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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

30
Abr05

SALVAR UMA LÍNGUA

shark
empata.jpg
Percebi, no dia em que pendurei pela primeira vez a toalha de banho no suporte que tinha mais à mão, o quanto nós homens temos de palermas. Fiquei todo orgulhoso, confesso, da proeza infantil que o espelho reflectia. Ganda pinta, pá, uma toalha tão grande e pesada e eu...? Espectáculo.
Quando era mais puto, estas glórias partilhavam-se. “Eu até sou capaz de aguentar mais de dez minutos com a toalha pendurada no coiso”. Extraordinário. Os outros riam-se mas por dentro ficavam em pulgas para experimentarem a ver se também eram capazes. E o mesmo raciocínio aplicava-se a qualquer proeza, real ou fictícia, que nos enfatizasse a virilidade aos olhos dos outros.

Andamos em permanente competição. Seja pela disputa da atenção de gajas (há tipos que são capazes das figurinhas mais patéticas no calor da refrega, mesmo assumindo o papel de empatas), seja pela simples necessidade de afirmação pessoal. Isso não morre na adolescência. Mais forte, mais poderoso, mais viril, mais sedutor, mais viril outra vez. E mais inteligente ou espertalhão, se nada do resto provocar o efeito pretendido ou o visado perceber que não tem hipóteses nesse domínio. A virilidade passa para a língua.

O problema da língua (e eu salvarei Uma pelo Monty) é que não dá para pendurar toalhas, ainda que bem ginasticada. Trinta e um de boca, qualquer lingrinhas sem cabide para uma peça de lingerie feminina que seja é capaz. Mas acaba por surgir o momento da verdade (ou não) e a língua por si só não o sustenta. Pensar com a pila e nomear a língua porta-voz não resolve o problema. É preciso algo mais e isso não deriva da simples confrontação das ideias ou da firmeza nas abordagens teóricas. Qualquer gajo sabe que é assim. Porém, a sede de conquista cega o guerreiro à sua debilidade e ele parte eufórico para o campo de batalha. Derrotado à partida.

Somos ainda mais palermas quando não entendemos que está na hora de desistir. Tornamo-nos maçadores, inconvenientes até. Mesmo depois de constatarmos que a língua mal pode com uma toalhinha de bidé não queremos dar parte de fracos. Acreditamos até ao fim e o fim pode espelhar-se num gigantesco trambolhão, na tangibilidade que os factos possuem quando nos esfregam nos olhos a evidência da figurinha de parvos que fazemos quando avançamos destemidos para o vazio.

Faz parte da nossa natureza machona, mas é algo que nos conduz muitas vezes para becos sem saída, para desgostos, embaraços e até para conflitos sem justificação. Dizem que é um problema hormonal e eu acredito, porque não?
Até porque preciso de uma explicação cabal para o facto de ainda hoje não resistir (só de vez em quando) ao teste da toalha para confirmar que ainda não está na hora de forrar a parede de toalheiros nem de confiar em exclusivo ao precioso músculo bocal a exibição dos meus atributos, o pilar onde assenta a minha estratégia.
Tê-los no sítio, lamentavelmente, é um mérito que nem a língua mais desembaraçada consegue substituir. E por muito que a pila se esforce, não há teoria que nos valha quando ao entusiasmo verbal temos que associar os actos que o substanciam.
27
Abr05

A POSTA 69

shark
Para alguns não passa de um número. Para outros não passa de (mais) uma fantasia por concretizar. Ainda restam os que lhe acham piada, ideal para uma bem sucedida tirada brejeira e nada mais. Para mim é um símbolo do sexo como eu o vejo: na maior intimidade possível entre duas pessoas, a entrega total ao corpo do outro, a dois.

Acho que seria capaz de enunciar 69 boas razões para levarmos a sério o que ele implica na nossa simbologia sexual. Mas isso tornaria esta posta em mais um lençol dos meus e eu ando a ver se encurto a coisa para não vos obrigar a lerem na diagonal. Isto embora eu acredite que o tema em apreço justificará a vossa atenção.
Porque não é um tema fácil de conversar, embaraça-nos. Como tudo o que mexa demasiado com as vergonhas que o mundo se esforça por nos incutir. Credo, pode-se alguma vez falar de uma coisa tão intima, tão nossa? Eu acho que sim, embora admita que nesta primeira abordagem ao tema me queira cingir mais ao aspecto teórico da questão.

