COMO UMA DISTRACÇÃO PUERIL
Como a leitura do oráculo gravado na parede de uma gruta onde o nosso destino se previu.
Como a iluminação súbita no túnel do cliché, dolorosa no primeiro impacto e saborosa depois, a luz intensa que purifica a escuridão, que a desvenda na solidão que a conduz sempre às mesmas rotinas de auto-destruição da mais inocente ilusão plantada num jardim secreto dos bastidores.
Como o culto de velhos amores em segredo desvendado pelo ar incomodado perante a evocação de alguns, o ritual sagrado de quem jamais admite esquecer e nunca aceita desistir e joga sempre em mais do que uma frente da batalha por uma felicidade qualquer.
O prazer da mentira e da omissão, nada mais se espere de entre os poucos que sobram quando se abdica da beleza em prol de uma esperteza sempre saloia porque corrói quem ludibria e fortalece quem se deixa embarcar na experiência de brincar com a alternância entre a dor do conhecimento em excesso e o sorriso da ingenuidade juvenil.
O céu sempre azul numa pequena porção da existência que se conserva ao abrigo da luz que a pode estragar, tirar-lhe as propriedades mais nutritivas, o apelo das coisas proibidas a que nos sentimos no direito para lá de qualquer tipo de respeito que possamos ter em consideração.
O apelo de um tipo de emoção impossível de obter no contexto de uma vida normal, da monotonia habitual dos dados adquiridos como algumas e alguns tendem a olhar quem distraído se deixa andar e não recorda a possibilidade da evolução de uma fragilidade para um caminho alternativo que implica sair e não permite prosseguir aquilo em que, na verdade, nunca se acreditou.
A dificuldade de quem um dia amou mas perdeu a lanterna ao longo do percurso pelo breu, caminhando às cegas até se viciar nessa forma de percorrer o caminho sempre a sós, companhia ocasional encontrada no decorrer de uma cabeçada, de um encontrão, firme na decisão de jamais largar o volante de qualquer meio de transporte que será sempre só seu e nunca lhe ocorre partilhar como é corrente definir entre quem confia sem reservas, ao ponto de deixar de fazer sentido o jogo escondido na batota das ligações.
E depois as decisões sempre influenciadas pelas características que permitimos reveladas a bem ou a mal quando aparentemente até insistimos em manter acesa a vela da esperança no meio do vendaval.