campeões que exibem nas ruas, sem humildade nem pudor, a ladainha do "dava-te três seguidas". Ou mais, consoante os cálculos de cada atleta...
As tabuadas variam, ao que entendi. E para verem que a questão não é assim tão simples coloco-vos perante exemplos práticos. Vejamos: o que se conta como uma bem dada? Será uma em que ele atingiu o objectivo que perseguia ou uma em que ela exibiu com fulgor a evidência da sua satisfação?
Nesta fase a coisa é fácil: uma bem dada é quando ambos cortam a meta, sendo desportivamente muito bonito quando os atletas a cortam em simultâneo. Do tipo ganhámos os dois.

O problema, raro, coloca-se quando passamos à contagem de duas. Dei duas seguidas significa o quê?
Para alguns quer dizer apenas "vim-me duas vezes". Para outros, de uma escola diferente, quer dizer "veio-se duas vezes". E ainda existem os que só contam duas quando são bem dadas (ver exemplo acima), repartindo-se os louros e as medalhas de forma equalitária. Não interessa quem ganha, o que conta é participar.
Nestas três versões existem outras tantas interpretações possíveis. A primeira enquadra-se na escola clássica do neo-fanfarronismo. O macho típico desta corrente de pensamento assume, invariavelmente, um estatuto de semi-deus aos seus próprios olhos. Mas existe um outro par de olhos no lado oposto da barricada. E nem sempre confirmam a contagem...
Já a segunda, embora altruísta, também pode incorrer num certo exagero. Sobretudo porque podem ter sido duas em trinta e cinco segundos e assim é batota, pois não demonstra a virilidade do gajo que afirma bisar.
A terceira opção, politicamente mais correcta, parece ser a mais consentânea com o rigor que procuro. Mas se as coisas nunca acontecerem em simultâneo temos duas vezes cada, o que pode ser confundido com quatro. Mas não são, julgo eu.

Isto dos números é muito confuso para mim. E não só. Não faltam também as descrições romanescas de noites inteiras "naquilo", jovens casais que se enfiam durante 72 horas seguidas num quarto de hotel. É muito tempo, dá para uma data delas seguidas. Porém, o instinto diz-me que serão alternadas pois mesmo o membro mais erecto não tem revestimento em titânio e a fricção pode implicar a irritação cutânea (uma gaita para a malta da alta competição). Donde se conclui que seguidas, seguidas, talvez não sejam tantas à luz dos mais elementares critérios contabilísticos. E que não existe um padrão universal para as contar, pelo que qualquer afirmação desse teor pode ser considerada pura propaganda.

Sinto-me menos homem por não poder competir em igualdade de circunstâncias com os melhores faladores, munidos de autênticas calculadoras de bolso embutidas na língua. Não faço ideia se já dei três, quatro ou mesmo mais, seguidas. Não posso entrar em comparações. Perco-me sempre nas contas. E depois há a tal disparidade nos critérios de medição que me baralha. Não me safo na análise quantitativa.
Vou pedir transferência para o controlo de qualidade. E aí, já posso fazer uma posta à medida da minha verdadeira vocação. A metro já vi que não resulta.

E vocês, sabem fazer as contas? Ou isto não passa tudo de uma mera estimativa?
02
Jun05

BLOGS DE MENINAS QUE DÃO A VOLTA POR CIMA DEPOIS DE UMA DESILUSÃO

shark
Waiting for the perfekt man.jpg
E eis-nos chegados à nossa habitual rubrica no programa “Como Vindes Cá Parar”. Não sei se já vos referi, mas gosto muito de rubricas habituais. É uma forma muito arrumadinha de vendermos o nosso peixe. Damos um nome à coisa e vamos botando umas larachas a (des)propósito seja do que for.
O problema é que eu não sou um gajo arrumadinho. Antes pelo contrário. Funciono bem numa desorganização desde que seja desorganizada por mim. E sei sempre que papéis constam das duas pilhas com cerca de trinta centímetros de altura que ornamentam o tampo da minha secretária como dois enormes arranjos de flores murchas.

