LÁBIOS DE CETIM
O gigantesco retrato de uma pessoa austera do passado, talvez um bisavô, dominava o ambiente na entrada faustosa para a casa daquela mulher sem nada de conservador.
Percorreram em silêncio o imenso corredor que conduzia aos aposentos onde nada haveria mais a dizer, ele com os olhos em deambulação pelos sinais de abastança que o surpreendia por contrastar com a simplicidade elegante dela que, sorriso nos lábios, quase o arrastava na direcção do quarto a que chamava seu.
A porta, pesada, parecia destinada a isolá-los do mundo exterior naquele espaço que tanto destoava do resto que ele conseguira ver ao longo da caminhada para o leito onde ela não tardou a tombá-lo com o peso do corpo que o abraçou com vigor.
Estavam ali para fazer amor, como ele o definira num momento de encanto à luz dos castiçais e de uma lareira onde antes se assavam javalis.
Ela sorrira, enigmática, e depois sussurrara-lhe ao ouvido qualquer coisa que ele não percebera mas que acabava na palavra foder. Não tardariam a percorrer a distância que os separava da cama que ela ansiava e ele quase parecia querer adiar com tanto prurido e pudor.
Despiu-o, agarrou-lho e enfiou-o em si com a urgência de uma diabética em busca de insulina. Depois tombou-o sobre a cama e deixou-se escorregar por aquele ferro em brasa como o sentia e não parou de gritar porque se vinha de cada vez que descia e ele quase enlouquecia para aguentar um pouco mais e agarrava-se às mamas dela como tábuas para uma salvação que afinal o perdeu.
E ela não se aborreceu, satisfeita, e arrastou-o para a cama desfeita com ganas de o reanimar e logo lhe indicou com o olhar o rumo traçado para os seus lábios de cetim.