PALAVRAS INVISÍVEIS
Palavras apenas.
Coisas simples, coisas pequenas, vazias de significado se ninguém se prestar à tarefa de as interpretar, tão inúteis e vãs como se escritas em pedras de gelo abandonadas ao calor e ao pó.
Uma palavra só. Igual a um milhão se não prender a atenção de quem a reconheça, mesmo alguém que a esqueça pouco tempo depois. Pode até ser a palavra dois e dirá o mesmo que a palavra solidão, para as pessoas sofrimento mas para as palavras desaparecimento que de pouco ou nada valem as palavras a sós.
A palavra nós. Isolada do contexto, servindo apenas de pretexto para uma alegada ligação que a própria palavra implica mas que por si só não justifica se a deixarem pendurada num suporte qualquer. Sem olhos ou ouvidos que a queiram interpretar para que a palavra possa representar uma realidade e não apenas uma verdade por desmentir.
Palavras com sentido por atribuir. Por não chegarem a qualquer destinatário, deixadas ao relento da atenção de quem as ignora, não sei, não as vi.
E por isso na prática estas palavras até podem nem estar aqui.