OS POBRES QUE PAGUEM A CRISE!
Depois de vários milionários americanos e franceses se terem disponibilizado para, num gesto patriótico, contribuírem com um aumento voluntário de impostos para ajudarem a combater a crise nos seus países chegou a reacção dos seus homólogos portugas.
E ficámos todos a perceber a massa de que são feitos os nossos mais ricos.
Na ressaca do 25 de Abril o povo apontou o dedo acusador às famílias poderosas que dominavam o país com as suas fortunas, sem fazer a mínima ideia de que poucas décadas mais tarde seriam outros os protagonistas nas tabelas nacionais e internacionais e, por comparação, nem chegariam aos calcanhares dos Mello ou dos Champalimaud que foram empresários num tempo em que as empresas construíam creches e mesmo bairros inteiros para os seus trabalhadores. E nem assim escaparam ao rótulo odioso, à época, de fachos.
Os milionários portugueses mais mediáticos, pelas respostas hipócritas, quase insultuosas para quem vive em aflição, que deram a quem os questionou vestiram todos a pele de tios patinhas com quem a Nação em crise não pode contar.
Fulanos com as maiores fortunas do país e até das maiores do mundo não podem, sob pena de atraírem para si uma revolta ainda mais generalizada e hostil do que a sofrida pelos seus antecessores acima, afirmar de forma jocosa que não são ricos mas apenas meros assalariados. Ou pior ainda, tentarem lançar o descrédito sobre a iniciativa dos seus pares estrangeiros falando em serradura para os olhos quando deixam claro que à nossa vista nem as aparas de madeira chegarão.
Contudo, ainda mais odioso nas reacções já conhecidas (que mais valia nem haver alguma) está a chantagem implícita nessa tomada de posição, conhecido de ginjeira o camartelo da fuga de capitais para fora de Portugal através das várias portas que os magnatas portugueses já provaram saber abrir.
Nenhum Governo poderá arriscar agora uma legislação fiscal contrária aos interesses dos ricos que sabem meter o bedelho nos assuntos políticos do país quando lhes convém mas colocam o rabinho de fora quando a Pátria clama por menos palavras e mais pilim.
E num tempo de contar espingardas para dar a volta ao problema criado só temos o ganho de sabermos que com milionários deste calibre só podemos sair sempre a perder.