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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

15
Dez04

MANTENHA-SE VIGILANTE!

shark
so jesus salva.jpg

Preparava-me para tomar um duche e o Futebol Clube do Porto preparava-se para se sagrar campeão mundial pela segunda vez. Nóque, nóque!
Confesso que não é costume baterem-me à porta nos domingos de manhã. Quem o faz arrisca-se a enfrentar a fúria do tubarão. Vesti qualquer coisa à pressa e abri a porta com ar de quem acabou de sair da cama e não está com disposição para socializar. Deparei-me com uma gaiata, adolescente, vestida à anos 50, mais o pai, um invisual cinquentão.
O protesto morreu na minha garganta e acabei por balbuciar um fáchavôr de dizer.
E eles disseram. Com a eficácia de dois chineses praticantes de pingue-pongue em alta competição. O pai afirmava, a filha folheava a Bíblia durante cinco segundos e recitava o trecho da confirmação.
Eu insistia na minha firmeza agnóstica e a dupla contrapunha sem hesitar. O pai afirmava e a filha zás! E eu olhava alternadamente para um ou para outro, apoiado na porta entreaberta. O Porto falhava uma grande penalidade, era o que me parecia, do pouco que captava do ruído de fundo da televisão, ao longe na sala.
O pai, compenetrado, utilizava a minha argumentação como um judoca. Cada vez que me era concedida a palavra, o efeito bumerangue estava lá para me arrepender. Aliás, o meu arrependimento parecia o objectivo último daquela dupla disciplinada. Um apocalipse ao virar da esquina e a salvação oferecida à minha porta, em versão familiar, mais uma revista gratuita para consolidar a argumentação.
Medonha, a revista Mantenha-se Vigiante!. Na ortografia (desastrosa) e sobretudo na intimidação dos pecadores da grande Babilónia. Como eu, agnóstico confesso, punido à porta de casa com o sermão enfatizado em altos berros pela eucaristia televisiva da vizinha muito católica de cima, um ritual de fé a que já me habituei como ao apito do despertador.
As únicas testemunhas do meu martírio, que deixa de haver vizinhos em casa quando algum otário se deixa caçar, eram o pai e a filha, transbordantes de satisfação por outro passo significativo rumo ao Paraíso de Jeová. E eu cada vez menos convicto do meu lugar cativo no Céu, com a cidade do Porto a festejar a tremenda vitória a que não pude assistir e o meu Benfica goleado pelo Belenenses, sem apelo, para complementar. Mais a ameaça do extermínio (quase) total do Mundo às mãos dos anjos vingadores e de um Jesus Cristo regressado com muito mau humor, tudo bem claro no panfleto em brasileirês. Mais a música sacra da vizinha, banda sonora do meu purgatório dominical.
Nosso Senhor que me castigou algum defeito me encontrou...

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