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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

02
Mai12

A POSTA NO INDIVÍDUO ENQUANTO PRESA FÁCIL DO SISTEMA

shark

Dúvidas houvesse de que existem ligações cada vez mais perigosas entre os diversos poderes que numa democracia coexistem, nomeadamente e por ordem de influência o financeiro, o político e o judicial, o caso exemplar (no verdadeiro sentido da palavra) de Eric McDavid dissipa-as.

Em causa está um activista da luta pelo ambiente, um cidadão anónimo a quem calhou na rifa o martírio como aviso à navegação para todos quantos alimentem quaisquer veleidades de poderem combater pela força as empresas poluentes a quem os Estados toleram, vide a dimensão média das coimas previstas, quase todos os abusos que, na prática, nos envenenam.

 

De acordo com a esmagadora maioria da informação disponível, no âmbito de um plano de acção do governo norte-americano baptizado de Green Scare o FBI terá infiltrado uma agente na inexpressiva organização liderada por Eric com o objectivo de obter uma detenção no matter what.

E o rapaz acabou por se apaixonar pela toupeira ao ponto de alinhar (em teoria) com a sua alegada intenção de danificar propriedade privada e estatal para proteger a Natureza. Acabou traído por ela, pelos amigos e colaboradores mais próximos que cederam a acordos para o incriminarem depois de detido e pelas próprias circunstâncias.

 

A principal circunstância a pesar no destino traçado para o activista, acusado de conspiração para o uso de fogo e de explosivos para danificar bens empresariais e, muito conveniente à luz do sistema penal americano, do Estado, federais, é a da infeliz coincidência(?) de aos sabotadores ambientalistas se aplicar de forma leviana(?) o termo eco-terroristas. E todos sabemos qual é na opinião pública o eco da palavra terrorista...

O Eric foi, note-se, acusado de planear crimes. Não os cometeu e esse é um facto. Se os tivesse levado a cabo não seria com intenção deliberada de matar ou ferir alguém, a intenção era apenas danificar aquilo que entende como ameaças ao futuro do planeta que abraçou como missão defender. E mesmo esses planos maquiavélicos terão sido delineados por Anna, a tal polícia undercover que o terá arrastado para uma cilada.

 

Num país como o nosso, em que o violador confesso e inequívoco de uma criança dificilmente passará mais de meia dúzia de anos num estabelecimento prisional, a bitola de severidade das penas entre os leigos nem por isso prima pela moderação. Ou seja, perante crimes graves e particularmente violentos o cidadão comum acha sempre brandas as penas aplicadas e por isso mesmo teremos a tendência de ampliar a sanção por comparação à decidida pelos tribunais.

Ainda assim, neste país que é o nosso um culpado de assassínio em série terá como pena máxima 25 anos de prisão. E o autor de um assalto à mão armada, mesmo que acabe por ferir alguém, dificilmente ficará dentro por mais do que quinze primaveras aos quadradinhos.

Mas, e esse parece ser o exemplo que melhor se adequa a esta posta, se conduzir empresas à falência ou perto, mesmo lesando o Estado em milhões (remember BPN?), pode até nem cumprir pena de prisão a sério, nos calabouços, mas antes usufruir de uma prisão domiciliária com ou sem pulseira enquanto aguarda as diligências necessárias para protelar uma decisão final para o seu caso.

 

Eric McDavid, hoje com 35 anos, vai estar preso até por volta dos cinquenta. Apenas por ter planeado um acto criminoso que o seu Estado quis deixar bem claro não ser tolerável, nem mesmo cheio de tão boas intenções como a defesa do ambiente, por constituir uma ameaça séria para todo o sistema capitalista cada vez mais dependente do bom funcionamento da ligação entre o seu poder, o verdadeiro, e os poderes de fachada que o defendem contra a revolta dos que o possam hostilizar denunciando-lhe a escalada de prepotência e de desprezo pelas regras mais elementares que o próprio bom senso recomenda.

Quase vinte anos de cadeia por, com a ajuda entusiástica de uma ratoeira com pernas e crachá, ter ponderado a hipótese de cometer um crime que nem envolvia danos a pessoas e por isso seria um acto de sabotagem e nunca uma acção terrorista.

 

Mas o cidadão de sofá não distingue a diferença. E por isso o Eric não contou com a sublevação popular que o seu caso justificaria. Ficou indefeso e à mercê da sua condição de mau exemplo a reter, de factor de dissuasão para potenciais seguidores dessa forma de luta tão eficaz quanto o temor dos Governos e a sua ânsia de a pintarem como ignóbil o comprovam.

A reacção alérgica e, no caso concreto, obviamente concertada dos vários poderes a qualquer tipo de rebelião que lhes afecte os interesses já a História documenta de forma profusa em tudo quanto é canto do mundo, sobretudo no contexto das ditaduras.

 

E a do dinheiro nunca foi nem quer ser reconhecida pela sua propensão à clemência.

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