A POSTA GANHA
Tentou não a acordar com os seus passos pelo pequeno hall de entrada.
Descobriu-a sobre a cama, pousada a beleza ela própria em repouso no corpo adormecido daquela mulher.
Os reflexos na pele dos pedacinhos de sol que as persianas permitiam, aos olhos que a viam serena no leito, o corpo mesmo a jeito para um momento a dois.
O contorno perfeito da silhueta de um peito desenhado pela luz na tela enrugada de um simples lençol.
Arte à solta naquela tarde louca começada ao toque de um beijo que a protagonista do seu desejo não fez menção de rejeitar. E ao outro que se seguiu. Os olhos que abriu, num doce despertar, e a boca que sorriu para o rosto que se afastava aos beijos do seu.
O caminho que ele percorreu, com os lábios e as mãos, corpo abaixo até ao ventre e a fúria residente a rugir dentro da mulher a tremer, a surpresa implícita deixada para lidar depois, o percurso que ele desceu sulcando a pele com a barba mal feita como um arado na terra a estimula para depois acolher sem reservas a futura colheita daquele semear.
Uma língua de fogo a traçar o rumo, os poros abertos para soltar o fumo que afinal é o vapor libertado quando fazem amor no quarto ao lado do das pessoas que não conseguem dormir porque aquele sexo se faz ouvir à altura da sua intensidade, dois corpos com inteira liberdade para o prazer.
O amor como deve ser, descontrolado, na cama ou no rosto beijado na lembrança durante cada ausência que a vida lhes imponha.
O sexo que se faz como se sonha, apaixonado, e depois talvez um cigarro fumado durante o deleite da contemplação.
Tentou não a acordar quando saiu, beijou-lhe a mão e deixou-a na cama em repouso, sentindo-se já nesse instante ansioso pelo encontro seguinte, por uma nova oportunidade de progresso na relação embrionária que o deixava voraz.
E sorriu quando a vontade do regresso, incendiária, o levou a voltar atrás…