E a teoria começa e acaba precisamente no que representa para mim essa posição na qualidade de amante. Sou um incondicional. Quando uma relação entre duas pessoas atinge tal grau de empenho e de desinibição, não duvido que estamos perante um caso sério de paixão ou uma feliz reunião de dois amantes como eu gosto de os entender. Sem vergonhas, sem nojos, sem falsos pudores, capazes de apreciarem os corpos enquanto fontes inesgotáveis de proximidade e de prazer. Vou mais longe e, embora possa não parecer, defendo esta noção no âmbito do romance também. Quando duas pessoas trocam fluidos, algo de cada uma entra em definitivo no sangue da outra. Nessa perspectiva, tudo o que venha é bom, se vier de alguém especial. Por quão bizarro isto vos possa parecer.

Eu não consigo emporcalhar as coisas belas. E nunca escondi que integro o sexo nesse conjunto das maravilhas que a vida pode oferecer-me. O sexo tem que ser um objecto de culto, de uma forma saudável, à medida do desejo e da sensibilidade de cada um de nós. O número mágico, que evoca a reciprocidade indispensável numa relação sexual, representa para mim uma das mais intensas e agradáveis manifestações do que dois seres humanos sem merdas são capazes de se proporcionar. Representa o meu ideal de perfeição, pelo que implica em matéria de sintonia, de entrega e de partilha. Não é uma condição. É uma imagem que traduz a minha forma de ver as coisas e de as sentir.

Claro que nem duas postas bastariam para dizer tudo o que me ocorre acerca desta minha preferência, de entre algumas pelas quais nutro particular devoção. E se a vossa reacção me encorajar (confesso que não a adivinho nestes assuntos mais "melindrosos"), não terei qualquer problema em retomar o assunto sob uma forma mais incisiva, sob qualquer formato.
Mas julguei apropriado começar pela aritmética antes de passar ao estudo da função. O 69 não é de facto um número qualquer quando associado ao sexo que o imortalizou na sua iconografia e na nossa imaginação.

Estou disponível para trocar impressões convosco acerca do tema, nem que à luz da sua inegável carga emocional ou da interpretação que lhe dou (de resto tão válida e pertinente como qualquer outra).
E nem me interessa prioritariamente saber se, como eu, já praticaram. Não é de um censo que se trata, mas do bom senso que nos implica o imperativo moral de combatermos todos os tabus.
25
Abr05

A POSTA NA LIBERDADE

shark
De cada vez que me encontro com blogueiros(as) desfaço quaisquer interrogações acerca do meu envolvimento nesta comunidade, excepção feita ao problema que referi na posta anterior.
Em Beja, e no âmbito do Dia Mundial do Livro, a Biblioteca Municipal da cidade incluiu no programa das comemorações um debate acerca da blogosfera. Seria o pretexto para uma troca de impressões que me deixou esclarecido acerca do que nos une, apesar da diversidade de perspectivas. Um painel onde a homogeneidade não imperava reflectiu, ainda assim, quase em uníssono, a paixão que nos move e a pressão que nos intimida.
E se a anfitriã, que abriu a conversa com chave de ouro no seu tom informal de blogueira convicta, deu o mote para o improviso das restantes intervenções, fiquei impressionado com o espírito de grupo que quem não bloga pôde constatar entre nós. E isso ainda foi mais evidente ao longo do dia, enquanto convivíamos.

Blogar é uma actividade da qual se pode dizer que "não são só flores", como o Zé Mário frisou com exemplos com que todos nos confrontamos. Mas tem inegáveis compensações para quem busca na blogosfera mais do que uma sede de projecção absurda (e na maioria dos casos sem pernas para andar, como a Catarina referiu) ou uma mera extensão da vaidade saloia que se exibe fora dela. Claro que um exemplo paradigmático de como se pode blogar em busca de maior visibilidade, mas com argumentos concretos e inquestionáveis, foi fornecido pelo Ricardo na primeira pessoa. A blogosfera pode efectivamente constituír um trampolim para os mais capazes de entre nós, os "sobredotados" da blogosfera que já o eram fora deste contexto. Mas só para estes (ou quase). E ainda bem.

