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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

17
Jan05

ANIMAIS NOSSOS AMIGOS

shark
Cat__Dog_3.jpg

O meu primeiro cão e o meu terceiro gato nasceram quase na mesma altura. O rafeiro, arraçado de cão de água, era minorca e cobardolas. O gato, um siamês endiabrado, era um felino orgulhoso e independente a que cão nenhum conseguiu dar a volta.
Cresceram os dois no apartamento onde eu morava e dormiam enroscados um no outro, apesar de exibirem hostilidade pelos membros de cada uma das espécies por si representadas. O cão perseguia os outros gatos que nem um doido. O gato virava-se aos outros cães, sem olhar a raças, tamanhos ou número de exemplares de dada matilha.
No entanto eram inseparáveis e assim permaneceram até morrerem aos dezasseis anos, um quase a seguir ao outro.

Esse meu cão, apesar de pequeno e medroso, cultivava um ódio de estimação. Um enorme pastor alemão albino ladrava furiosamente da janela de cima e o meu cão estupidamente retorquia. Passavam os dias naquilo.
Um dia, o vizinho e a besta saíram à rua e a besta decidiu soltar o cão quando se deparou a alguns metros do meu, distraído na calçada com uma guloseima que alguém lhe oferecera. A luta seria desigual. Eu e o meu pai, dezenas de metros adiante, ouvíamos os ganidos de aflição do nosso canídeo palerma, bola de pelo oculta pelo corpulento atiçado que o cobria.
Nem tivemos tempo de reagir. O siamês passou por nós, por entre as minhas pernas, com a rapidez de uma chita e a determinação do rei da selva. Sem hesitar, tomou balanço pelo caminho e quando chegou próximo dos dois protagonistas da zaragata lançou-se aos flancos do agressor. Com o gato pendurado de ladecos, mancha cinzenta de unhas e dentes cravados, o pastor alemão desapareceu da nossa vista e da do dono e só deve ter parado de correr no Samouco, pois o gato só apareceria quase vinte minutos depois, sozinho e sem marca alguma da escaramuça.

Ganhei nesse dia um profundo respeito pelo meu gato e aprendi uma lição de vida que nunca esquecerei. Quando a amizade é profunda, a sua intensidade equivale à de um grande amor e dispomo-nos a correr riscos, se necessário, para acudir às aflições de um(a) amigo(a). E pouco importa se esse(a) amigo(a) evidencia o género, a raça, a língua ou qualquer outra diferença que a amizade séria e o amor incondicional não distinguem, não lhes permitindo que constituam barreiras à solidez de uma relação.
Na coragem, na lealdade e na dedicação do meu gato revejo o perfil do amigo que exijo ser e o dos amigos que ambiciono ter a meu lado até ao final dos meus dias.
Cabem à larga os seus nomes e contactos numa única página, todos na letra A, da minha concorrida agenda telefónica para o ano de 2005.

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