Às vezes dou comigo a olhar o céu e a primeira coisa que me vem à ideia é perceber se esse céu está bonito o bastante para o fotografar. Não porque passe o tempo livre a ver as fotos que tiro ou as imprima sequer, mas apenas porque quando vejo algo que me pareça susceptível de vos agradar tento captar a imagem para a partilhar convosco aqui.
Com os textos que escrevo passa-se o mesmo. É-me difícil por vezes escrever noutro formato que não o de uma posta e até pensar os temas sem os avaliar nesse prisma.
Neste tique que vos confesso, bem capaz de me expor como um bloguista viciado, resume-se aquilo que me move neste espaço que vos ofereço sem mais pedir em troca do que o vosso agrado, ou qualquer outra reacção, eventualmente registado na caixa de comentários que mantenho aberta.
É óbvio que a minha forma de blogar tem os dias contados e a crueza dos números confirma-o, não deixando margem de manobra para que o talento (que alguns me imputam mas os factos não me permitem assumir) constitua tábua de salvação para este Charquinho que, já o disse, deixará de existir logo que eu perceba que estou a monologar num espaço público (o que, como todos sabemos, é fazer figura de maluquinho).
Contudo, apesar de eu conseguir adivinhar ou pelo menos palpitar um futuro que não inclui os blogues de “amadores”, pessoais, intimistas, e que não acompanham as imposições do progresso tecnológico, das tendências de “consumo”, os feeds, os you tubes, os acrescentos e acertos que transformam aos poucos os blogues em sites comuns (só falta desaparecerem as caixas), apesar de eu antever um futuro que me exclui nestes moldes e que até a realidade dos contadores confirma não consigo encontrar motivação para a necessária mudança.
Em teoria deveriam prevalecer os blogues melhores, os mais bem escritos, os mais dinâmicos, os mais interessantes, os mais bonitos e tudo mais. Mas também em teoria as novelas e os reality shows não deveriam ser os programas televisivos com maiores audiências (a mesma medição do nosso “sucesso”), nem havia tanta procura para o Correio da Manhã ou o Eu Carolina por comparação com outras publicações reconhecidamente melhores.
E aqui não enveredem pelo caminho fácil de me presumirem convicto da “traição” que esta constatação me possa soar, tão bom que eu sou. Tenho olhos na cara e reconheço em imensos/as uma capacidade que se expressa em obra muito superior à que consigo produzir.
Porém, muitos desses estão abandonados ou perto. Parados no tempo por falta de interesse de quem os fazia para ninguém querer saber. E outros, sem ponta por onde se pegue, pululam alegremente na sua popularidade legitimada pela respectiva frequência.
As coisas são mesmo assim e permitem aos blogueiros como eu, assumidamente atentos à evolução dos números e por isso sem tapete para as suas oscilações negativas, chutar para canto a decadência (palavra terrível, bem sei) com base no encaixe forçado numa das pretensas injustiças que acima citei.
Não o são.
As escolhas das pessoas são influenciadas por imensos factores e resta pouco espaço de manobra para que o “jeito prá coisa” constitua um factor determinante no resultado final, esse é um facto indesmentível. Mas também o é a verdade implícita na desistência dos frequentadores habituais seja do que for, a perda de interesse naquilo que antes lhes prendia a atenção. E aí só pode restar uma explicação, das duas possíveis: ou os gostos variaram (algo de perfeitamente normal) ou o interesse de quem se expõe diminuiu (algo de absolutamente corriqueiro em boa parte da blogosfera que acompanho e que aqui também reconheço).
Em ambos os casos a tal “injustiça” só existe na cabeça dos medíocres emproados ou dos mais ingénuos sonhadores.
E eu, porquanto viciado nesta cena, sonho habitualmente com coisas muito melhores…