PORQUE UM SILÊNCIO CRESCIDO NÃO CHORA
Tentou em vão, vezes sem conta, deixar o coração falar pela ponta de cada dedo, com a boca no teclado e o som no monitor, embutido no falso silêncio das palavras que queria escrever em vez das lágrimas que não conseguia verter e afogavam aos poucos uma parte de si que tanto gostaria de preservar.
Também tinha vontade de gritar, mas não podia. Gritava com o olhar mas ninguém entendia essa linguagem, procurou outra abordagem e lembrou-se das palavras que tudo diziam às pessoas que as liam e quis acreditar que podia assim desabafar sem permitir que o desespero pintasse uma imagem de calimero que não correspondia a tudo aquilo que sentia e precisava comunicar.
Com palavras que queria escrever, sentidas, palavras tão parecidas com as lágrimas que não podia verter e que explicassem tal e qual a intensa carga emocional que precisava aliviar no vagão das tristezas e das aflições, nesse comboio de emoções que percorria uma linha no coração que às vezes lhe doía, revoltado por não conseguir dizer tudo quanto diria cada uma das lágrimas por verter naquelas palavras que tentou em vão, vezes sem conta, oferecer ao coração como uma porta de saída para toda a pressão acumulada.
Mas essa porta de fantasia, como uma pálpebra que não humedecia, permaneceu trancada.