NA LINHA DE UM HORIZONTE MENOR
Sentiu escapar-lhe por entre os dedos, como areia da mais fina, cada uma das certezas que os factos insistiam desmentir.
Sentiu que estava aos poucos a partir a corda que amarrava o barco ao cais e este partiria também, um dia, para um ponto tão distante do seu apertado horizonte que deixaria de o ver.
Sentiu que estava a perder porque percebia, nas coisas de que desistia, o prenúncio mais óbvio de uma capitulação.
Sabia que a desistência jamais seria uma opção que tomaria de forma consciente, mas olhava o presente e constatava que começava a desaparecer muito daquilo que o podia prender à esperança.
Sabia que cada vez mais perdia a confiança num futuro melhor, diante do muro erguido devagar nas progressivas ausências, nos silêncios crescentes, nas tendências preocupantes e sobretudo nas omissões.
Sabia que sentia as mesmas emoções mas não podia forçar uma realidade virtual com a insistência artificial numa aposta quase perdida, numa imagem esbatida de um sonho que desvaneceu.
Sentiu aquilo que sabia mas nunca conseguia aceitar.
E descobriu, a custo, que insistia numa ilusão com laivos de uma utopia impossível de concretizar.