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Abr06
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shark
Foto: sharkinho
O primeiro livro que li causou-me uma impressão de tal forma marcante que nunca mais o esqueci nessa condição pioneira. Foi o meu primeiro contacto com conceitos horríveis, como a escravatura e o racismo. Mas também foi a primeira vez que tomei conhecimento da densidade que as pessoas revelam, no que de bom e no que de mau as caracteriza, e que me vi forçado a optar por um modelo à medida da minha sensibilidade imberbe da altura.
Chorei a ler. Pela injustiça, pela abnegação, pela dedicação, pelo ódio, por todas as emoções que uma autora condensou naquilo que hoje se comemora.
O primeiro livro que li fala de liberdade e foi escrito por uma mulher. Uma feliz coincidência, se calhar, reunirem-se na frase anterior três dos meus amores mais preciosos. Ou então terei que assumir sem hesitação a influência desse primeiro amor pelas Letras no homem em que me tornei.
Odeio a repressão, a lei do mais forte, a exploração do homem pelo homem. Amo a liberdade e nunca aceitaria que dela me privassem. E adoro as mulheres, porque me atraem como um magneto poderoso e, se calhar, porque foi uma mulher que me ofereceu a primeira experiência, o primeiro mergulho num mundo que nunca mais deixei e que está na origem da minha presença na blogosfera. Porque se escreve e porque se lê.
Harriet Beecher Stowe (por coincidência partilha o apelido com uma das mulheres cuja beleza mais me impressiona, a actriz Madeleine Stowe) foi uma abolicionista cujo trabalho em muito contribuiu para o clima que deu origem à Guerra Civil americana.
Foi uma lutadora, esgrimia as palavras para golpear as consciências dos que toleravam a aberração esclavagista que grassava no seu país.
Os livros como arma, como grito de liberdade, mesmo no acto de quem os escreve para fomentar a sua privação. Porque é preciso ser livre para escrever, sobretudo para combater as correntes que agrilhoam o pensamento livre e a propagação das ideias. E das emoções proibidas.
É essa a dimensão que mais comemoro neste dia, associado a muitos dos melhores momentos que conheci ao longo da minha existência.
E agrada-me que aconteça em pleno mês de Abril.