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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

12
Jan13

A posta que quando voltar a acontecer dirão que foi apenas um azar

shark

Dificilmente alguém poderá contestar a capacidade e a competência de um domador para treinar animais. De resto, os domadores conseguem criar laços de proximidade extrema com animais selvagens ou mesmo ferozes e espantam multidões ao enfiarem a cabeça na boca de leões sem que nenhum mal lhes aconteça.

Ainda assim, não há muito tempo, o próprio Hugo Cardinalli acabou internado num hospital e os ferimentos sofridos na sequência do ataque imprevisto por parte de uma das suas feras domesticadas acabaram por ser um mal menor, pois sobreviveu.

A criança alentejana que, aos 18 meses de idade, foi atacada por uma fera de estimação numa casa de família teve menos sorte, pois morreu.

 

O paralelo entre ambas as situações é simples: seres humanos forçaram a barra da natureza e entregaram a sua segurança ao pressuposto de que tudo correria pelo melhor, confiando no bom senso de animais perigosos para saberem lidar com situações imprevistas. Contudo, tanto o felino que marcou o domador com unhas e dentes como o canídeo que fincou estes últimos no crânio de um bebé defraudaram as expectativas criadas em torno da alegada eficácia do treino ou da domesticação de criaturas cuja evolução natural ou man made lhes incutiu um instinto predador ou simplesmente agressivo em matéria de domínio territorial.

 

Um leão pertence tanto à arena de um circo como um pit bull pertence à cozinha de um apartamento. Criticar o dono de um cão de raça perigosa por ser incapaz de controlar o animal a todo o momento equivale a criticar o dono de uma metralhadora por esta se disparar sozinha por encravamento do gatilho ou defeito não descoberto no mecanismo de bloqueio da arma em causa.

O problema continua a ser o mesmo: muitos cidadãos comuns são incapazes de prevenir as coisas que só acontecem aos outros quando tomam a seu cargo responsabilidades que envolvam o risco de vida para si e para quem esteja por perto.

Essa é a lógica expressa na Lei quando proíbe os cidadãos comuns de terem metralhadoras ou morteiros em casa e é o mesmo espírito da que não autoriza a adopção de tigres da Sibéria ou de serpentes venenosas como animais de companhia.

 

Quando milhares de cidadãos se aprestam a assinar uma petição para impedirem o abate de um animal que, por incúria dos donos mas também dos adultos que deixaram uma criança entregue a si mesma num espaço sem luz, já se provou constituir uma ameaça para os seres humanos, com base no argumento de que a fera assassina não é culpada do que se passou e pode ser treinada para não repetir a façanha, apetece-me levar o raciocínio ao extremo a ver se entendem a base imbecil do seu impulso salvador.

Se confiam em absoluto na capacidade de treino de um animal que matou alguém, porque não arriscam promover o animal a cão de guarda numa creche frequentada por filhos dos subscritores da dita petição? Seria uma questão de coerência e desmentiria até os que como eu defendem a proibição absoluta da permanência de cães de raça perigosa em casas de habitação e, acima de tudo, nas mesmas ruas onde a minha filha merece circular sem temer perigos mais habituais numa savana.

 

A referida petição pode até ser subscrita pelos mesmos cidadãos defensores dos animais que as assinam contra as touradas ou, ironia, contra o cativeiro de animais selvagens nos circos deste país. Ou seja, podem estar carregados de boas intenções e centrados apenas no interesse dos bichinhos. Porém, ao seu gesto adorável que promove o indulto para um monstro potencial que matou porque o deixaram e não porque quis corresponderá uma ainda maior permissividade legislativa para com as máquinas assassinas (contra factos e números não há argumentos) que nada pode impedir de reagirem como tal em determinadas circunstâncias que, cedo ou tarde, acabarão por se repetir e somarão mais morte e mutilação ao triste registo destes cães que matam mais só em Portugal do que matam os tubarões no mundo inteiro.

 

O resto é folclore mais a ingenuidade e a estupidez tradicionais dos que deixam manipular as suas emoções pelos interesses de criadores abastados e de donos incapazes de aceitarem a evidência de que muitos cães mordem as mãos que os alimentam até ao dia em que são surpreendidos à dentada nas suas ou nas de quem se torna vítima da negligência ou apenas do azar de ir a passar quando a verdadeira Natureza se impõe.

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