30
Jun05
OLHOS DE FOGO
shark
Bastaria a brisa provocada pelo bater de asas de uma borboleta para arrepiar aquela pele. Assim pensou, no momento em que o corpo dela arqueou com um toque suave dos seus dedos num ponto qualquer.
Olhos fechados, dentes cerrados, cabelo espalhado no lençol feito planície rasgada pelo curso de um rio, visto do céu. E ele planava ajoelhado, sonhava acordado, gemia por dentro a antecipação do prazer que ela lhe deu.
Tremia, quando as suas mãos abertas lhe percorreram os caminhos como um mestre shaolin sobre papel de arroz. Sorria, quando os lábios pousaram no ventre que pulsava carente numa cascata de sensações. Magia, no momento em que a boca se entreabriu como um portão avermelhado e a língua cativa celebrou, por fim, a alegria da libertação.
Deslizou pelo corpo suado, peito molhado, depois da explosão que ela lhe gritou. Passeou. Sem pressa, com o olhar. Rosto crispado pela vontade de a ter. Chispas de fogo, labareda de emoção, ardiam-lhe os dedos quando de novo a tocou. E ela, em silêncio, arfava quando anuiu. Consentiu-lhe a investida com um aperto nas nádegas e um ligeiro puxão, desejo estampado na mais bela expressão que o seu rosto esculpido conseguia produzir. E ele, firme e destemido, avançou.
Tornozelos nos ombros, carícias nos lóbulos com os dedos dos pés. O amante guerreiro, conquistador, pingou-lhe nos seios a água que o corpo largava no fragor da invasão. Era sua, rendida, mas ainda lutava nas costas onde lhe sulcava frestas com as unhas da paixão. Bandeira branca desfraldada, ao lado de uma espada que os seus olhos empunhavam quando ele a possuiu. Campo de batalha sem lugar para perdedores, vitória anunciada no rufar de mil tambores. O som do armistício, cantado a dois.
Tombaram lado a lado, esgotados, quando assinaram em simultâneo o tratado de paz.
Refrescou-a com um sopro que a percorreu por todo o corpo e depois deixou-se encantar em serena contemplação. Olhos nos olhos, descobriu-lhe na íris o reflexo desnudo do desejo carnudo que não esmoreceu. O dela e o seu.
Sentiu-lhe o calor. E ateou outra vez...