A seriedade do que fazemos passa apenas pelo facto de darmos o nosso melhor por respeito a quem se dispõe a dar-nos atenção. Se optamos pelo tom intimista, como é o caso deste blogue, pelo tom divertido de pausa para o final de tarde (como a Gotinha assumiu relativamente ao seu blogue) ou pelo exercício da criatividade que caracteriza o blogue do João Pedro da Costa (que forneceu a uma assistência onde os blogueiros não estavam em maioria um verdadeiro "blogs for dummies"), essa escolha é irrelevante em face do que interessa: blogar por gosto, sem perder de vista a consideração que quem visita os nossos espaços merece.

A blogosfera é um espaço onde a liberdade é rainha e no qual se geram ligações fortes entre as pessoas. E estas duas realidades conjugadas inevitavelmente recordam-me o 25 de Abril. De resto, estranho seria que qualquer blogueiro ignorasse esta data.
Há pouco mais de três décadas, mesmo que existisse, a blogosfera não aconteceria em Portugal. Nem o ajuntamento de pessoas que a cidade de Beja acolheu. As conquistas de Abril fazem-se sentir das mais variadas formas. E uma das que mais se gravaram na minha memória dos dias da Revolução é precisamente a alegria e a vontade de fazer coisas, de reunir as pessoas em torno de projectos que funcionam como condutas para a Cultura fluir. De fazer o que antes o fascismo condenava e proibia.
Essa foi a imagem que a iniciativa da Biblioteca Municipal de Beja, à qual exprimo a minha mais sincera gratidão pelo convite que me endereçou, me transmitiu. Mostraram-me o rosto da liberdade numa das suas mais belas expressões.
22
Abr05

A POSTA BLOGUEIRA II

shark
E assim chegou o final da semana sem que eu conseguisse dar sequência ao compromisso que assumi perante mim próprio e perante vós. Falar da blogosfera.
O pouco tempo que os dias me deixaram investi-o mais na busca das opiniões das outras pessoas do que na maturação da minha. Que, às tantas, está reflectida no conjunto das postas e dos comentários que marcam a minha presença nestas andanças.
Mas não foi essa conclusão que me impediu de concretizar o que prometi. Foi a vida “lá fora” a chamar-me de volta, a apelar para que desviasse um pouco a minha atenção deste mundo à parte. Por instantes, a gestão do meu tempo privou-me de blogar como gostaria.

Acontece com pouca frequência, desde que entrei para a comunidade blogueira. E isso diz bem da forma como me deixei “agarrar” por esta realidade intensa. Intensa demais, como o provam as discussões acaloradas, as amizades aceleradas e as paixões assolapadas de que nos damos conta no dia a dia deste nosso ponto de encontro.
Na blogosfera tudo acontece a correr. Assim que uma nova posta entra, as anteriores entram num estado de pré-arquivo, tornam-se obsoletas. Até desaparecerem numa gaveta que pouca gente se dá ao trabalho de abrir. E isto concretiza-se no espaço de dias.

Este ritmo alucinante (pensar, escrever, editar e seleccionar a ilustração para a posta, responder aos comentários, visitar e/ou comentar nos blogues da nossa preferência, enviar e responder emails. Todos os dias, ou quase.) presta-se a quezílias derivadas de erros de interpretação. É fácil passar de bestial a besta na blogosfera. Basta uma posta ou um comentário infeliz. E as segundas oportunidades rareiam.
Este factor acresce uma pressão suplementar sobre quem bloga por gosto e não gosta de blogar às turras.

E é desse conjunto de pressões que resultam as paragens forçadas, provisórias ou definitivas, de muita gente boa que faz falta na blogosfera como a entendo. Isto não pode nem deve fazer-nos mal e não sei se essa premissa está garantida, à luz do que referi. E a vida tem que acontecer sobretudo longe do monitor. O João Pedro da Costa, uma das pessoas mais fascinantes que a blogosfera já me deu a conhecer, deixou-me num comentário à Posta Blogueira I um recado, dos que só um amigo se motiva a deixar, a propósito dessa verdade indiscutível. Alertou-me para um excesso que tendo a cometer. Eu adoro a blogosfera e não lhe renego as qualidade que já enalteci, continuarei a blogar com a mesma vontade e imensa dedicação.
Mas não quero acabar assim:

