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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

13
Jun11

MISPLACED CHILDHOOD

shark

Os dois meninos escolheram o mesmo jogo, o Lego, para brincarem. A professora, apesar de não ter grande fé em evitar as constantes picardias entre os dois, lá foi criando as condições para alternarem o tempo de brincadeira, uma espécie de regras do jogo, que permitia mantê-los entretidos sem darem cabo do ambiente no resto da sala.

 

Depressa os dois meninos criaram os rituais tão necessários para ordenarem o mundo visto numa perspectiva infantil. Enquanto um brincava, construindo peça a peça a sua casinha, o outro ficava de fora, com uma telha do caraças, a apontar-lhe os defeitos na construção.

Claro que ao fim de algumas horas o que ficava de fora até inventava defeitos só para não dar a torcer o braço roído de inveja, às vezes até mobilizavam outros meninos para mandarem umas bocas ou mesmo para de alguma forma boicotarem as hipóteses de sucesso do que estivesse a brincar na altura.

Não passou muito tempo até que um dos meninos, particularmente impaciente nesse dia para esperar pelo brinquedo, contornasse as regras do jogo e passasse a apontar os defeitos não à construção mas ao outro menino. E contou de imediato com a solidariedade do resto da turma, mesmo o sector dos que pareciam mais próximos do menino que estava a brincar há demasiado tempo.

O destino acabaria por contribuir de forma involuntária para beneficiar o expediente do menino que estava à espera. As peças disponíveis para a construção às tantas eram tão poucas que começaram a aparecer buracos no telhado e até na fachada da casinha. Ainda por cima alguns amigos do menino que brincava iam colocando peças erradas, de cores e tamanhos diferentes dos que deviam (às vezes até desviavam uma peça para o bolso, sem medo de castigos se fossem apanhados), e às tantas a casinha ficou quase à beira de desabar. E ainda havia os meninos de um colégio fino estrangeiro a fingirem que davam notas, sempre medíocres, para dificultarem ainda mais a vida ao menino que estava a brincar.

Foi aí que o menino que estava de fora convenceu os outros meninos todos a mandarem embora o tosco que não conseguia, sem peças suficientes, construir a casinha que tinha na ideia quando a inaugurou, perdão, quando lhe colocou a primeira pedra. E ainda por cima tinha estado o tempo todo a achincalhar o outro menino, a acusá-lo das piores diabruras, o que bastaria para congregar todos os meninos em torno do objectivo comum de contornar as tais regras do jogo e limitar o tempo marcado pela professora para cada menino brincar.

Por outro lado, os outros meninos sonhavam com a possibilidade de conseguirem uma brincadeira partilhada, algo que certamente agradaria à professora.

 

E talvez isso atenuasse, quando ela descobrisse que faltavam tantas peças no jogo, a punição sobre os funcionários da escola que eram sempre os que arcavam com as consequências, mesmo sem algum dia terem tocado numa peça e sem serem devidamente informados sequer da verdadeira realidade das regras de um jogo que nenhum daqueles meninos parecia, afinal, saber jogar.

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