NU(M) INVERNO
Árvores despidas, raras as folhas penduradas à espera de um sopro mais forte do vento de Inverno para as levar até ao chão.
Árvores desnudas, aparentemente envelhecidas nessa calvície temporária que a natureza entende necessária para garantir a sua eterna renovação.
Árvores esquecidas, as suas sombras apetecidas no pino do Verão mas sem utilidade na função quando o frio até mendiga alguns raios de sol nos intervalos da chuva, água dura em árvore mole, que se assume cabeleireira quando pesa na folhagem derradeira e corta como tesoura os escassos sinais que a Primavera deixou à sua passagem por aquele ponto da sua viagem, eterno retorno, e as folhas não são andorinhas para fugirem ao Inverno e as árvores, despidas, limitam-se a dançar ao sabor do vento o ritmo dos caprichos do tempo que lhes restar.