pauza.jpg
19
Abr05

A POSTA NA FOTOGRAFIA

shark
australian dust storm 12nov02.jpg
O vento, o verdadeiro e não uma qualquer brisa passageira e fugaz, segredava-lhe ao ouvido histórias de encantar. Ela ouvia e sorria, deliciada. E oferecia-lhe em troca palavras que ele espalhava pelo mundo com um sopro avassalador.
Todos os dias o vento tocava-a, sem contudo a conseguir agarrar. No seu coração em remoinho, a insegurança voava descontrolada de cada vez que a sabia próxima dos que lhe podiam deitar a mão. Algo que o destino o privava de concretizar.
E ele bufava a impaciência, agitava-se num temporal, sempre que a imaginava num futuro distante do seu. Longe dela, a revolta, para não a intimidar.

Um dia, quando o vento chegou junto dela para a saudar descobriu-a com um intruso. Era assim que ele o sentia, como uma ameaça, mas nada podia fazer. Ela sorria para o tranquilizar, dizia-lhe que nada mudaria na sua relação. Porém, nesse dia, ela não se interessou pelas histórias que o vento trazia para lhe segredar. Antes ouvia as palavras do intruso, que a seduzia com proezas conversadas e um interesse por ela que a lógica não conseguia explicar.
Posso provar-to, dizia ele, com o vento a uivar de raiva nos cumes das montanhas ao longe. O que mais queres que faça por ti? E ela pediu-lhe que lhe explicasse o mar que não conhecia, aquele de que o vento lhe falava nas suas histórias de força indomável e de vontade de vencer.

Dias depois, o intruso regressou. Com uma fotografia das ondas, mais um leitor de cassettes sofisticado que reproduzia o som da rebentação. Ela apreciou deslumbrada, convencida de que sabia agora do que o vento falava quando a encantava num murmúrio.
Foi então que o vento decidiu reagir. Com um sopro mais forte, carregou desde a praia uma casca de búzio que depositou aos seus pés. E ela apanhou-o e pôs-se a escutar o som que o vento lhe trazia, sereno e distante, diferente do mar revolto das histórias que ela lhe ouvia contar. O intruso sorria, divertido, perante a imagem patética que o vento recolhera para simbolizar o poder dos oceanos. Mas ela não lhe prestou atenção.

E o vento, que muito a queria, exibiu-lhe o mar como o sentia. E no fim ofereceu-lhe uma flor.
19
Abr05

A POSTA BLOGUEIRA I

shark
Parte da minha vida acontece na blogosfera. E já está a acontecer a partir dela, no exterior desta comunidade virtual à qual me orgulho de pertencer.
Com as coisas postas desta forma, é natural que seja fácil e agradável para mim falar acerca deste tema. Gosto mesmo de blogar. E talvez comece por aí, por vos explicar a natureza da minha motivação. Para que percebam porque insisto em investir o meu tempo e em captar o vosso para o que acontece neste blogue.

Sinto este espaço como uma segunda casa, um local onde gosto de receber pessoas. A minha blogosfera são as pessoas que a fazem, nas postas e nos comentários. Comunicação é a palavra-chave neste contexto onde a palavra é quem mais ordena. Interacção entre pessoas, fomentada a partir de um texto que constitui o ponto de partida para o diálogo nas caixas de comentários. Blogar sem a caixinha não faria sentido na minha forma de estar na blogosfera, embora compreenda perfeitamente a opção contrária. A diversidade que evidenciamos começa precisamente pelas diferentes concepções e ambições de quem bloga. A capacidade, a personalidade e a natureza dos objectivos de cada um(a) de nós impõe abordagens bem distintas no tema e, sobretudo, no tom. Distante ou amigável, divertido ou mais para o sério, informativo ou intimista. Há de tudo e outra coisa não seria de esperar. Há realidade e fantasia, criatividade e letargia, lágrimas e sorrisos, inimizade ou amor. Em plena aceleração.

Eu blogo com maior regularidade neste Charquinho, na Casa de Alterne e no Afixe. Em cada um deles encontro apenas um elo de ligação: precisamente a importância atribuída ao papel dos comentadores. Os comentários são a alma destes blogues. No resto, basta compará-los (estritamente na óptica do "pano de fundo", pois não faria sentido outro tipo de comparação) para distinguir as diferenças. A semelhança reside apenas na apetência pela interacção entre quem faz os blogues e quem os visita. É a perspectiva que defendo, o modelo de blogue que me seduz. De resto, como muitos outros, iniciei-me como blogueiro na pele de comentador.

