GABIRUS E BABUÍNOS
Enquanto no Egipto o poder chega ao ponto de desligar um satélite para silenciar a Comunicação Social, reconhecendo de forma explícita a ameaça que o Jornalismo livre representa para os poderes com pés de barro, em Portugal assisti num só dia a duas exibições da grosseria com que se tratam os jornalistas sempre que a notícia ou a pergunta não agradam a alguém.
Mete dó, a actual condição dos profissionais da Comunicação Social neste país. Para além do camartelo omnipresente dos empregos precários sob o comando de impérios financeiros ainda têm que enfrentar as manifestações de falta de respeito por parte de quem os sinta como um desconforto,
por norma babuínos ou gabirus. E em ambos os exemplos a que assisti estavam presentes estas duas classes de gente avessa à liberdade de expressão na sua vertente mais sincera.
O primeiro caso passou-se a propósito de no Cascaishopping a ASAE ter encerrado o espaço da restauração por decorrerem obras no tecto da estrutura sem qualquer tipo de protecção para os consumidores quanto ao bedum que pode salpicar-lhes a refeição em tais circunstâncias.
Para evitar o acesso às opiniões dos clientes os gabirus responsáveis pelo espaço comercial destacaram um gorila (babuíno dos grandes) para se intrometer entre entrevistador e entrevistados, usando o caparro para impedir os jornalistas de cumprirem a sua função devidamente autorizados e credenciados.
Já no outro exemplo de arrogância e falta de respeito o protagonista foi um velho conhecido nestas andanças, o treinador do meu Benfica, que até a Deus deve fazer benzer-se por o homem ter um apelido tão desadequado ao perfil.
Decorria uma Conferência de Imprensa no final do jogo do Benfica com o Aves quando o passarão-mor, incomodado com uma pergunta acerca de um assunto que lhe diz directamente respeito, desatou a refilar com o jornalista que o questionou e de seguida abandonou a sala sem água vai nem água vem.
Neste caso, como é óbvio, o gabiru e o babuíno reuniram-se num só interveniente mas o resultado final foi a exibição pública de desrespeito pelas pessoas e pela função, uma das muitas que se somam e vão criando cada vez mais obstáculos à missão que à Comunicação Social compete desempenhar.
Por muitos anos que passem sobre a minha deserção, nunca vou conseguir evitar o nojo perante estes insultos descarados a um dos pilares de qualquer democracia digna desse nome.
O acesso à informação nem deveria precisar do reconhecimento legislativo que o deveria proteger de situações como as que acima refiro mas que chegam a passar pelo roubo do equipamento de gravação (essa ficou-me entalada, sobretudo pela impunidade de que claramente o babuíno de serviço na altura beneficiou) para impedir a divulgação de factos desfavoráveis a quem é por eles responsável, deveria bastar um pingo de inteligência para perceber a necessidade absoluta de salvaguardar o papel do Jornalismo e essa protecção passa pela forma como são tratados os respectivos profissionais.
E num Estado que se reclama de Direito e democrático não deveriam ser necessárias mais macacadas para impor se necessário por via penal o respeitinho que é muito bonito pelo dever de uns que garantem um direito de outros e merecem por isso muito maior consideração por parte de um país que parece esquecido de não há muito tempo ter vivido nas catacumbas da mentira e da omissão que uma ditadura, como uma democracia podre, fazem questão de construir.