A POSTA QUE DÁ TRABALHO LUTAR A SÉRIO POR PORTUGAL
Por diversas vezes deixei bem claro o meu desencanto com movimentos desorganizados e sem objectivos concretos como o que dizem ter nascido de uma canção dos Deolinda.
Será fácil, num contexto de contestação a um líder em concreto mais do que ao desempenho do seu Governo (se tivermos em conta as declarações públicas de muitos políticos e não só), apontar o dedo a todas as vozes discordantes à mobilização popular e conotar cada uma dessas dissonâncias como manifestações implícitas de apoio a um Partido ou a um seu dirigente.
E essa reacção instintiva, sobretudo por parte dos que apenas se tentam empoleirar na onda para surfarem até algum tipo de poder ou de vitória moral que justifiquem a sua existência, constitui apenas mais um dos erros de palmatória de quem tenha conseguido levar o povo à rua para obter coisa nenhuma.
Este blogue, como outros nos quais debito prosa, tem registados vários apontamentos que deixam bem clara a minha posição acerca do que se passa e quais os aspectos que gostaria de ver corrigidos por via democrática. E aqui entra a perspectiva prática do que a minha opinião fora de moda traduz: a rua é, como a greve, por exemplo, um último recurso a utilizar para dar voz ao povo e exigir a mudança. Por isso as acções dos povos do mundo árabe estão a ser, na sua maioria, bem sucedidas, porque constituem uma medida de recurso de quem não consegue de todo chegar próximo do poder que pretende substituído.
Em Portugal, e ao contrário do que muitos oportunistas e demagogos entusiasmados preconizam, as formas de luta democráticas não estão esgotadas. Apenas não são utilizadas por preguiça e pela intervenção subversiva de revolucionários de pacotilha a quem, mais do que a defesa dos legitimos interesses da Nação, interessa agitar as massas para obter protagonismo na sequência de hipotéticas vitórias que toda a gente percebeu apenas produzirão nesta altura, e face às alternativas, mais do mesmo ou pior.
Esta última constatação parece ser o mote de desmobilização de muitos. Porém, o absurdo destas lutas inócuas contra bodes expiatórios conjunturais reside precisamente na ausência de propostas concretas para o passo seguinte de uma revolução necessária que se tornou agora emergente.
O encolher de ombros expresso na ausência de opções deveria dar lugar à consistência de movimentos locais capazes de alterarem o poder onde ele mais assenta, os partidos políticos, e forçarem a mudança onde ela pode e deve ser promovida: na Assembleia da República.
Nenhuma causa, nenhuma luta, pode ser ganha sem objectivos definidos e planos de acção realistas para o concretizar.
Mexam o cu, tomem o poder e façam acontecer a mudança para melhor que tanto exigem
Impotentes virtuais, os que descobriram no desespero de muitos a janela de oportunidade para a mobilização das massas teriam a obrigação ética e moral de construirem ou de angariarem de entre os seus melhores quem construísse um plano de batalha eficaz para a guerra que tentam começar sem nexo algum.
Impossível, dizem eles, dar a volta de outra forma.
Calões, chamo-lhes eu, quando sei que menos de um terço dos que estiveram na rua para cantar umas tretas bastariam para tomarem o poder por via democrática.
Como? - perguntarão os que se sentem orgulhosos da sua participação no momento que se queria histórico e que assim não suscitou mudança alguma.
Simples, seus tontos sem coragem para o compromisso: escolham um partido, qualquer partido, da vossa freguesia, do vosso concelho, inscrevam-se em massa como militantes, substituam os líderes actuais e façam melhor!
Uma trabalheira, bem o sei, que lá andei sozinho a pregar aos peixes e a ver o poder real decidido por escassas dezenas de compadres, familiares e amigos do gajo a promover nesse dia.
Mas permite uma revolução sem prejuízo para o país e pela via que a Revolução de Abril criou para o efeito e que mesmo os seus alegados maiores defensores jamais defendem porque lhes pode tocar a eles ficarem sem acesso ao que lhes sustenta as ambições e acaba por os transformar, à esquerda ou à direita, em acrescentos do mesmo sistema que nos flixa o futuro e destrói o país.
Se a geração à rasca se reclama tão bem formada e sem oportunidades, como é que de entre tantas cabecinhas manifestadoras não apareceu uma meia dúzia a quererem fazer as coisas como podem e devem ser feitas, quando a Liberdade o possibilita de forma tão inteligente e verdadeiramente democrática, para criá-las?