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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

19
Jul12

A POSTA NA PROPOSTA CERTA COM A MAIORIA ERRADA (2)

shark

A iniciativa do Bloco de Esquerda a que faço alusão na posta abaixo é um passo importante na correcção de um problema que só a ignorância alimenta e tem o meu inteiro apoio, só pecando por tardia e por acontecer quando a actual maioria no Parlamento não permite qualquer esperança de aprovação da medida proposta.

Contudo, isso não mudará a verdade dos factos: impõe-se o debate acerca do assunto, cada vez com maior emergência numa altura de crise que só ganharia com o fim da circulação ilícita de dinheiro que a proposta do BE preconiza.

 

Quem quiser dar a volta ao texto e fugir ao óbvio só precisará refugiar-se na argumentação consolidada ao longo de décadas de proibições das quais apenas resultaram benefícios para os traficantes de canábis e para os consumidores que gostam de acrescentar a pica da ilegalidade às suas experiências de vida. Para os cidadãos comuns que consomem a substância sobra o estigma associado pela ignorância que nem permite a distinção entre drogas duras e leves (as que estão em causa) e para o país acrescentam-se mais custos desnecessários para a Justiça e mais viveiros de economia paralela em larga escala.

Só com uma grande dose de hipocrisia, de preconceito ou de interesse financeiro directo alguém poderá defender que a situação actual tem algo de bom seja para quem for para além dos que citei.

 

A informação acerca da canábis abunda na internet e só não percebe o que está verdadeiramente em causa quem não quiser. As opiniões, como é natural em todos os assuntos polémicos ou melindrosos, dividem-se entre os papões de alegados estudos científicos que de concreto têm provado quase nada em matéria de malefícios para a saúde do consumidor moderado e os argumentos lógicos dos que, mesmo não consumindo, enfatizam a questão de princípio implícita nesta estranha teimosia de muitos Estados no investimento em “combates ao flagelo” sem distinguir os alhos de substâncias como a heroína, a cocaína e outras drogas químicas mais recentes e os bugalhos da canábis. A influência social destas duas realidades é absolutamente incomparável, tal como o comportamento dos consumidores se distingue à vista desarmada.

Neste aspecto o argumento de que muitos começam pelas leves e partem daí para uma existência medonha associada ao vício adquirido é o mais batido e se não peca pela verdade fá-lo pela transparência da estatística que remete esses casos para uma irrelevância inevitável.

 

Na verdade só estão em causa más vontades despoletadas pelo desconhecimento dos factos, pelo preconceito associado a décadas de proibição e de propaganda alarmista e apenas porque sim.

O formato proposto pelo Bloco salvaguarda os interesses de quem consome e os de quem não o faz, oferecendo ao país uma solução bastante consensual, devidamente fiscalizada e que constituiria um golpe de misericórdia nas receitas chorudas de intermediários que fogem ao controlo do Estado e só servem para desviar a concentração das autoridades e dispersar forças no combate aos verdadeiros flagelos associados à venda e ao consumo de substâncias comprovadamente perigosas para a saúde e para o funcionamento da sociedade.

Resta-me referir que não se trata de uma iniciativa inédita, já estando a provar-se eficaz em diversos países.

 

O provável chumbo parlamentar da proposta do BE, neste contexto, não passará de um adiamento de algo que só quem não queira enfrentar o tema com seriedade pode considerar um malefício.

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