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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

15
Nov08

A POSTA NA CARTEIRA PROFISSIONAL DE MARIONETA

shark

Já não é segredo para ninguém. Nos noticiários de televisão é obrigatória a inclusão de uma peça noticiosa acerca dos três grandes clubes portugueses de futebol. E nem interessa se existe de facto algo de novo para dizer, é mesmo um dever da redacção incluir no alinhamento uma referência qualquer a cada um dos três, Benfica, Porto e Sporting, mesmo que dela conste apenas a descrição do que aconteceu ao longo do último treino das respectivas equipas.

 
Isto é patético, qualquer que seja a perspectiva. Mesmo para quem gosta de futebol é maçador passar um terço dos noticiários a ver escalpelizada a entorse de fulano tal que pode ou não impedi-lo de disputar o importante desafio contra o FC Freixo-de-Espada-à-Cinta. Ou a ouvir a décima repetição das brilhantes declarações de um treinador que tenta apenas salvar o tacho que os resultados colocam em causa. Ou a conhecer as previsões de outro treinador quanto ao próximo encontro da treta a acontecer apenas dois ou três dias depois.
 
O desconforto desta situação sinto-o por não poder apontar o dedo a outro grupo que não ao dos jornalistas que amocham perante absurdos desta dimensão.
Custa-me a acreditar que ninguém de entre todo o pessoal que trabalha nas televisões, na redacção das mesmas e não nos departamentos de publicidade ou financeiro, consiga dar conta da vergonha que isto representa.
Ou escolhem a dedo os mais imbecis ou então temos explicada a falta de isenção a que a dependência de um ordenado mensal obriga.
E em qualquer das hipóteses estamos perante aquilo a que chamo traição com todas as letras, doa a quem doer. Traição a todos os princípios que devem pautar o ofício, sem excepção, até porque são muitas as falsidades divulgadas (e ainda mais as frivolidades) sem que alguém as questione nessa condição.
 
Sempre acreditei que abraçar o jornalismo como modo de vida implicava abdicar de muitas das garantias que se têm como certas noutras actividades profissionais. Mas em momento algum me passou pela cabeça que vender a alma, abdicar da consciência crítica ou aceitar o papel de “voz do dono” fossem sacrifícios sequer ponderáveis por quem entende a responsabilidade e o espírito de missão que envolve, por inerência, o estatuto de um jornalista.
De resto, entendo que a falta de respeito a esses pressupostos são o prenúncio do fim da credibilidade que sustenta a profissão, a sua única condição imprescindível (mais até do que o talento que já toda a gente percebeu não ser requisito fundamental).
 
À agonia do jornalismo sério fomentada por tablóides, revistas cor-de-rosa e afins soma-se agora a da cedência por parte dos que alegadamente o representam.
O fenómeno aberrante com que iniciei esta posta é por demais evidente dessa incapacidade de lutar contra o predomínio do boçal que leva alguém a empenhar tempo e recursos nas tricas de balneários em detrimento dos temas que efectivamente interessam às pessoas, mesmo que os barómetros de audiências impinjam o oposto.
 
E essa triste constatação, porquanto fonte de desalento para quem vê no jornalismo um dos bastiões de uma democracia saudável, é um garante da ascensão da blogosfera a um patamar que ninguém podia vaticinar quando a imagem desta comunidade correspondia à visão Moita Flores, estereotipada, que mais conviria a políticos, a colossos financeiros e à falange de alimárias que conferem projecção aos que deturpam se necessário a verdade (omitindo-a) para não hostilizarem os diversos poderes no controlo dos fiozinhos ao sabor dos quais estes jornalistas de fachada se movimentam.
 
É a melhor receita para que a blogosfera independente e credível ocupe um espaço em branco na Comunicação Social que as receitas “ganhadoras” de anestesia de massas acabam por fomentar com a sua crescente perda de dignidade, de brio e até de uma característica que antes orgulhava os jornalistas e hoje parece constituir um pecado mortal.
 

A da coragem que transparecia do culto de uma incómoda e arriscada mas indispensável irreverência.

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