Nos assuntos da cama não existem almas gémeas. Precisamente porque não há duas pessoas iguais e porque ainda que o fossem seriam sempre de alguma forma condicionadas pelas influências que recolhessem ao longo das suas vidas.
Torna-se por isso natural que tenhamos que nos adaptar uns aos outros em matéria de sensibilidade, de ritmo, de sentido de oportunidade e de mais uma série de coisas susceptíveis de fazerem toda a diferença no momento das concretizações. É o mínimo que se pode exigir a quem se predispõe a partilhar um acto tão sublime com qualquer outra pessoa.
Por outro lado, e sobretudo quando mantemos relações amorosas sem termo certo, é fundamental que nunca releguemos para segundo plano o investimento pessoal nos aspectos que podem minar o futuro que perspectivamos.
Na cama, essa é para mim a regra fundamental. E porquê? Porque é inevitável o espectro da monotonia numa relação isenta de culto. O culto do prazer, para definir melhor os contornos do meu raciocínio.
Claro que outros componentes são vitais para que tudo corra pelo melhor, dentro da cama ou fora dela, mas hoje decidi concentrar-me na questão do sexo. Para variar.
Para nos sentirmos especiais para quem nos usufrui, esse alguém deve estar atento(a) aos pormenores. Um exemplo concreto: se um homem não tem a atenção necessária para identificar de imediato uma novidade no arsenal de lingerie da sua parceira, então, desculpem lá, mas não merece a sorte que a vida lhe ofereceu. Porque ignora ou subestima o esforço que ela faz para se tornar atraente e apelativa aos seus olhos. E assim vulgariza a pessoa e a relação, estraga o clima e é bem capaz de ficar a ver navios nessa noite onde tudo se conjugava para mais um excelente momento a dois. É assim e não há hipótese de ser visto de outra maneira.
E mais: perante tais gestos de exibição de interesse na nossa pessoa não podemos limitar-nos a apreciar ou mesmo a louvar a intenção. Devemos sentir-nos obrigados a corresponder na mesma moeda, dentro dos meios ao nosso dispor. O culto também se manifesta dessa forma.
O fantasma da monotonia, e ninguém me venha dizer que está isento(a) de medos (e de certezas...) nesse domínio, existe e deve ser combatido com firmeza e convicção. Se gostamos da coisa (e da pessoa) compete-nos levar a sério todas as ameaças à felicidade que devemos perseguir com obstinação.
A fantasia, algo que soa ridículo a quem não percebe nada destas coisas, é um instrumento valioso para contornar esse perigo do adormecimento de uma relação à sombra da bananeira.
E isto não é discurso de tótó, como saberá quem vive o assunto à luz de uma perspectiva similar à minha, até porque a fantasia (como a palheta) só serve de alguma coisa se lhe associarmos a vontade e a tesão necessárias (perdoem-me a franqueza).
De resto, incluo o papel da fantasia numa relação no mesmo plano da minha tola em que assumo que estou pronto para abraçar o Viagra no dia em que essa necessidade se manifestar.
Vale tudo para mantermos a nossa vida sexual numa boa onda.
A fantasia é o reino da liberdade colocado ao alcance das nossas cabeças. É um mundo perfeito, ideal, que podemos recriar com todo o empenho e carinho para servir o mais simples dos propósitos: receber e proporcionar prazer nos actos em que nos envolvemos.
E por fantasia não entendo (nem deixo de entender) o recurso a fetiches ou outro tipo de extravagâncias. Por vezes basta a conjugação de um cenário bonito com um discurso agradável para se criar o melhor clima para nos embrulharmos numa cama (ou noutro sítio qualquer). Mas tudo é possível e não existem (não devem existir) restrições nessa importante e delicada matéria. O limite é o da intimidade criada e o da vontade de fazer mais e melhor para fomentar o desejo noutra pessoa. E é sempre compensador o resultado obtido com base nesta motivação tão simples quanto eficaz e encantadora (para quem entenda a dedicação implícita nesse esforço de sublimação da partilha): o retorno faz-se sentir na própria ocasião que visamos estimular...
Os dois princípios fundamentais para mim (a Liberdade e o Amor) estão presentes nas minhas decisões e no meu comportamento no que respeita às relações amorosas. Em ambos os casos, consolidam e justificam qualquer aposta que entenda fazer em prol de uma relação saudável e feliz.
É uma receita ganhadora e não estou a armar-me aos cucos com tiques de
Júlio Machado Vaz. O que digo, afirmo-o com base nos meus pressupostos subjectivos e absolutamente questionáveis por terceiros. É a minha opinião, resultante da minha combinação de factores e pode nem resultar com outros tipos de pessoa.
Mas lá que vale a pena ter estas coisas em conta e nunca as descartar de forma leviana, isso posso eu garantir-vos com base na minha própria experiência.
É um dos segredos da minha maneira de viver feliz.
Depois digam que nunca vos dei nada...