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Dez05
OLIVEIRINHA DA SERRA (reposta)
shark
O meu primeiro contacto com a pornografia, através de uma revista da especialidade obtida por um colega, aos treze anos, foi um momento de grande alegria, quase uma revelação.
Pela primeira vez eu pude constatar a viabilidade de algumas das minhas mais arrojadas fantasias, até essa altura tão líricas como a hipótese de vir a ser capitão da selecção nacional de futebol. Uma coisa é a gente ouvir dizer da boca de putos como nós, ouvirmos falar das piruetas possíveis a três ou da feliz parceria de números tão insuspeitos como o seis ou o nove. Outra coisa era ver como São Tomé e acreditar tanto que a vontade intensa de experimentar as acrobacias até nos fazia doer a alma.
A pornografia representava para mim um manancial de novas técnicas, associado à reprodução mais ou menos realista de alguns conceitos missionários tradicionais. Nada me entusiasmavam alguns dos seus tiques clássicos de abertura ou dos rituais excessivos e insistentes no encerramento das actuações. O meu objectivo consistia em reter, do muito e diversificado material hardcore que passei a coleccionar, as práticas realistas que pudessem alargar os meus horizontes no futuro e afastar, da minha vida sexual ainda em fase de estreia, o papão horrendo da monotonia.
De entre as mais escabrosas ou surpreendentes produções que o mundo XXX me facultou retive sempre um manual que lamento ter-se perdido no decorrer de alguma rusga maternal. Datado do início da década de setenta, o livro combinava textos com ilustrações mas só estas últimas podiam considerar-se pornográficas. Era mesmo um manual de competência técnica, um verdadeiro sex for dummies.
Algum Zézé Camarinha cámone com jeito para a escrita e vocação para consultor, do qual nem o título da obra me ficou, deixou-me para sempre na ideia e na lembrança um exercício que, na minha lógica adolescente da época, fazia todo o sentido levar a sério.
De resto, o autor afirmava-se feliz por poder partilhar o seu método com o mundo e fazia-o com tal convicção que, apesar de não me converter a algumas contorções manhosas, convenceu-me a adoptar o treino das azeitonas.
O treino consistia em girar diariamente uma azeitona entre os dentes, com a língua, por cerca de meia hora, sem a descascar ao longo do exercício. Também dava para fazer com uvas, mas só numa fase mais adiantada do programa (devido à maior fragilidade da respectiva casca). E o experimentado (e, nas suas palavras, bem sucedido) atleta de alcova explicava, por a mais b, os proveitos que resultavam dessa pachorra shaolin, a subida em flecha da cotação de um amante rotinado na arte de bem rodar uma azeitona sem lhe danificar a pele.
Hoje já me resta pouca paciência para a pornografia, até porque as melhores e mais adequadas práticas aprendem-se no mundo real. Mesmo as inovações encontram na pornografia alguma resistência, pois os empresários do ramo parecem determinados em manter a receita (ainda hoje) ganhadora. Apesar de não ser um entusiasta do género nesta fase da minha progressão na aprendizagem, gostava que os putos de agora tivessem acesso a qualquer coisa que equivalesse ao meu manual de treino com azeitonas. Porque nem todos conseguem compreender que a pornografia não deve ser levada demasiado a sério e isso, manifestamente, gera desvios comportamentais pouco saudáveis e que o meu mestre azeitoneiro jamais recomendaria.