Acredito na blogosfera como uma excelente plataforma para usufruir da liberdade de expressão. E para aprender a gostar das pessoas a partir do que elas valem, mais do que pelo que parecem (sem descartar farsantes, que os há em todo o lado). É um antídoto contra o veneno manso da solidão que tanta gente afecta. É o embrião de um meio de Comunicação Social alternativo e não faltam exemplos para justificar o meu optimismo. E este conjunto de factores, somado ao cada vez maior número de pessoas excepcionais que tenho conhecido por esta via, é justificação quanto baste para me entusiasmar na respectiva divulgação. Tal como acontecerá no evento cujo Programa completo a Mar acaba de publicar no seu Espelho.
18
Abr05

EU SEI...

shark
shark21.jpg
...que me comprometi a postar hoje a primeira de uma sequência dedicada à blogueirice como o esqualo a entende.
Porém, quando completei a tentativa inicial deparei-me com uma estucha indigna de vós.
E ainda por cima troquei de carro (pela primeira vez mudei de marca e virei as costas a um compromisso de 20 anos com a Citroën) e uma pessoa muito especial insistiu comigo para irmos dar uma voltinha de estreia. Eu sei que posso contar com a vossa compreensão, caso me estique na quilometragem e a posta só possa entrar amanhã.
Porém, mesmo considerando que hoje não acordei muito inspirado e que o assunto em causa merece uma abordagem em condições, tentarei mais pela fresquinha dar início ao trabalho que vos sugeri.
Até lá, considerem-se bafejados pela energia positiva do vosso tubarão virtual.
17
Abr05

A POSTA FICCIONADA

shark
Tinha cerca de vinte anos quando a conheci. Por mero acaso, na sequência de conversas cruzadas à mesa de um bar. O que dizia prendeu-me a atenção. Mais o fogo no seu olhar. Destoava em absoluto do grupo de betos que a rodeavam e isso tornou-se mais evidente à medida em que o nosso diálogo a dois evoluía. Quando ninguém reparava, sugeri-lhe que fossemos ao balcão buscar mais cervejas e ela anuiu.
Uma hora depois ainda lá estávamos, conversa puxa conversa. Falámos de política no âmbito estudantil, da Revolução e até de futebol. Acabámos a falar do amor.

O cabelo, muito comprido, parecia talhado para adornar aquele rosto (dos mais bonitos que algum dia conheci). E eu bebia-lhe as palavras, encantado, cheio de paciência pela oportunidade ideal. Um olhar de tristeza que ela lançou ao seu grupo, que se preparava para debandar, foi o sinal que o destino me deu.
- Tens horas para chegar a casa?
Disse-me que não, com uma expressão de curiosidade.
- Diz-lhes que na nossa conversa descobriste que joguei à bola com um primo teu e que me ofereci para te levar a casa, mais logo.
E ela, atordoada, assim fez.

Entrámos para o carro dez minutos depois. Revelei-lhe a minha vontade de prolongar a conversa por mais algum tempo, incapaz de a imaginar longe de mim, um clique por dentro que me anunciou o nascimento de uma paixão. E ela, receosa mas irreverente, sorriu. Quem cala consente. Liguei o motor.
Olhou-me nos olhos, perplexa, quando parei junto à fronteira com Espanha. Vamos? Tu és doido! Pois sou...
De vez em quando distraia-se da conversa, perguntava-me onde nos dirigíamos. E eu tranquilizava-a, afastava-lhe os medos com o mesmo carinho com que lhe afastava dos olhos o cabelo que os tapava. Ela acabaria por adormecer, algumas horas depois. E eu galguei quilómetros sem sono, inebriado pela visão do seu rosto que partilhava a custo com a autoestrada para Cadiz.

Acordou a bordo do ferry, a meio do Estreito, com Gibraltar pelas costas a desaparecer na bruma e o recorte das montanhas marroquinas a desenhar-se diante de nós. Ensonada, levou algum tempo a perceber e depois abriu a boca de pasmo. Mas tu és completamente maluco! Beijei-a pela primeira vez e percebi nesse instante que a história não acabava ali.


