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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

09
Mai06

AMOR PALAVREADO

shark
violets are blue.jpg
Foto: sharkinho

Fujo das palavras que nos descrevam, sinceras, por temer lançar às feras a carne que me apetece escrever.
Persigo em vão as frases adequadas, sempre que percorro as tuas nádegas com a sofreguidão de um olhar em busca da salvação na linha do horizonte que ocupas por inteiro. Está em ti o meu milagre, onde a vista se estende ao comprido na planície de lençóis onde serpenteia o teu desejo cor da pele como um rio incandescente de lava e de mel.

Um corpo ardente, gasolina para a fogueira em que me transformo quando espalho sobre ti a minha epiderme arrepiada, ao rubro pela fricção. E na verdade descubro em mim a vontade de te amar assim, nas mais altas temperaturas, emoção em queimaduras de terceiro grau ou mais além.
Quase enlouqueço pela tua loucura, quase me esqueço no tempo que dura o tempo perdido à espera da próxima vez em que tua voz gritar que somos nós a amar e que o mundo deve quedar-se em respeito. Do lado de fora do círculo de chamas que nos isola para evitar a propagação que as palavras podem representar.
E eu calo o que sinto e o que sei, os momentos em que te amei, a toda a hora, pudesse e estamparia para a posteridade a nossa intensa realidade num desenho esboçado a carvão.

Mas escapa-me a atenção e imobilizo-me a observar, sem nada desenhar (que não sei) e são palavras o que sempre escutei na ansiedade de fazer justiça à tua importância no meu modo particular de querer libertar a felicidade que aprisionas no silêncio a que me obrigo para nossa protecção.
É quase um castigo, esta ode reprimida, esta espinha atravessada bem perto do coração que pode furá-lo como um balão e desencadear a hemorragia que adivinho se um dia o nosso caminho nos conduzir o futuro para diferentes bifurcações.

As palavras são como tesouras pontiagudas, não se querem armazenadas para utilizações vindouras em espaços onde a vida se sente e se pensa mas não se faz, fragilizados pela pressão do mutismo forçado. Porque as palavras magoam se forem caladas, quando se sentem atraiçoadas por conhecerem a liberdade tarde demais para salvarem um amor que entretanto adormecido ensurdeceu.
Acorda sobressaltado com o grito abafado de um orgasmo por entre os dedos ou na palma de uma mão pousada com carinho na tua boca. E depois as palavras à solta, endiabradas e frescas, a espalharem à nossa volta a espuma refrescante de um extintor, na sua irredutível certeza de que o amor que se fez é igual ao que se alimenta, aquele que se deveria escrever sem falta, uma emoção avessa à intrusão de quem não sabe ler nas entrelinhas a exiguidade do seu espaço de manobra.

Aquilo que sobra são restos feitos palavras que se conservam para apreciar depois, num sarau feito a dois onde a língua é soberana e a leitura não é espartana nas respectivas consequências.
São espalhadas por aqui, as palavras de amor, como tartes numa janela à espera de arrefecerem.

É favor não mexerem.
(Arde sem se ver mas queima a doer…)

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