E a despropósito de coisas murchas, regresso ao tema (à rubrica) principal desta posta que é, como já terão percebido, a análise das curiosas expressões que atraem freguesia ao charco via motores de busca.
A que mais me intrigou do mês passado, “a antiga adolescência”, fez-me pensar no conflito de gerações, um fenómeno sempre controverso e actual. E intrigou-me por ser uma expressão que joga certo com a minha forma de estar na vida. Sou um digno representante da antiga adolescência que, por se manter presente na minha atitude, se transfigura numa moderna adolescência pela sua permanente actualização.
A antiga adolescência era um nadinha desvairada. Pelo menos a minha. E recomenda-se.

"Generosidade", outra expressão importante nos critérios de busca, é o que não falta nesta casa. O charco é generoso em tudo, mesmo nas suas fraquezas. Um mãos largas...
Mas também é generosa a expressão que dá o título a esta posta. Exemplos a seguir, sem dúvida. Tristezas não pagam dívidas, isso qualquer menina desiludida sabe, e há que dar a volta seja por cima, por baixo ou pelos lados.

“Comentários sobre medicina alternativa” têm muita procura no charco. E com alguma legitimidade, pois o espírito do Charquinho não é alheio ao de qualquer boa ervanária. Aliás, sempre fiz a apologia das melhores ervas e da respectiva liberalização nos consumos portugas. (Legalize it!)
Terapia de grupo também acho piada. Mesmo em grupos de dois. Mas isso já a medicina tradicional descobriu também...

Se há uma expressão que faz todo o sentido encaminhar pessoas para o charco é esta: “a química que existe no beijo”. Tá tudo aqui, o que há a saber sobre a química e sobre o beijo (com exemplos práticos). A química que existe no beijo, só para resumir e vos poupar às respectivas fórmulas, é basicamente idêntica à da nitroglicerina. Pelo menos no efeito, quando a coisa se agita.

E termino a rubrica com um mistério: “lista de schindler – quem era a menina de vermelho”. Eu, que assisti à estreia do filme em solo germânico e chorei que nem uma madalena no fim por causa da reacção dos krauts, preocupou-me mais na altura perceber o porquê de o Spielberg fazer tanto barulho em torno de um playboy alemão porreiraço e deixar à margem um discreto portuga que morreu na miséria depois de salvar mais de 30 mil judeus. Aristides de Sousa Mendes, um dos meus heróis.
Se calhar era por o nome ser mais comprido e difícil de pronunciar...

Ah, a menina de vermelho era a mesma que protagonizou mais tarde o célebre “The Woman in Red”. Como ela cresceu...
Fez-se uma mulherzinha.
01
Jun05

TEMPO DEMAIS

shark
Boy_Watching_TV.jpg
Ajeitou o colarinho do casaco, tentando vedar todas as passagens para o seu pescoço que o vento frio conseguia encontrar. Depois esfregou as mãos, uma na outra, em vão, para obter com a fricção o calor que o rigor daquele inverno lhe negava. Olhou em volta pela milésima vez e encontrou apenas os rostos anónimos de quem passava, por coincidência, naquele lugar soprado com gelo granizado, naquele momento de espera por alguém que teimava em não aparecer.
Tanta gente desnecessária, os outros, diferentes na sua própria ideia, absolutamente idênticos aos olhos de quem não os queria e não os conhecia e apenas os focava na ânsia de distinguir enfim uma cara familiar. De uma promessa se tratava e ela que a cumpria desanimava e gelava como a esperança de que o que havia não terminaria ali. No frio, na espera e na impossibilidade real de se repetir a oportunidade que concedera por piedade no leito de morte da relação que tentava salvar.
O relógio de pulso não mentia, quartzo fiel e ponteiros implacáveis a avançar para o ponto final, do fim da paciência para esperar sem sucesso alguém que se calhar nem a merecia. Mulher bonita e zangada, frustrada por aturar os piropos idiotas e ordinários da maioria dos imbecis que a apanhavam pelo canto do olho e não conseguiam reprimir o entusiasmo juvenil. Gaiatos crescidos, vulgares. Todos nojentos e absurdos na semelhança que cultivavam entre si, machões.