O sol brilhava em Tânger quando pisámos África pela primeira vez. Nos olhos dela, também. Deliciada com o que estava a acontecer. Sentíamo-nos tão próximos que mal conseguíamos afastar as nossas peles. Parávamos nos locais mais belos para matar as saudades dos beijos anteriores. Cada vez mais amantes, cada vez mais amor.
Quando a noite caiu convidei-a para partilhar comigo uma cama, num pequeno hotel à beira de um vale. E ela, rendida, aceitou.

Tremíamos ambos quando entrámos no quarto. De ansiedade e de emoção. E agora, perguntou. E agora fechas os olhos e embarcas para Plutão, foi o que lhe respondi, enquanto a puxava sem pressa para junto de mim.
Percorri-a enquanto ela deixou. Até não me aguentar mais por mais tempo fora de si. Descontrolada, como eu. Mais apaixonada a cada minuto que passava, comprimia-se contra mim como se quisesse entrar com a sua pele pela minha. E eu apertava-a em abraços que quase lhe tiravam a respiração, espalhava as mãos como um polvo pelo corpo magnífico daquela jovem mulher. Como se quisesse gravar-lhe em cada pedacinho uma marca da minha passagem, na vertigem de um permanente arrepio.
E ela depois, arrojada, a mimar-me. E os dois abraçados outra vez, como lapas, como um. Lacrados pela paixão que se gritou.

Tenho mais saudade ainda quando revivo cada uma das nossas carícias ou te recordo felina sobre mim. Mas é saudade feita da esperança que algures os teus olhos beijarão estas palavras. Saberás que não te esqueço desde então, todos os dias. A minha pele ainda é a tua.
16
Abr05

VISTO DAQUI

shark
No próximo fim de semana vamos falar de blogues e da blogosfera. Vamos falar de pessoas. De pessoas que blogam, como eu e cada um de vós. Vai acontecer em Beja e podem obter informação mais concreta no blogue da Mar, a minha sócia na organização do encontro das mantas e cujo empenho nesta iniciativa constitui o principal factor da minha adesão à mesma. Porque já sei do que ela é capaz. E porque se o sei, devo-o precisamente ao contacto que esta comunidade virtual nos proporcionou.
As pessoas que blogam, a forma como interagem a partir de um pretexto que é a vontade de comunicar, traduzida numa posta criativa e/ou na participação activa nos diálogos que se estabelecem nas caixas de comentários, são a blogosfera que se faz. O que se vê, o que se lê, o que se debate e as relações que se estabelecem a partir daí. Somos nós, cada um com o seu papel e na medida dos recursos de que dispomos e da forma como expomos as coisas que queremos mostrar ou dizer.

É muito simples, visto desta forma. E é argumento bastante para estender o meu envolvimento no fenómeno a três blogues onde posto, mais algumas dezenas que visito e onde comento com a regularidade possível, desde há alguns meses. Gosto mesmo disto e embora comprometa, com a participação no evento que citei acima, o anonimato que me esforço por preservar sinto-me motivado para contribuir para a divulgação do que construimos todos os dias. É isto que vai acontecer na noite alentejana. Uma prova de fé das pessoas que blogam no mérito desta realidade que nos uniu. Um grupo de blogueiras e de blogueiros disponíveis para conversar o que fazemos com quem quiser ouvir, seja "da casa" ou não.
É este o mote para incentivar a vossa presença como justifica a minha.

Nesse sentido e no de antecipar o debate que certamente acontecerá nessa ocasião especial, as minhas postas de toda a semana incidirão sobre aspectos directa ou indirectamente ligados a este nosso mundo à parte. Quero, no fundo, partilhar convosco alguns tópicos acerca dos quais já acredito ter algo de concreto para dizer (embora constituam, claro está, um reflexo subjectivo do tipo de presença que entendi assumir na blogosfera).

Convido-vos, pois, para uma semana blogueira diferente neste charco. Com a atenção concentrada no exercício de blogar, visto por quem vos serve de anfitrião numa das casas virtuais que visitam. Para conhecerem melhor a minha perspectiva e colaborarem comigo no sentido de a aperfeiçoar nas suas eventuais imprecisões ou lacunas, pois é meu objectivo merecer o tempo que gastam neste espaço, um bem escasso e precioso que me confiam e que me exijo retribuir à altura.
Mãos à obra!

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