TAPAR A CABEÇA E DESTAPAR OS PÉS
Aproxima-se o momento das grandes decisões e as recentes declarações de Vitor Constâncio acerca da necessidade de aumento de impostos para conter o défice prenunciam o primeiro teste sério à solidez do actual Governo minoritário, nomeadamente na componente parlamentar.
Não é uma posição fácil, a de quem deve optar entre o impopular aumento de impostos em época de crise e a contenção da despesa por via do bloqueio aos aumentos salariais dos funcionários públicos (uma expressiva fatia do eleitorado e um potencial pesadelo em termos de agitação social).
A primeira reacção dos partidos deixa antever divisões claras, embora o aumento dos impostos não pareça solução que alguém queira arriscar como cavalo de batalha.
Nesse caso, a contenção da despesa pública terá que passar obrigatoriamente pelo reforço da máquina do Estado em termos de combate à evasão fiscal (a preferência do Bloco, por exemplo) e pelo sempre polémico congelamento dos aumentos salariais (que o PCP nunca admitirá como opção, por exemplo também).
A gaita no meio disto tudo é que o nim, a solução de compromisso que possa viabilizar um acordo que não dê cabo da estabilidade governativa, implicará o agravamento inexorável do estado (já deplorável) da nossa Economia.
E neste dilema, como noutros, e respectivas escolhas pode mesmo jogar-se a viabilidade económica do país no seu todo num futuro muito próximo e o afundamento definitivo numa cauda da Europa que com a entrada dos países de leste na corrida se torna cada vez mais comprida e distante da cabeça da (mais que certa) futura federação europeia.