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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

21
Fev11

OK, ÁS VEZES A PESSOA RECEIA O KO

shark

Às vezes, nesta componente de pai que é um bico-de-obra, não consigo evitar um desconforto imenso quando tenho que negar algo de importante à minha marafilha simplesmente por não ter capacidade financeira para o efeito.

Claro que isto é um absurdo, à luz de qualquer lógica razoável, uma reacção fácil de desconstruir com base numa argumentação ao alcance de qualquer pessoa normal.

Porém, a sensação inicial permanece na memória e a frustração arredada para um canto, cada vez mais apertada dentro de um cofre qualquer da nossa carola que precisamos canalizar para outras cenas, por muito que fique escondida está lá e parece um conceito completamente amordaçado mas capaz de nos dizer tudo com o olhar. E uma pessoa lê, assim de passagem, a palavra falhado.

E uma pessoa fica a pensar.

 

A vida tem pontos altos e tem pontos baixos e o resto vai acontecendo pelo meio. Num mundo onde para além da capacidade de iniciativa precisamos de sorte nas conjunturas para não passarmos do oitenta ao oito numa pressa do caneco ter galo pode fazer toda a diferença. O galo pode passar pelos tombos na economia em geral ou especificamente no sector em que apostamos ou pode passar pela nossa manifesta inépcia para gerir a parte financeira de uma existência. Ou pode passar por ambos, e aí temos reunidas as condições ideais para o desastre.

Claro que a medida do valor que gosto de me atribuir não pode equivaler à minha disponibilidade pecuniária para atender a todas as expectativas da minha marafilha burguesa e a quem nunca algo de essencial ou mesmo de supérfluo dentro dos limites do bom senso faltou. Mal estaria se me medisse ou me medissem por tal bitola. Até porque já me provei uma máquina tão eficaz a gerar riqueza como a desbaratá-la. Up and down, in and out. Ondas sinusoidais do meu ciclo de vida económica que revelam em perfeita alternância o melhor e o pior do que o sistema tem para nos oferecer. Porreiro para mim, dirão.

Mas é uma porra quando sentimos o chão fugir-nos debaixo dos pés e no meio das múltiplas pressões surge em cena uma novidade que se converte de imediato num sinal flagrante da tal incapacidade de prover a tudo e mais alguma coisa, como faço ou tento fazer na parte de ser pai que não mexe com contas.

 

É difícil não apontar de imediato à cabeça a pistola da tal frustração escondida que sai da casca e nos ameaça por dentro e quase nos torna reféns desse medo terrível de fracassar. É algo capaz de quase nos paralisar enquanto pessoas com arte e com energia para cumprirem um dado papel, por quão distinto daquele que ambicionávamos. É uma angústia que queremos temporária, ou mesmo momentânea, para podermos seguir adiante e se necessário a pisar o prego a fundo no acelerador. Mas nem sempre é uma castração das que conseguimos sacudir para trás das costas a meio da correria, pode tornar-se numa espécie de ferrugem na vontade de ferro que reconhecemos na pessoa que somos nos dias melhores e estupidamente esquecemos quando a chuva cai forte e com o vento a favor.

Nas trombas, todos os dias, a verdade incómoda de a vida ser de facto como os interruptores e o que interessa mesmo é ter saúde e trabalho e amor e essas coisas importantes propriamente ditas que passam a secundárias no meio do turbilhão.

 

E depois a lucidez, tão serena, a impor a sua presença no meio do temporal e a abrir caminho nas nuvens para a pessoa espreitar o sol brilhante no meio de um convidativo céu azul. Uma senhora, altiva, conhecedora profunda dos meandros destes conflitos pessoais que assumem proporções de guerra civil quando lhes damos rédea solta.

Ela chega, quando menos se espera, e abre com gestos estudados uma coisa qualquer, uma caixa, com a graciosidade de uma gueixa que prepara um chá. E a pessoa bebe aquilo com sofreguidão, sem maneiras, e enche o peito de coragem para desafiar o dia pior que é sempre o dia a seguir quando a crise aperta e as decisões se tomam como as dos guarda-redes, à queima, meto a mão ou meto o pé, lanço-me para a esquerda ou para a direita, um passo adiante ou dois atrás.

 

Mas mesmo no meio da refrega, com o adversário contido à distância possível para apanharmos o mínimo de pancada enquanto não soa algum gongo que permite a um gajo sentar-se num canto a descansar, o medo pode reaparecer sob a forma do tal fantasma do sonho talvez capricho que ficará por cumprir, a pessoa demora a reagir porque já custa abdicar dos seus quanto mais os de quem nos compete criar e a pessoa leva nas trombas outra vez.

 

E não tem como não se levantar do tapete antes de contarem até dez.

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