A posta na bosta de digestão fácil
É verdade, nunca fui apreciador de pipocas. De resto, a importação do seu consumo para as salas de cinema foi o primeiro e determinante pretexto para deixar de frequentar as ditas.
Contudo, sendo fácil dispensar a ida ao cinema onde salas como o antigo Monumental, o São Jorge e outros salões onde o espectáculo começava ainda antes de as luzes se apagarem terem sido substituídas pelos cubículos incaracterísticos em centros comerciais, o advento da pipoqueira à blogosfera de que a Força Suprema me colocou a par a partir do único medidor de audiências fidedigno, confirmando uma tendência televisiva neste meio, ameaça ser o derradeiro pretexto para que a minha presença na blogosfera equivalha à que mantenho nos cinemas perto ou longe de si.
Nada me move contra blogues da treta como o actual líder de audiências. Garanto que estou a ser sincero, pois seria absurdo ter algo contra espaços que não frequento e que em nada me aquecem ou arrefecem. Há em tudo na vida lugar para a boçalidade, para os temas menos profundos e até para o branqueamento anal: cada um come do que gosta e até tem todo o direito a mudar a cor do centro nevrálgico dos seus apetites.
No entanto, a caminho dos dez anos de imersão neste fenómeno em plena decadência (este blogue é um espelho fiel da mesma) fico desolado perante o facto de blogues como, por exemplo, o Aspirina terem menos de um terço das visitas de algumas realidades do top ten da blogosfera nacional.
É um facto que nas conversas de café toda a gente se afirma perturbada por programas de grande qualidade da RTP 2 terem um cagagésimo da audiência da casa dos segredos e outras pimbalhadas. Mas é igualmente verdade nessas conversas que ninguém ajudou a eleger o actual governo que todos criticam. Tudo treta, bustos de Napoleão para fugir à seringa com o rabinho da futilidade e da leviandade nas escolhas que se apropriou da maioria das pessoas. Sim, da maioria. Os números comprovam-no nas audiências dos media como nos desta triste blogosfera entregue aos temas ligeiros e de digestão fácil. As Pepas desta nossa comunidade são afinal a realidade que a mantém viva, ligada à máquina do superficial que tanto parece agradar às hordas de consumidores boçais.
A verdade dos números é a que se exprime nas medições. O esforço intelectual para produzir trabalhos com alguma qualidade é vão e isso está à vista na realidade do que afinal atrai os mirones de qualquer rede social, como o exemplo do Nilton no Twitter reforça e estou certo de que nas estatísticas do Facebook também estala o milho nos espaços mais procurados por quem busca alternativas ao lixo que nos oferecem nas outras plataformas de comunicação.
O país americaniza a um ritmo alucinante (deprimente) e não no sentido que nos dava mais jeito: não temos tanto pilim como eles mas investimos com o mesmo entusiasmo na estupidificação das massas.