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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

03
Dez04

A POSTA COM BICHO

shark
Lembro-me dos bichos-da-seda. Era o assalto às sapatarias em busca de uma caixa adequada ao milagre da criação em miniatura que nos dava para assistir, todos os anos, como uma moda que ninguém queria interromper.
Lagartas horríveis, cheias de patas, molengonas. Que depois teciam um casulo esbranquiçado, parecido com um pequeno ovo, acabando por eclodir sob a forma de uma espécie de borboletas desenxaibidas e sem piadinha nenhuma. Depois restavam as caixas de sapatos vazias, ou quase, com uma espécie de teias de aranha e os ovos vazios no fundo a fomentarem sem sucesso saudades dos bichos que desapareciam antes mesmo de lhes atribuirmos um nome qualquer. Pouco comunicadores. No fundo das caixas, restos de folhas secas. E essas é que me trazem os bichos-da-seda à memória.
Lembro-me de ser um dos muitos que forravam os finais de tarde da avenida Grão Vasco, em Benfica, muitos pais e muitas mães e imensas filhas e filhos, todos atarefados na recolha do sustento para as lagartas da caixinha. Empoleirados nas árvores, os putos mais diligentes ou os pais mais persistentes, depois de um dia de trabalho, à procura da melhor folha para nutrir os seus exemplares de criaturinhas feiosas que a natureza tão bem sabe produzir.
Vaidade dos pais afoitos, com os putos orgulhosos da colheita exposta em tons de verde vivo sobre o fundo das caixas de sapatos sem a tampa com buracos para os bichos poderem respirar. Sorriso sereno nas bocas dos velhos que acorriam à zona de propósito para assistirem ao agitado ritual. Pássaros desorientados pela confusão, espantados para as copas dos eucaliptos à entrada da Mata, à espera do sossego que lhes trazia a partida do sol e das famílias entusiasmadas que rumavam a casa com a felicidade nos olhares.
02
Dez04

CUSTOU-NOS MUITO A CRIAR

shark
Tenho pouca afinidade com o país vizinho. Ou seja, para mim nuestros hermanos não passam de parentes menos afastados do que os italianos e mais afastados do que os brasileiros, para só citar parte da família. Nada me move contra a generalidade dos espanhóis, desde que se trate de pessoas de bem. Admiro a forma como têm desenvolvido o seu país desde a adesão à União Europeia. Respeito o denodo com que defendem os seus interesses. Que vivam felizes e prósperos por muitos e bons.

Contudo, olho para o passado e vejo uma tendência inegável para a usurpação do nosso território (ainda não está formalmente resolvida a questão de Olivença e o resto foi sempre na base da força bruta). Olho para o presente e constato uma tendência visível para se apoderarem do controlo da economia portuguesa (a mudança progressiva dos grandes centros de decisão para Madrid é uma evidência. O peso crescente das empresas espanholas e respectiva pressão sobre o nosso tecido empresarial é outra). E quando olho para o futuro das relações entre os dois países vejo pelo menos um sinal inequívoco de sarilhos vindouros: os famosos transvases.

Assumo-me, pois, algo desconfiado quanto ao país dito irmão. O recente episódio do Prestige avolumou a minha precaução quanto aos interesses de Portugal que uma atitude radical por parte de Espanha poderá um dia afectar. Porque são os interesses do meu país que urge acautelar e não me fio na frágil autoridade da UE nesse domínio.
A península ibérica só existe no plano da Geografia. É actualmente ocupada por duas nações distintas na língua, nos costumes e em todas as diferenças que nem uma federação instituída em prestações suaves poderá algum dia destruir. Os laços que nos unem são imensos como o são os aspectos que nos distinguem e consolidam enquanto duas realidades que não podem nem devem misturar-se.

A soberania simbólica é uma fantasia de papel. A Grande Europa só prevalecerá enquanto não existir uma convulsão que lhe desperte os múltiplos umbigos nacionais da sua aparente hibernação. Nas lições cruéis do passado ou nos acordos hipócritas do presente não vislumbro qualquer benefício real no iberismo apregoado pelo Pata Negra no Tapornumporco.
E prefiro jogar pelo seguro quando está em causa uma identidade que custou tantos séculos (e vidas, também) a consolidar.

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