Verificou no painel publicitário os números que o orientavam no padrão escolhido para medir, entre outras coisas, o tamanho do atraso que as fêmeas da espécie defendiam como uma espécie de tradição. Parvas, a maioria, faziam-se caras na demora para entregarem de borla o coração descontrolado que as traía no momento fatal, um pouco depois.
Ele imaginava-se ampulheta, sangue a escorrer num fio, da cabeça para os pés, tempo escoado de um espaço passado para o outro, vazio, que representava o futuro por preencher. Enfiou de novo a cara por detrás do jornal desportivo que o protegia das rajadas danadas, tremia, mal preparado para a mudança do clima e para a revolução que antevia quando, inevitável seria, lhe faltassem os pretextos para continuar à espera de alguém.
As outras pessoas passavam, alheias ao fulano incógnito que as espreitava às vezes por cima do jornal que não conseguia ler. O desconhecido, excepto para si mesmo e para alguém que lhe prometera um encontro, quebrar o gelo e recomeçar. Como se um barco naufragado pudesse por magia elevar-se do fundo do mar e navegar outra vez...
Ilusões que não alimentava fazia tempo, muito mais do que se dispunha a esperar, ao frio, por alguém tão importante afinal como as outras, jeitosas, que passavam perto o bastante para as cobiçar e lhes afirmar sem reservas uma inesgotável fonte de potência sexual. A mesma que lhe falhava, tantas vezes, na hora da verdade em que estava na hora de provar o desejo e o amor por alguém que já não tinha vontade de esperar.

Agachou-se para apanhar um dos muitos ganchos que enfiara pelo cabelo, insistência, para ficar ainda mais bela aos olhos de alguém que a magoara, por mais do que uma vez, um canalha, sem palavra, traidor. Tombou-lhe junto aos dedos uma lágrima, de raiva como ela queria acreditar, de desilusão e tristeza pela espera fracassada, pelo amor que antes sonhava na armadura reluzente de um príncipe encantado, corroída pela ferrugem que a invadiu quando a inércia dominou o seu tempo por tempo demais.

Dobrou o jornal e enfiou-o debaixo do braço, despeitado, no preciso instante em que um vulto de mulher se agachava no lado oposto da estrada, junto a uma antiga camisaria. Não lhe distinguiu as formas, tudo bem, nem se ralava, fartura de caça na sua coutada privada, pólvora seca que cegava algumas e as trazia do céu para onde julgavam voar e de onde afinal apenas caíam. Trofeus na parede, exibidas em conversas gritadas diante de uma plateia tão íntima como as pessoas que passavam e ignoravam a razão de tanto rancor espelhado nos olhos do homem que fingia sorrir, careta forçada, enquanto se esforçava para dobrar um simples jornal.

Nenhum se ralou com o ângulo de onde o vento bufava. A um empurrava, pelas costas, o mais depressa que podia, para longe daquela azeda e enregelada recordação. Ao outro oferecia resistência, contrariava a passada, simulava um obstáculo natural, alguma razão para adiar o momento da partida para uma terra chamada nunca mais. Ambos vergados pela força do sopro glaciar que os tolhia de medo. Medo da saudade que poderia mais tarde vencer o orgulho ferido, feroz, mais o desdém encenado para consumo de terceiros interessados apenas nas inconfidências que a vingança fazia cuspir. Medo da vergonha colada na testa dos mais derrotados, os menos habilitados para contornarem o fantasma da rejeição.

No meio da estrada vazia, um gancho de cabelo recebeu a carícia das folhas dispersas de um jornal que o vento, na voragem da sua teimosia, arrastou para assistir por instantes à recriação por analogia de um final feliz que um simples desencontro de olhares impediria de acontecer

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