A POSTA NAS ESQUIZOPENAS
Li as duas notícias de seguida, o que foi bom porque muitas vezes só nos prendem a atenção quando as abordamos assim, aos pares, e podemos por comparação extrair o sumo noticioso da coisa (um exercício tão complicado nestes dias que se explica assim o declínio do interesse nas palavras cruzadas).
Em causa estão dois crimes que quase estranhamos ainda serem notícia, burlões apanhados pela Justiça. Bom, claro que a parte chamativa da notícia, pelo quase insólito, é as autoridades terem desmantelado mais dois esquemas vigaristas mas uma pessoa acaba por prender a atenção no crime em questão, até porque outro exercício mental porreiro consiste em tentar perceber, num país onde um assassino raramente passa mais de quinze anos dentro, até onde o crime compensa nisto das fraudes (não estou necessariamente a aludir ao BPN).
E é aqui que entra o factor surpresa, a notícia à qual um tipo deita um olhar desleixado entre duas sorvedelas no café da manhã e de repente inclinamo-nos para a frente na cadeira ou no sofá para termos a certeza de que percebemos bem.
Os crimes de que vos falo são o de um esquema que envolvia mecânicos, bate-chapas e mais uns profissionais de outros ramos associados para embarretarem as seguradoras (um pequeno pecado que o povo estupidamente aplaude mesmo tendo que pagar depois a factura) e um outro esquema que envolvia farmacêuticos, medicamentos para a carola e comparticipações a 100% dos contribuintes para o fundo de maneio da rapaziada (e cuja operação de desmantelamento a polícia baptizou, com grande pinta, de esquizofarma).
Onde está a tal surpresa que me fez olhar com mais atenção? Curiosamente não está no facto de uma das burlas, a dos seguros, estar directamente relacionada com o meu ganha-pão.
O que realmente me surpreendeu foi o facto de o Ministério Público propor como pena para esta burla que alegadamente terá causado dezenas de milhar de euros em prejuízos para as companhias de seguros nada menos do que vinte-anos-vinte de prisão efectiva para os artistas em causa.
Depois olhei para os milhões de euros em que a malta das farmácias terá burlado o Estado Português com as suas receitas ganhadoras e fiquei curioso para saber que punição, para além das 50 chicotadas e da amputação das falanges, o MP terá em mente para estes abomináveis malfeitores.