A POSTA NA CHAPA DE PAPEL
Lembro-me de há uns anos o surgimento de um novo banco, nem me lembro de qual, ficar marcado pelo ponto mais forte da sua argumentação publicitária: não iriam existir as famosas chapas metálicas numeradas que nos permitiam adivinhar mais ou menos quanto tempo iríamos secar numa fila sempre comprida.
Foi uma novidade de peso, à época, por assinalar a entrada de novos players (acho que lhes chamam assim, e de forma apropriada) com uma postura competitiva cheia de amanhãs que lucram.
Presumo que a banca tradicional, monolítica, tenha ficado em choque (em cheque?) com o que esse fim inesperado das chapinhas implicava: mais pessoal ou, ainda pior, mais eficiência no atendimento.
Coisas que custam dinheiro. E como se sabe, essa é uma dor que banco algum consegue suportar.
Foi um prazer abrir conta nessa instituição bancária jovem e modernaça, livre do bafio que tresandava na concorrência entretanto às voltas com a contabilidade associada à adopção desse modelo revolucionário do cliente atendido à chegada, coisa nunca vista e que o tal banco (seria o BCP?) capitalizou como pedrada no charco num mercado do deixa andar.
A coisa funcionava, de facto, e funcionou por muitos e bons e alastrou à totalidade da banca e nós, consumidores, agradecemos a mudança.
Porém, e nas histórias que envolvam bancos existirá sempre um porém, a passagem do tempo foi degradando o número de dígitos antes da palavra milhões e chegou o dia em que a fila ordenada por um traço pintado no chão entrou em cena.
Sem chapa, é certo, mas quase tão demorada como nesses dias dos caixas sempre de trombas que vociferavam “chapa 53! chapa 53!... chapa 54” e um gajo ficava agarrado por perder um minuto a acabar de beber o café.
A verdade é que a pessoa habitua-se a estas alterações para pior e o tempo passa muito depressa nas mentes cifrónicas dos mentores do sistema bancário e algum iluminado não tardou a somar dois mais dois (que num banco é sempre igual a 3 na óptica do cliente e a 5 nas ambições da empresa).
Hoje em dia, décadas passadas sobre a tal iniciativa arrojada do banco novo a estrear, o sistema já encontrou no progresso tecnológico um substituto à altura das chapas metálicas de outrora que permitiam impor um ritmo de trabalho sem grandes acelerações a quadros de pessoal exagerados.
Agora servem para colmatar as lacunas em termos de recursos humanos ao mesmo tempo que poupam aos bancários dias inteiros a gritar o número da chapa, papel transferido para as maquinetas com botões que nos permitem escolher a fila mais adequada para secar.
Pelo menos foi o que me ocorreu quando, dejá vu, me vi a fazer contas aos números que faltavam para chegar ao que estava impresso no pequeno pedaço de papel que aquela máquina (do tempo) me disponibilizou.