A POSTA INSECTÍVORA
Quase me convenci de que vestira um casaco verde alface, ou que cheirava mal dos sovacos ou dos pés. Sentia-me um repelente de insectos com pernas, embora fosse eu o enojado pelo desplante daquelas pessoas que, cedo ou tarde, acabarão inevitavelmente por me cumprimentar algures.
Faz-me impressão, esta alergia aos outros que nos apressa para dentro do ascensor apenas para evitar a viagem de segundos na companhia do vizinho que meteu a chave à porta para entrar no edifício, mesmo atrás de nós.
Causa-me desconforto, esta esquizofrenia que a cidade incute nas nossas condutas e que nos afasta dos outros como se cada pessoa fosse uma espécie de mosquito nocivo, capaz de com uma simples picada de palavras infectar-nos com alguma doença terminal.

-Olá, beleza! Posso dar-te uma picadinha de amizade?