A CRISE DO FUTURO - EPISÓDIO UM: NA PIOR ALTURA
Era uma vez…
Bom não era uma vez ou o texto começa a ser disparatado logo na abertura pois a acção situa-se num futuro próximo. (Será uma vez. Não soa bem pois não?)
A polícia já havia recuado umas centenas de metros perante a avalanche humana da manifestação contra a crise financeira. Desesperados, milhares de cidadãos convergiam agora para o Parlamento no sentido de reclamarem contra as medidas de austeridade que acentuavam os efeitos de uma profunda recessão em que toda a Europa mergulhara.
Ardiam carros na via pública e muitas montras partidas nas lojas circundantes denunciavam a violência do protesto quando do céu chegou um engenho voador.
Todos pararam para assistirem à aterragem do que muitos identificaram de imediato como um OVNI e instalou-se um silêncio impensável minutos antes durante todo o tempo em que se aguardava algum tipo de movimento no aparelho.
Poucos minutos depois, uma porta começou a abrir e para espanto geral uma criatura alienígena completamente diferente das que as pessoas conheciam dos filmes de Ficção Científica saiu da sua nave espacial e pisou a calçada.
Atónitos, manifestantes e forças da autoridade concentraram a sua atenção no estranho tripulante da não menos estranha máquina voadora.
De repente ouviu-se um som estridente que muita gente julgou tratar-se de algum dos megafones da manifestação maioritariamente composta por desempregados e pessoas a quem a crise acarretara a perda dos seus bens.
Foi então que o extraterrestre agarrou com uma das suas várias pinças extensíveis algo de parecido com um microfone e aproximou-o mais ou menos da zona do que correspondia ao baixo ventre e abriu-se um pequeno orifício de onde parecia falar.
As primeiras palavras foram perceptíveis apenas aos poucos que dominavam o russo e que, entusiasmados, começaram a cantar épicos de esquerda, muita gente convencida de que os seres de outro planeta traziam a salvação.
Mas depressa os técnicos de som ou algo parecido ajustaram o tradutor universal e os milhares de pessoas que aguardavam o inevitável “vimos em paz” começaram a perceber tudo o que o ser disforme dizia:
- …e enquanto meros arrendatários deste planeta pertencente à Confederação Galáctica de Proprietários deverão liquidar sem demora as facturas vincendas desde o correspondente a 65 milhões de anos terrestres atrás, aquando da tentativa de cobrança coerciva e consequente acção de despejo do terreno em causa, sob pena de uma nova intervenção nos moldes previstos na Sétima Lei da Apropriação de Sistemas Solares.”
O ET fechou o orifício que seria a sua boca e ficou a aguardar uma reacção por parte dos terráqueos diante si e cuja expressão alterada não soube interpretar.
A polícia e o exército, um numeroso contigente entretanto despachado para o local, revelaram-se impotentes para evitarem o linchamento popular.