26
Jan09
A POSTA NUM TEMPO AINDA MELHOR
shark
Histórias do tempo que gastamos nesta vida que passamos a adiar quase tudo o que concluímos depois já não ser possível então.
Memórias de um momento em que decidimos ser agora que está na hora de ultrapassar as barreiras que nos incutem as asneiras ensinadas por gente condicionada pela palavra não.
Um tempo bem vivido quando percebemos ter sucumbido o preconceito até então mantido pelo respeito ao que o passado nos ensinou mas o presente se encarrega de desmentir. O futuro que só encaramos a sorrir quando não nos sentimos prisioneiros de moralistas e de sinaleiros amadores, tão convictos de que é o seu o único caminho acertado nos amores a percorrer. O rebanho que se perfila para obedecer, infeliz a maioria, a falta que lhe fazia a coragem necessária para forçar o destino nas poucas oportunidades concedidas para mudarmos nas nossas vidas aquilo que sentimos como uma permanente agressão interior, o grilhão tradicional.
A vontade de abraçar o amor prioritário, irracional, esse antídoto necessário contra a doença que se revela na progressiva indiferença perante aquilo que o dia seguinte nos possa trazer. A verdade para desfazer a desconfiança em mil pedaços de raciocínios deformados pelas suspeitas de papel. A necessidade compulsiva de abandonar o redondel que é a arena onde imolamos muito daquilo que somos em prol de um fenómeno discutível a que chamamos integração.
O grito insubordinado do coração quando nos arrasta para a revolta apaixonada contra pressupostos e convenções, a vitória das emoções primordiais sobre os medos viscerais desses alarmes que ecoam quando violamos alguma regra ou tradição.
Histórias do tempo de dizer não ao que sentimos incorrecto por sabermos insuspeito qualquer tipo de amor espontâneo, tão raro por não ser mais um sucedâneo com o qual se entretêm as vítimas voluntárias da chacina emocional produzida por um único mal que é o da mentira a prevalecer. A traição que acaba por desfazer os sonhos da cor das rosas de príncipes perfeitos e princesas formosas que existem apenas no imaginário popular. O amor que não se permite catalogar em determinados cacifos identificados por etiquetas a tal ponto obsoletas que a realidade ameaça soltar uma gargalhada quando enfrentamos o espelho e percebemos que aquele velho já não dispõe do tempo necessário para sonhar. Já não consegue voltar uns anos atrás e emendar aquele erro que se faz quando viramos a cara à paixão.
Memórias de um momento em que decidimos arriscar contra tudo o que seria de esperar nos preceitos que nos vestem algum tipo de pele que a sociedade não desdenhe se posta a nu. O tempo de aceitar que o amor tem sempre um lugar que é o seu nesta vida cuja terra prometida não pode ser conquistada amanhã ou depois.
O tempo vivido a dois.
O tempo partilhado, imperioso, num pedaço de vida marginal a tudo quanto lhe possa beliscar a legitimidade total à luz daquilo a que só pelo amor são obtidas (como só a ele são devidas) quaisquer explicações.