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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

25
Fev06

LIGAÇÕES PERIGOSAS

shark
dualidade.JPG
Foto: sharkinho

Às vezes as palavras não me parecem as amigas que eu preciso acreditar. Tenho medo da sua má influência, não em mim mas nas outras pessoas. A mim as palavras não fazem mal algum, já aprendemos a conviver com esta relação de dependência, já aceitámos a nossa incapacidade de existir nas respectivas ausências.
As palavras, as minhas, não existem de facto sem alguém que as dê à luz. Sou pai como sou mãe destas reproduções grosseiras daquilo que me faz. Mas também sou o amante que lhes ensina a arte da paixão, que com elas partilha as emoções mais profundas, as fraquezas mais secretas e tudo o que possuo de bom e de mau para exibir.

As palavras crescem em mim e depois apresentam-se a quem as encontra pelo caminho e nem sempre exprimem a minha essência e outras vezes vão longe demais na exposição do que sou. Atraiçoam-me, como górgonas, petrificando a minha imagem ao sabor das diferentes interpretações que induzem.
E por isso receio por vezes as palavras e fujo-lhes a sete pés, viro-lhes as costas, tapo os ouvidos ao seu canto de sereia com que me arrastam para o falatório e me denunciam enquanto homem vulgar.

O meu amor pelas palavras, contudo, também me obriga a acarinhá-las. Rendo-lhes homenagem em cada tentativa de as utilizar de forma adequada, de conseguir conferir-lhes um sentido e uma missão. De as embelezar pela combinação entre si. O amor requer coragem, requer sacrifício, exige entrega e abnegação. Exige a predisposição para arriscar as perdas e as derrotas, os actos falhados e as desilusões, o perigo das revelações que nos humilham.
Mas o amor, mesmo o das palavras, também dá em troca. Nos momentos de felicidade, nas ocasiões especiais em que tudo se conjuga para se aproximar da perfeição. Os textos bem conseguidos, os beijos sentidos, a sensação de euforia que nos invade quando vivemos a ilusão feliz.

Aquilo que se diz e aquilo que se faz, nem sempre em sintonia. Sentimentos confusos e palavras sem nexo que os expõem. Perturbações comuns que se guardam nos jardins secretos do silêncio das palavras que não queremos à solta, por se virarem contra nós nas cabeças de quem as decifra. Ameaças verbais para a nossa intimidade, para a nossa reputação que desejamos imaculada e se vê arruinada pelo efeito que as palavras são exímias a produzir.

Eu amo as palavras.
Mas temo o desequilíbrio imanente na nossa relação (cada vez mais) conflituosa.

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