LEÕES SELVÁTICOS INSTALAM UM AMBIENTE DO CARVALHO
Eu ainda sou do tempo em que o Sporting tinha como marca o estatuto de clube da elite, adquirido em boa medida pela atitude de sócios, dirigentes e adeptos que faziam questão de se distinguirem por um comportamento exemplar em comparação com os dos seus mais importantes rivais.
No Sporting orgulhavam-se de saberem perder, contra os outros ou entre si.
Mas depois do que ao longo desta madrugada aconteceu em Alvalade, na ressaca de uma eleição decisiva e muito disputada, com um clima violento, de suspeição, de desrespeito pelas regras mais elementares do bom senso, similar ao vivido em exemplos recentes de nações do chamado Terceiro Mundo em clima eleitoral, dificilmente o clube recuperará o estatuto que lhe enchia o estádio mesmo em tempos difíceis e, nesse particular, qualquer que seja o desfecho da bagunça instalada, o reino do leão nunca sairá vencedor.
Se o pior que poderia acontecer ao Sporting, pensava-se, era a vitória de Bruno Carvalho, o preferido das claques (como esta noite ficou bem vincado), a confusão em torno dos resultados que teve como consequência imediata uma calinada monumental do jornal O Jogo que anuncia em primeira página um vencedor afinal derrotado, deixa o clube num cenário propício para a instalação do caos que menos o serviria nesta fase delicada da sua história.
O futuro da instituição, agora confiada a uma liderança representativa de cerca de um terço dos votantes e derrotada na eleição do seu candidato Rogério Alves (o rosto mais fiel da baralhada leonina numa madrugada digna de um clube de bairro), não se afigura de feição para qualquer previsão mais optimista.
O Sporting, a quem a terceira eleição mais concorrida do seu historial deveria solucionar o maior dos seus problemas, vê-se agora a braços com uma crise financeira mãos dadas com uma outra, chamemos-lhe política, que o deixa numa situação parecida com a do país.
E isso levanta-me uma questão curiosa: quantos dos mais de 14 mil votantes nas eleições do Sporting irão às urnas quando estiver em causa o futuro de Portugal?