NAQUELA CADEIRA
Sentado na cadeira que comprara numa feira quase trinta anos atrás, o homem passava o tempo que lhe restava a olhar fixamente a velha fotografia na sua mão.
Quase nem pestanejava, o ancião, hipnotizado por aquele filme em sessões contínuas na sua imaginação, a mesma história, na sua memória danificada como um disco de vinil.
Parado ali, concentrado na imagem de um tempo guardado como um tesouro na sua mente acelerada como uma bobina no projector, ao ritmo da película que via de um tempo em que vivia numa outra dimensão.
Agora isolava-se da solidão, deixava-a na bilheteira, e depois passava uma tarde inteira na companhia de por quem o seu coração batia, alguém que o amou.
Sentado na mesma cadeira onde o dela um dia parou.